Série
Succession: uma reflexão sobre poder e dinheiro
Produção está disponível pelo canal de streaming HBO MAX
Esse meu final de semana foi dedicado a assistir a essa série, disponível no HBO, que me tirou o fôlego e o sono. Em sua quarta temporada, Succession traz tudo que se atrai o espectador, de uma vez só: intriga, traição, assassinato, jogos de poder, brigas familiares, romances sórdidos, dinheiro, drogas e solidão. Uma mistura bombástica, que acontece no seio da família Roy.
Logan Roy é um magnata metacapitalista irlandês, residente nos EUA, com sede de poder e nenhum escrúpulo para conseguir o que deseja. Tem 4 filhos – Kendall, Roman, Siobahn e Connor, com os quais faz um jogo perverso e sádico, desde a infância, acerca de qual deles seria seu preferido, qual seria “o escolhido”, em seu coração e no controle de suas empresas.
A série aborda um momento familiar em que a sucessão de Logan é discutida, e os piores instintos afloram, em todos os envolvidos. Kendall é, aparentemente, o sucessor natural do pai, pois sempre gravitou em torno deste, trabalhando em seu conglomerado de empresas, que envolve redes de tv, parques de diversões, empresas de cruzeiros e até uma produtora de cinema.
CONTÉM SPOILER
No entanto, é um filho com estrutura emocional frágil, que tem um histórico de vício em drogas e uma necessidade infinita de aprovação, por parte do pai, Logan, por sua vez, trata Kendall com desprezo, agressividade, descaso e desconfiança, fazendo com que o mesmo só afunde, cada vez mais, em seu complexo de inferioridade.
Kendall foi casado com Rava, que o deixou por conta de sua personalidade instável e do consumo de drogas, e tem com esta dois filhos, que são criados como se fossem de cristal e pudessem quebrar-se, ao primeiro toque. Aqui, o despreparo dos pais impacta, diretamente, a criação das crianças. Rava também faz um jogo com Kendall, no qual o seduz e depois o repele, e o ex-casal encontra-se em uma disputa judicial, pelo divórcio.
Connor é o mais velho, e decidiu morar em uma fazenda no Novo México, vivendo apenas do rendimento das ações das empresas de seu pai (os quatro filhos foram contemplados com ações). Não trabalha, namora uma ex-garota de programa que só está com ele por dinheiro e tenta, desesperadamente, mostrar ao pai que é inteligente, tem boas ideias e pode “mudar o mundo com sua visão”. Ao final da primeira temporada, acalenta o sonho de ser presidente dos EUA.
Roman é um caso à parte. Metrossexual, drogado, alienado da realidade, trabalhava com cinema, até o pai colocá-lo para trabalhar na sede da empresa, como diretor de operações. Sai com muitas mulheres, mas não consegue desenvolver intimidade, perde o interesse por sexo e masturba-se compulsivamente. Não gosta do que faz, sai todas as noites, investe muito em aparência, gratificando-se com a imagem que passa, para suprir seu buraco emocional.
Siobahn é a única filha mulher. Na primeira temporada, está prestes a casar-se com Tom, executivo da empresa de seu pai, com quem tem uma relação de dominação, e a quem não respeita. Mimada, sedutora, manipuladora e controladora, a “filhinha do papai” trabalha em Washington, incensando carreiras de políticos que desejam chegar ao Senado. Tem um caso com Nate, com quem trabalha na campanha de um senador que é opositor ferrenho de seu pai.
Família
Em uma família disfuncional, na qual só se perseguem status e poder, que vêm no combo com dinheiro e sucesso, os eventos se sucedem e os resultados não são os melhores... o quarteto de irmãos não se entende, um boicota o outro o tempo todo, disputam a atenção do pai, buscando, cada qual, ser o seu preferido.
Há um passeio por temas muito caros à filosofia, como o memento mori ( hora da morte), o sentido da vida, qual legado se deixa ao partir, vícios e virtudes, valores morais... tudo isso nos é ofertado em Succession, ao analisarmos os comportamentos dos personagens.
Também fica claro que a palavra convence, mas o exemplo arrasta, à medida que cada um dos quatro filhos de Logan reproduz, à sua maneira, o comportamento ditatorial e egocêntrico do pai, que lança luz sobre o que lhe interessa mostrar, e sombreia o que pretende encobrir, ao longo dos capítulos da série, manipulando a realidade conforme lhe convém.
Lembrei-me bastante da frase do Jordan Peterson, que nos diz para arrumarmos o próprio quarto, antes de tentarmos mudar o mundo. A família Roy não consegue ter relações íntimas saudáveis, ninguém ali se entende, todos têm bloqueios afetivos fortes, comportamentos de caráter duvidoso e valores morais elásticos, mas suas decisões impactam o mundo capitalista, por conta de suas empresas do ramo da comunicação.
Por tratar-se Logan Roy de um metacapitalista americano, que maneja com habilidade as tendências da sociedade, como se estivesse em uma partida de xadrez, cujos peões são os seres humanos, tudo que se decide em sua holding, tem efeitos no mundo. Quando o patriarca sofre um derrame cerebral, fica sob o risco de não mais poder dirigir suas empresas, o que faz com que as ações despenquem, e novas estratégias precisem ser adotadas.
Começa, então, uma corrida desenfreada dos quatro filhos, em uma disputa pelo trono do pai e, sobretudo, pela supremacia nas decisões familiares. Logan fica absolutamente indignado. Afinal, construiu esse império e provê o sustento dos filhos, por meio de ações de suas empresas, nas quais todos possuem participação, e está sendo enterrado vivo, em praça pública.
Reflexão
Succession nos faz refletir sobre poder e dinheiro. Será que estes atributos trazem felicidade? A resposta pode ser a seguinte: desde que sejam utilizados para trazer conforto e facilitar a vida de quem se quer bem, eles podem, sim, tornar-nos mais felizes. Contudo, se forem perseguidos como um fim em si mesmo, poder e dinheiro apenas trarão solidão, desalento, uma vida sem sentido, vícios, frivolidades e muitos, muitos problemas.
Uma vida desprovida de sentido é uma vida desperdiçada. Uma bela semana para todos.
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