Pedro Chilingue
Sucesso da Eurocopa detona o 7 x 1 na Copa América. Saiba os motivos
Por que a Copa América não faz o mesmo sucesso que a Eurocopa? Há várias formas de responder essa pergunta. Disputadas simultaneamente, as competições ocupam a segunda prateleira da disputa entre países, ficando abaixo apenas da Copa do Mundo. Então por qual motivo elas não geram a mesma audiência?
Seria fácil afirmar que 'o futebol lá é melhor' e pronto. De fato, a diferença de qualidade é marcante. Mas isso não funcionaria se não fosse por uma série de fatores que cercam o ambiente dos dois torneios. E vamos listá-los aqui.
1. Qualidade técnica
Sim, é inegável. A diferença de qualidade técnica é brusca. Na Europa, mesmo os selecionáveis dos países menos tradicionais integram elencos que disputam ligas fortes e competitivas. Tirando Brasil e Argentina, é raro ver países sul-americanos exportando valores para o topo do futebol europeu. Por lá, a exigência técnica, tática e disciplinar é impecável. Há muito tempo não podemos mais basear o sucesso no futebol apenas no 'dom' e no 'talento'. Por isso, o país do futebol não vence uma Copa há quase 29 anos.
2. Público
O público é parte essencial do espetáculo. Não há discussão sobre isso. O futebol é do povo. E, desde o momento em que precisamos esvaziar nossas arquibancadas por causa da pandemia, quebrou-se parte da magia. Principalmente em disputas entre países - onde as torcidas de todos os clubes se reúnem para defender e apoiar sua pátria. É lindo ver os duelos de cantos nos estádios pela Europa. E, neste aspecto, há de se convir: ninguém faz festa como a gente. A simples presença de brasileiros, argentinos, uruguaios e peruanos já transformaria o semblante apagado da Copa América.
3. Credibilidade
O sucesso de uma franquia, nos dias atuais, passa demais por sua credibilidade. Em um mundo globalizado e um futebol cada vez mais profissional, o torcedor passa a ser cliente. E o consumidor não vai aceitar qualquer coisa. Para usufruir do produto, é preciso enxergar lisura nos processos e capacidade em montar um evento. Um exemplo disso é o Super Bowl, evento realizado na final da NFL, o futebol americano. Você pode nem curtir o esporte, mas para para assistir o espetáculo. Isto é credibilidade.
4. Organização
Não é de hoje que a Conmebol, entidade máxima do futebol sul-americano, vem tomando decisões duvidosas e questionáveis. Desde a organização de competições entre clubes, como a Copa Libertadores e a Copa Sul-Americana, até a luta dos gigantes na Copa América. A repetição cansativa, acabando com a expectativa pelo torneio ao transformá-lo em algo corriqueiro e basicamente anual, e o formato da disputa, com dois grupos de cinco seleções onde se classificam quatro, são alguns dos fatores que retiram completamente a atratividade do evento. Torna-se desgastante, insosso e, por vezes, até intragável.
5. Momento
Também não é possível ignorar o momento em que as competições acontecem. As regiões vivem panoramas completamente distintos em relação à pandemia do novo coronavírus. Enquanto diversos países europeus já se livraram do lockdown e estão retomando suas rotinas normais, a América do Sul ainda está estagnada - com destaque para o Brasil, que não consegue sequer esvaziar seus hospitais enquanto enfrenta uma CPI que investiga a compra das vacinas. Para nós, ainda é utópico imaginar um estádio de futebol com 40 mil pessoas aglomeradas e sem máscara. Infelizmente.
6. Conflito com clubes
Um princípio básico quebrado pelas confederações nacionais da América do Sul, sobretudo CBF e AFA: a falta de respeito com os clubes. O Campeonato Brasileiro segue rolando durante a disputa da Copa América - e o clube mais vitorioso do pais nas últimas três temporadas está patinando pois, naturalmente, é quem mais cedeu atletas ao técnico Tite. Para conquistar torcedores, é preciso valorizar seus clubes. É pelo seu time que o fã de esporte é apaixonado, principalmente no Brasil. Desrespeite as equipes e seja obrigado a conviver com o descaso.
7. Ídolos e referências
Por fim, a triste falta de referências no futebol sul-americano. Lionel Messi figura solitário como principal jogador do continente, mesmo deixando a desejar em conquistas com a Argentina; enquanto isso, Neymar luta contra sua própria personalidade para conseguir portar-se como um ídolo, mas ainda está longe. Na Eurocopa, cada país tem sua referência; desde os gigantes, como Cristiano Ronaldo em Portugal, Chiellini na Itália e Neuer na Alemanhã, até os emergentes de países menos tradicionais no mundo da bola, como De Bruyne na Bélgica, Lewandowski na Polônia e Modric na Croácia.
A resenha está garantida com o jornalista Pedro Chilingue, que além dos bastidores do mundo esportivo, também traz o melhor dos torneios regionais.
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