Erika Figueiredo - Direito e Muito Mais

A pior decisão de todas

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Decidir é importante para o amadurecimento da personalidade. Foto: Karina Cruz

Desde o ano de 2019, tenho estado em uma espiral muito grande de decisões, em minha vida. Muitas das coisas pelas quais ansiei, outras que precisava solucionar, tantas mais que chegaram de forma inesperada e surpreendente, exigiram de mim firmeza e atitude, coragem e determinação.

Para mim, que sou portadora de uma fé inabalável em Deus, foi como se ele tocasse a minha cabeça, e carinhosamente dissesse: você pediu, mas não estava pronta. Agora, preciso ver se você consegue. Vamos para os treinos, e depois te coloco em campo para jogar. E assim Ele fez.

Anos produtivos, mas desafiadores. Difíceis, mas recompensadores. Anos de choro e tristeza. De alegria e vitória. Lembrei-me muito disso em uma conversa que tive ontem, com alguém muito querido e que atravessa um momento de decisões complicadas. Imediatamente, remeti-me ao livro de Jordan Peterson: Além da Ordem - Mais 12 Regras para a Vida.

No primeiro livro, o best seller 12 Regras para a Vida – Um Antídoto para o Caos, Peterson, psicólogo canadense que tornou-se mundialmente conhecido, traz estratégias para lidarmos com nossa imaturidade, bem como com a fraqueza, o ressentimento e a depressão, que assolam a sociedade moderna.

Nesse novo livro, talvez pelo delicado momento que atravessava o autor (que passou meses internado em clínicas de recuperação, para livrar-se do vício em ansiolíticos e tranquilizantes, que adquiriu após ter ciência de um câncer terminal, que acometeu sua esposa), seu tom é bastante pessoal, quase confessional, e nos faz refletir a fundo sobre nossa personalidade e as nossas escolhas.

Na sétima regra, Peterson encerra um dos capítulos dizendo que “a pior decisão de todas é nenhuma”. O que ele quis dizer com isso? Bem, a capacidade de tomar decisões é algo que, me parece, entrou em desuso, em nosso tempo. Todos sentem-se continuamente sobrecarregados, oprimidos, em dúvida, ressentidos com os rumos de suas vidas e infelizes por não saírem do lugar.

Culpamos a desigualdade social, as relações furtivas, a desonestidade, a corrupção, a falta de lealdade das pessoas, o catolicismo, o comunismo, o capitalismo, o feminismo, o machismo, e tantos outros “ismos” que vamos encontrando, pelo meio do caminho. Esquecemo-nos, apenas, do mais importante: OLHARMOS PARA DENTRO DE NÓS MESMOS E VERMOS QUAL É A NOSSA CULPA.

Assumirmos a responsabilidade pelas nossas escolhas, faz com que tenhamos que admitir que, dentre vários caminhos, escolhemos seguir por um. Faz com que saiamos do lugar de vítimas da nossa história, para nos tornarmos PROTAGONISTAS. E isso tem um preço. Alto. Que precisa ser pago por nós mesmos, caso a escolha dê errado.

Arcar com o peso de nossas decisões é algo pouco incentivado, atualmente, na cultura ocidental. Afinal, em um mundo de tantas possibilidades, por que não podemos ficar em cima do muro, não decidindo agora e deixando para depois, coisas chatas e incômodas que precisam ser revistas?

Se até o bem e o mal, o certo e o errado, tem sido relativizados, por que não podemos resolver mais ou menos alguma coisa? Por que não podemos ir ali beber um vinho e não pensar nessa chatice? Por que não podemos nos entorpecer com alguma de nossas compulsões, só por hoje, e deixar as coisas importantes e complicadas para depois?

 Viktor Frankl, psiquiatra austríaco que sobreviveu ao campo de concentração nazista, tem uma frase sensacional: “quando alguém não consegue encontrar um profundo senso de sentido, distrai-se com prazer”.

E é exatamente isso que temos visto por aqui. A falta de capacidade de eleger prioridades, encontrar um propósito de vida ou tomar decisões que nos impulsionem, levará a uma busca por prazeres fugazes, desconectados do sentido real da nossa existência. Uma vida que desembocará em vazio e caos.

Decidir é importante para o amadurecimento da personalidade. É necessário para impulsionar-nos a um local melhor, do que este em que nos encontramos. É vital para o autoconhecimento e a evolução do indivíduo. É essencial para que o fracasso não nos ronde, sem cessar.

A cada vez que deixamos para lá, nos vitimizamos, colocamos a culpa nos outros ou na sociedade, ou seja lá no que for, deixamos de contactar a nossa responsabilidade naquele evento, e de exercitar nossa capacidade de superação e de transformação da realidade.

Decidir pode ser terrivelmente doloroso e difícil, mas é absolutamente necessário, caso desejemos avançar, em busca do REAL SENTIDO DE NOSSAS VIDAS e do AMADURECIMENTO DA NOSSA PERSONALIDADE.

Vejo tanta gente absolutamente confusa e sem direção, rodando em círculos em torno de problemas que poderiam ser resolvidos com maior brevidade, amenizando, assim, sofrimentos e frustrações... não decidir é viver carregando um cemitério na cabeça, como dizia uma música do Biquini Cavadão, chamada Impossível.

Nessa música, também há uma frase que adoro: “tudo que viceja, também pode agonizar”. É imprescindível, portanto, perceber, também, quando chega a hora de abandonar PADRÕES DE COMPORTAMENTO, RELACIONAMENTOS, PESSOAS, EMPREGOS, SONHOS, PROJETOS, EMOÇÕES. Há coisas que apenas nos impulsionam para o abismo. Buscar reviver o momento em que vicejavam, agora que agonizam, somente aumentará a dor e o ressentimento.

Portanto, minha mensagem para vocês, nesse maravilhoso mês de dezembro, em que celebramos o nascimento daquele que decidiu morrer por nós, e mudou os rumos da Humanidade, é: DECIDAM. Mesmo que incomode. Doa. Sangre. Vai passar. O importante, nessa vida, é não parar de caminhar.

“Mas antes que eu me esqueça,

antes que tudo se acabe,

eu preciso, eu preciso dizer a verdade”.

Biquini Cavadão – Impossível.

DIGA A VERDADE PARA VOCÊ MESMO.

Erika Figueiredo - Direito e Muito Mais

Erika Figueiredo - Direito e Muito Mais

A niteroiense Erika da Rocha Figueiredo é escritora, promotora de justiça criminal, mestre em ciências penais e criminologia e membro da Escola de Altos Estudos em Ciências Criminais e do MP Pro Sociedade.

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