Jonny Salles
Reality Z e a síndrome do 'pensei que seria pior'
Coisa mais linda, 3%, Onisciente, Irmandade, Sintonia e agora Reality Z são apenas algumas das mais variadas séries originais brasileiras na Netflix que vêm dando destaque ao nosso país como um produtor de conteúdo audiovisual e aproximando as séries que sempre assistimos à nossa realidade e contextos.
A mais nova série da Netflix, feita e ambientada no Rio de Janeiro, Reality Z, traz um “quê” de déjà vu pra quem assistiu ao BBB20, já que a produção mostra uma pandemia zumbi (o que graças a Deus não ocorreu na vida real) durante um reality show, fazendo com que a casa onde os participantes estão confinados seja o lugar mais seguro em todo mundo (nesse caso, a casa do BBB era realmente o lugar mais seguro em meio a pandemia do Covid-19). O seriado de dez episódios é uma regravação da minissérie trash e inglesa Dead Set, porém traz várias adaptações para o nosso jeito brasileiro.
Apesar do destaque na Netflix e o aumento de séries e filmes nacionais na plataforma de streaming ser algo recente, não se pode esquecer que o Brasil já é conhecido no exterior pelas suas novelas, tendo algumas delas exibidas em mais de 100 países, como foi o caso de Da Cor de Pecado e Avenida Brasil, sucessos tanto nacionais quanto internacionais, como mostram o números de países que a repetiram. Porém, parece que o próprio brasileiro não olha para as suas produções com bons olhos, gerando o clássico “complexo de vira-lata”, em que tudo que é importado é melhor, enquanto o nosso é de baixa qualidade.
Calma, eu não estou falando que Reality Z é uma série excelente, uma obra prima de apocalipse zumbi que coloca The Walking Dead no chinelo, apenas que ela é...legal e consegue nos entreter, mas todos os amigos (e até mesmo eu) ,quando terminamos, pensamos a mesma coisa: “achei que seria bem pior”. Esse pensamento de “achei que seria pior” é justamente o “pré-conceito” de que se é brasileiro, não presta ou não vale a audiência e acaba afastando o próprio povo de obras que discutem esse problema, como o filme Bacurau, lançado em agosto de 2019, mas divulgado apenas em um circuito fechado de cinemas, sem ampla divulgação para o grande público.
A expressão criada por Nelson Rodrigues, “complexo de vira-lata”, por conta do trauma sofrido pelos brasileiros na Copa de 1950 (que parece ter se renovado com o 7 a 1 em 2014), está absurdamente presente na nossa sociedade, moldando nossos gostos, desde as compras feitas, viagens organizadas até uma simples série que assistimos em casa, preferindo sempre o importado do que o nacional. Por conta disso, é necessária uma verdadeira reeducação para que os brasileiros percebam as qualidades de suas produções e não deem mais o play pensando “lá vem mais uma produção ruim do Brasil”.
Obs: Diferente da versão inglesa, Reality Z possui a possibilidade de uma segunda temporada e a chance de melhorar os erros dessa primeira.
Jonny Salles é formado em Letras (Português - Literaturas) pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e aficionado pelo mundo nerd, que acompanha, debate e vivencia, seja numa roda de amigos, ou em seu canal do Youtube Geek Barba
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