Jonny Salles

UPLOAD: Uma reflexão sobre vida, morte e tecnologia

Banner da série UPLOAD. Foto: Divulgação

Selfies no Instagram, stories do cachorro brincando, desabafos no Twitter e textões no Facebook. Desde que a internet foi popularizada, cada vez mais, nós colocamos nossa vida online, ficando à vista de todos que acessam nossos perfis e tornando tudo isso em uma verdadeira memória virtual de tudo que vivemos. Mas e se além da nossa vida, fizéssemos um upload da nossa morte? Eu sei que parece mórbido, mas calma, essa é apenas a proposta de UPLOAD, a nova série original Amazon Prime.

O seriado retrata a vida (ou a morte)  em 2033, em que as pessoas possuem a opção de não morrer de fato, mas de “upar sua mente e memórias” para um servidor online e assim “viver” em uma realidade virtual, uma espécie de céu mantido por uma empresa particular e que possibilita o contato entre vivos e mortos (o conceito de armazenamento na nuvem ganha um sentido completamente novo). Claro que o clima de comédia, misturado com algumas pitadas de drama, torna tudo mais leve e engraçado, porém ela traz à tona reflexões interessantes sobre como vivemos, morremos e lidamos com isso.

O primeiro aspecto que a despretensiosa série de comédia nos faz pensar é a questão da nossa falta de aceitação da morte, mesmo ela sendo algo natural e inerente da vida. Tal pensamento já foi debatido diversas vezes, seja em livros como As Intermitências da Morte, de José Saramago, que nos mostra uma sociedade em que ninguém mais morre, ou no sétimo episódio da série de animação original Netflix Midnight Gospel, em que o protagonista bate um papo com a própria morte. Fato é que temos uma imensa dificuldade em nos despedir, querendo manter por mais tempo possível (e impossível) aquilo que deveríamos deixar partir. Afinal, o que mais impulsionaria uma sociedade de criar um serviço em que pudesse armazenar o ente querido para conversar sempre que quisesse e pudesse?

Midnight Gospel – série de animação da Netflix. Foto: Divulgação

Outra questão abordada no seriado, é o nosso uso da tecnologia e como, na maioria das vezes, usamos ela de uma forma mais exagerada do que deveríamos. Nesse aspecto, através de críticas pontuadas sobre como ficamos extremamente dependentes das redes sociais e usamos o seu avanço de forma descontrolada, Upload ganha tons de Black Mirror, usando metáforas sobre a vida após a morte para nos mostrar isso, como é o caso dos “dois giga”, pessoas que têm o plano básico na Horizen e depois que esgotam os seus créditos são literalmente congeladas até o mês seguinte, representando a falta de acesso à internet e impossibilidade de viver sem ela.

Black Mirror – seriado original Netflix debate sobre tecnologia e seus exageros. Foto: Divulgação

Upload, criada por Greg Daniels, cumpre a tarefa que foi designada a fazer, divertir o seu público ao mesmo tempo que nos coloca para refletir sobre algumas questões da nossa sociedade que diversas vezes passam despercebidas, já que nos acostumamos a elas, sendo necessário um cenário um pouco mais fantasioso, nesse caso um céu digital, para mostrar que devemos ter mais cuidado com o uso da internet (não quero parecer o seu pai quando digo isso) e compreender o papel fundamental do luto.

Obs: A segunda temporada da série já foi confirmada, mas ainda sem uma data de lançamento.

Jonny Salles - Formado em Letras (Português-Literaturas) pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Jonny Sales é aficionado pelo mundo nerd, que acompanha, debate e vivencia, seja numa roda de amigos, ou em seu canal do Youtube ‘Geek Barba’.

Publicada às 11h42

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