Opinião

Lições da Copa para o Brasil

O futebol é como a vida: uma hora vencemos, em outra perdemos

Que possamos agora, após tantos feriados, farras e festas, nos ocupar com o que realmente importa, focando em nossas vidas
Que possamos agora, após tantos feriados, farras e festas, nos ocupar com o que realmente importa, focando em nossas vidas |  Foto: Karina Cruz
 

Muitos brasileiros ficaram tristes, com a derrota do Brasil para a Croácia, e a consequente eliminação da Copa do Mundo, na última sexta feira. O nosso povo tem uma ligação profunda e antiga com o futebol, colocando o coração no campo, junto com os jogadores.  

Eu preciso, entretanto, dizer, que quando soube que jogaríamos contra a seleção croata, imaginei uma possível derrota. Mas como? Depois de uma goleada de quatro a um, no jogo anterior? Bem, eu posso explicar.  

A Croácia é um país que sofreu sob o jugo da guerra, precisando exercitar a coragem, a resiliência, a perseverança, a força, a determinação e a superação das adversidades, em muitos momentos cruciais. 

Em setembro de 1991, forças federais iugoslavas invadiram a Croácia,  dando início a uma guerra, que se arrastaria por quatro longos anos. A Croácia buscava sua independência da República Iugoslava,  e isso não seria algo fácil de se conquistar.  

Paramilitares sérvios aliaram -se a esse exército iugoslavo, e em dezembro de 1991, um terço do território croata já estava dominado. Essa invasão perdurou até 1995, e os horrores desta guerra mataram 20 mil pessoas, deixando 400 mil desabrigadas.  

Foi o confronto mais sangrento havido na Europa, desde a segunda guerra mundial, levando à dissolução da República Federal Socialista da Iugoslávia, com a independência, também, da Bósnia-Herzegovina e a revelação das atrocidades praticadas pela Sérvia, nesta guerra.  

Somente em 1995, a Croácia recuperou a maior parte de seu território, ocupado pelos sérvios, partindo, em seguida, para a ofensiva contra os sérvios na Bósnia, com o apoio da OTAN. Os croatas passaram fome, sede, frio, por quatro anos, emergindo deste conflito sem saber, sequer,  qual seria o seu futuro, como nação.  

Narrei toda essa tragédia, a fim de demonstrar o seguinte: o povo croata precisou exercitar as quatro virtudes cardeais, durante muito tempo, para sobreviver a tantos ataques: justiça, prudência, fortaleza e temperança foram fundamentais, durante o período da guerra e, posteriormente, o da reconstrução.  

Infelizmente, falta isso ao brasileiro. Não atravessamos uma guerra, o que faz muita falta, para forjar coragem e determinação, no enfrentamento de dificuldades. Não aprimoramos as virtudes. Não aprendemos a manter a calma e a frieza, em momentos cruciais. Não precisamos abrir mão de nossos prazeres e diversões, em prol de algo muito maior: a vida e a liberdade.  

No país do samba, da cerveja, do carnaval e do futebol, posso dizer, sem sombra de dúvida, que somos um povo hedonista, que persegue o prazer e a felicidade, a qualquer preço. Somos motivo de chacota no exterior, por conta dessa nossa postura, de parar tudo para assistir ao futebol, decretando feriado nacional, nos dias de jogo do Brasil na Copa. Isso é inimaginável, em países desenvolvidos.  

O aprimoramento das quatro virtudes nos fez falta, nas quartas de final. Os jogadores, orientados por um técnico arrogante, dissociado da realidade e vaidoso ao extremo, não conseguiram exercitar, em um jogo duro, de placar empatado na prorrogação e fadado aos pênaltis, o equilíbrio (temperança), o foco e a concentração (prudência), a liderança e a calma na adversidade (fortaleza) e o desejo de fazer o certo (justiça), o que tornou-se decisivo, para sua derrota.  

Um líder, um verdadeiro comandante, precisa saber conduzir o barco e seus marinheiros, em uma tempestade. Fazer escolhas acertadas, passar confiança, demonstrar a importância e incentivar o espírito de equipe, dar coragem a seus comandados, é o papel de um bom técnico. E Tite não foi capaz disso, por não possuir a personalidade e o temperamento aprimorados, para tal tarefa. 

Mas, sobretudo, a eterna perseguição do hexacampeonato, o rótulo de nação do futebol e a busca desenfreada pelo título de melhores do mundo, inebriou nossos jogadores, cegando-lhes, em vários aspectos, para os perigos do caminho, e para a necessidade do equilíbrio emocional e do amadurecimento da personalidade, para enfrentá-los. 

O futebol é como a vida: uma hora vencemos, em outra somos derrotados, mas o mais importante é como lidaremos com isso, ao longo do caminho. Em competições em equipe, há a necessidade de harmonia, assim como, em uma orquestra, todos os músicos precisam estar com os instrumentos afinados, as melodias bem ensaiadas e o espírito de corpo.  

Ao saber que o Brasil enfrentaria uma seleção como a Croácia, cujo povo foi forjado a ferro e fogo, a sangue, suor e lágrimas, lembrei-me dessa máxima sempre repetida por aqui, de que “ao Brasil, faltou uma guerra, que forjasse o caráter de seu povo”. Isso faz toda a diferença, na hora da dificuldade.  

Que possamos agora, após tantos feriados, farras e festas, nos ocupar com o que realmente importa, focando em nossas vidas, no futuro de nossa nação, na proximidade do Natal e do nascimento de Jesus, e em todas as grandes emoções que norteiam esse momento. 

Quanto ao treinador, que abandonou seu time em campo, refugiando-se no vestiário, apenas posso dizer que, infelizmente, o Brasil ainda tem muito a aprender, sobre honra e virtude. 

Na guerra entre o bem e o mal , na qual a Humanidade está mergulhada, personalidades e comportamentos revelam-se, cabendo a nós, numa análise mais atenta, a compreensão dos fatos e dos sinais que se revelam, diariamente, na realidade.  

Aos interessados, estão disponíveis, online, no Instituto Burke, os meus cursos sobre As Virtudes Cardeais e os 4 Temperamentos Humanos. 

Erika Figueiredo - Filosofia de Vida

Erika Figueiredo - Filosofia de Vida

A niteroiense Erika Rocha Figueiredo é escritora, professora e promotora de justiça

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