Reflexão
Despedidas, como lidar com elas?
O processo de paciência, organização e transformação
Passamos a vida nos despedindo. Seja de pessoas, coisas, lugares, comportamentos, sentimentos, sonhos, bichos… Na verdade, vamos seguindo e escolhendo, eliminando, perdendo, encontrando…
Faz parte do ciclo da existência dos humanos. O homem é o único ser vivo que pode fazer escolhas baseadas na racionalidade, e não no instinto. Justamente por poder refletir sobre o que deseja, vive pequenos lutos, já que cada uma dessas escolhas gera uma renúncia.
No momento presente, eu estou atravessando um deserto de grandes despedidas. Meus dois filhos foram viver fora: um de modo definitivo, o outro por um ano. Um já casado, com planos e sonhos de uma vida nova. O outro, em um projeto de intercâmbio. Ambos com novas portas abertas, muitas expectativas e um mundo inteiro se descortinando.
É fácil? Claro que não. Estou muito introspectiva, sentindo a falta deles, buscando encontrar um papel para mim, já que, por 25 anos, não tomei decisão alguma, que não incluísse os dois. Fica um vazio esquisito na casa, uma sensação estranha, como se estivéssemos esquecendo de fazer algo muito importante. Na verdade, rearranjar isso tudo leva tempo, e eu estou aprendendo a esperar o tempo passar.
Um pouco antes dessas despedidas que aconteceram agora, fiz algumas rupturas bem fundamentais, que modificaram minha trajetória, a partir de 2019. Comecei a ter plena consciência da importância das despedidas, ali.
A vida é assim: devemos – precisamos – estar em constante evolução, reorganizando-nos por dentro, para podermos arrumar o lado de fora"
Arrumando a bagunça
Quer mudar o mundo? Comece pela sua casa e por sua família. É dentro de nós que se encontram muitas das respostas, assim como é só nossa, a capacidade de mudar o que não está bom. Não adianta sairmos em guerra por aí, quando tudo por dentro está uma bagunça, e não conseguimos valorizar o que é prioritário.
Por isso a virtude da ordem é tão importante: ela nos auxilia a priorizarmos o que realmente importa, para que nos sobre tempo para pensar, estudar, organizar, modificar, observar, sentir, avaliar, agir. A partir do momento em que colocamos tudo em seus devidos lugares, vamos abrindo espaço para novas coisas, percebendo o que não nos serve mais, despachando o que ficou desnecessário.
Com essa ida dos meus filhos, também me pus em processo de mudança (de casa e de vida). Resolvi me aposentar, focar em novas atividades, respirar outros ares... Toda mudança gera movimento, e todo movimento gera novidades. É o curso natural das coisas.
Organizar para transformar
As consequências das nossas escolhas, muitas vezes, só teremos condições de avaliar tempos depois. Tudo precisa amadurecer, dar frutos, para que possamos constatar os resultados. Para isso, também é preciso ter paciência, ao longo do processo. Não há como antecipar certos efeitos.
Desse modo, é preciso se organizar para transformar (a si mesmo e ao entorno) e, logo após, ter calma para aguardar os resultados. Se soubéssemos contemplar a sabedoria da natureza, as estações do ano e todos esses ciclos da terra, das flores e dos frutos, seriamos capazes de compreender que o movimento do universo é um só, e ele rege tudo.
Nós somos muito insignificantes, embora sempre nos tenhamos em alta conta (risos). Pobres de nós... sabemos tão pouco! Eu não sei o que a minha vida me reserva ali na frente, muito embora esteja planejando, cuidadosamente, alguns dos meus passos. O acaso, o destino, o desígnio de Deus — seja lá como você chamar — acontecerá, independentemente da sua vontade.
Como diz o ditado popular, nós tecemos os planos, enquanto Deus ri. Confio Nele e no que está reservando para mim, em uma dessas reviravoltas inesperadas que a vida sempre dá. Que sejamos maduros o suficiente, para lidar com as inevitáveis despedidas que vamos tendo que fazer, encontrando graça, beleza e alegria, nos desdobramentos.
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