Gabriel Magalhães
Vitória de Joe Biden e os impactos no Brasil
Apesar de Joe Biden ser eleito o 46° presidente dos Estados Unidos nesse final de semana, ao ultrapassar a marca de 270 votos eleitorais, o clima ainda é de tensão, pois Trump se recusa a aceitar a vitória do democrata. O atual presidente prometeu que sua equipe vai começar a processar o caso no tribunal para 'garantir que as leis eleitorais sejam totalmente cumpridas'.
No Twitter, principal rede social utilizada pelo presidente, Trump não reconhece a derrota e diz ter maioria dos 'votos legais' apurados e chama de ilegais votos dos democratas, que foram recebidos depois do dia da eleição, 3 de novembro, enviados pelo correio. Segundo o republicano, a eleição 'está longe do fim' e que ele tem recursos legais e legítimos que podem ser usados para contestar o resultado da votação prometendo uma judicialização dos resultados.
Biden tem uma postura totalmente diferente do seu concorrente, é considerado conciliador, busca a conversa antes do conflito e pretende usar as instituições oficiais para fazer anúncios e informar decisões do governo e não as redes sociais.
Em alta
Hoje os principais mercados mundiais operam em forte alta e os investidores olham a longo prazo com foco nas principais propostas de Joe Biden para os Estados Unidos e para as relações exteriores. A combinação entre uma presidência democrata e um senado republicano limitará a capacidade do presidente eleito para fazer reformas econômicas profundas, o que deixa o mercado mais confortável em relação às mudanças que podem vir. O resultado ainda não foi consolidado, porém os republicanos estão na vantagem dos votos. A bolsa americana teve suas melhores fases durante mandatos de presidentes democratas com o congresso republicano, ou dividido, isso analisando desde 1901.
Impacto
Na economia, as propostas que mais impactam no mercado são as de aumento de impostos para empresas, dos atuais 21% para 28%; taxa mínima sobre lucros estrangeiros de 21%, o dobro dos atuais 10,5%; incentivo fiscal de até 10% para certos investimentos na produção nacional.
As relações exteriores precisam ser restauradas, como proposta estão: a restauração da associação dos EUA com a Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan); retirada da 'grande maioria' dos soldados americanos no Afeganistão e foco no combate à Al-Qaeda e Estado Islâmico; retomada do acordo nuclear com o Irã se 'o Teerã voltar a cumprir o pacto', além de uma campanha de desnuclearização da Coreia do Norte. O fim da construção do muro na fronteira com o México e reversão das políticas de imigração de Trump também são propostas.
A saúde e o meio ambiente foram pontos muito abordados por Biden, ele pretende expandir o sistema de saúde pública e retomar o programa Obamacare e investir em torno de U$$ 2 trilhões ao longo dos quatro anos do primeiro mandato, voltado principalmente para o incentivo a energias renováveis, outra proposta é o retorno ao Acordo de Paris.
Mundo
A definição do presidente da maior potência do mundo movimenta todos os mercados globais e é necessário prestarmos atenção em como serão as relações internacionais.
A China optou por não felicitar Joe Biden declarando que o resultado ainda não é conhecido. Durante o mandato de Trump, uma guerra comercial foi iniciada e foram aplicadas diversas sanções econômicas contra a China, sendo o país 'culpado', também, pela pandemia do coronavírus. Os jornais e noticiários locais, controlados pelo partido comunista chinês, concentraram suas notícias nos protestos e a crescente taxa de infecção de Covid-19 nos EUA e pouco na eleição em si, apostando em mais um declínio do poder dos EUA.
Índia, país de origem da família de Kamala Harris, primeira vice presidente mulher eleita nos Estados Unidos, tem sido um parceiro importante e isso não deve mudar com a transição da presidência. O país mais populoso do sul asiático se manterá como aliado na estratégia para conter a ascensão da China e no combate ao terrorismo. É um momento de orgulho nacional para os indianos, o fato de uma filha de uma indiana chegar à Casa Branca provocou comemorações em massa em parte do país.
A Alemanha, uma das maiores economias do mundo, comemorou o resultado. Apenas 10% dos alemães disseram confiar no presidente Trump em relação a política externa, maior impopularidade no mundo. Trump é acusado de arruinar o livre comércio e desmantelar instituições multilaterais das quais o país depende economicamente. O presidente tem uma relação ruim com a chanceler Angela Merkel, uma vez que os dois tem personalidades bem diferentes. Os Estados Unidos são o maior parceiro comercial da Alemanha e a relação entre eles é essencial para a Europa.
A Rússia ainda não se posicionou quanto à vitória de Biden, pois o país teme que a nova presidência possa trazer mais sanções e pressão. Moscou não vai querer um relacionamento ruim e provavelmente tentará construir uma relação melhor de trabalho e cooperação.
Brasil
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, ainda não se manifestou sobre o resultado das eleições americanas. Durante a campanha, Bolsonaro apoiou publicamente o atual presidente e, com a derrota, ele terá que se posicionar para manter a bom relacionamento com os EUA. Segundo o ex-embaixador dos EUA: “O Brasil está mal posicionado politicamente, é triste” e a relação com a maior potência mundial está delicada. Os investidores se preocupam com a linha ideológica do democrata por ser bem diferente do presidente brasileiro e isso pode prejudicar a relação. Contudo, por ter a comunicação interpessoal como uma das maiores habilidades, não sendo provável que aconteça atritos entre os países, caso o Brasil continue se posicionando com cooperação e não deixe as questões de meio ambiente e direitos trabalhistas de lado.
O foco da nova relação Brasil e EUA deve seguir na busca de um amplo acordo de livre comércio entre os países, algo que Bolsonaro busca desde o início do seu mandato. Recentemente, foi fechado um ATEC (sigla inglês para um Acordo de Comércio e Cooperação Econômica) que prevê a facilitação do comércio e o combate à corrupção. Outra questão que é de interesse do governo brasileiro é a entrada na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que deve ser dificultada por conta das pautas da agenda do democrata. O avanço da tecnologia é outro tema muito relevante, principalmente por conta do crescimento chinês, uma vez que o governo americano tem se esforçado para conter esse crescimento e para que a Huawei, empresa de tecnologia chinesa, não consiga participar do leilão de 5G no Brasil.
Biden manifestou preocupação com a preservação da Amazônia e chegou a considerar represálias econômicas contra o Brasil se o desmatamento não parar. Ele propôs que os países se reúnam para fornecer U$$ 20 bilhões para a preservação da região.
Gabriel Magalhães é formado em Administração pelo IBMEC, especializações em Negócios no Brasil e no Exterior, e masters em Engenharia Econômica Financeira pela UFF. Ele fala sobre as tendências do mercado financeiro e os altos e baixos da economia.
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