Dr. Raphael Riodades
Saúde mental na vigência do isolamento social
Tempos difíceis de manter a saúde mental, são esses passados em isolamento social.
Estima-se que o impacto na saúde mental de pessoas com pré-disposição para distúrbios psicológicos seja uma das grandes preocupações para o sistema de saúde pós-epidemia.
Notadamente, pessoas que já lidam com esses distúrbios têm maior chance de desencadear quadros de ansiedade, pânico ou depressão. Mas a mudança da rotina de toda uma população, associada a tanta insegurança, medo e quebra de expectativas, tem gerado em muitas pessoas que não experimentavam essas sensações, desagradáveis momentos.
Confusão mental, insônia, compulsões, são algumas das queixas relacionadas por várias pessoas que têm procurado os diversos canais virtuais de atendimento psicológico, que tem registrado significativo aumento de demanda nesse momento de confinamento.
Interessante observar as diferentes repercussões do isolamento nas diferentes faixas etárias.
Nos indivíduos mais jovens, crianças e adolescentes, por um lado a perda da liberdade de ir e vir, quebra das expectativas, quanto aos estudos, conquistas, relacionamentos, responsabilidades e seus afazeres. Por outro lado, a dicotomia de não mais se satisfazerem com o relacionamento virtual tão utilizado por boa parcela, quando os contatos com amigos e família tinham como instrumento mediador o smartphone, a internet e redes sociais.
Nos indivíduos da faixa etária adulta, não idosos, onde encontra-se boa parte da força de trabalho que gira a economia, a insegurança se relaciona muito com as responsabilidades de provedores da família. Os empreendedores individuais, autônomos, prestadores de serviço, pequenos e médios comerciantes ou empresários, são grande parte da mola de impulsiona o país e muitos já sobrevivem equilibrando orçamentos pouco viáveis ou convivendo com passivos difíceis de administrar.
Nesse momento, além da insegurança, convivem com o medo do futuro associado ao risco de a doença atingir suas famílias e toda a sociedade.
Neste grupo, comportamentos diferentes têm sido observados.
Alguns se mostram descrentes e ignoram medidas de contenção da pandemia, negligenciando a necessidade de controle da velocidade de disseminação antes de haver tempo de providenciar-se capacidade instalada de assistência que atenda a estimada demanda.
Outros por pânico ou por informações não qualificadas, as famosas fake news acabam exacerbando reações e medos, gerando comportamentos extremos que em nada contribuem para o controle da disseminação da doença e principalmente para sua própria saúde mental, não mantendo a racionalidade, sofrendo e aumentando a chance de distúrbios psicológicos.
Aos idosos e grupos de maior risco por condições previas predisponentes, resta como maior fator o medo. Além de todas as medidas, necessitam que os outros tenham senso de comunidade ou consciência coletiva, ou mesmo podemos chamar também de empatia. Dependem de nossas atitudes para que estejam mais protegidos e sob menor risco de perder o bem mais precioso, suas vidas.
Protejamos nossas famílias, nossos idosos e pessoas queridas.
Muitas oportunidades de mudanças virão dessa adversidade.
Que passemos a dar importância aos verdadeiros valores.
Poder e dinheiro não conseguem mais evitar mortes.
Um simples vírus, estrutura das mais rudimentares, hoje derruba toda nossa prepotência de comandar as ações e o mundo.
Um pobre e desvalido pode se contaminar em sua extrema miséria e nem apresentar sintomas enquanto o maior dos poderosos pode não ter como evitar a perda dos seus.
Aproveitemos a oportunidade e façamos mudanças para melhor.
Não negligenciemos a chance de mudar e não menosprezemos a importância de rever nossas condições, condutas, valores e necessidades.
Doutor Raphael Riodades é médico pela Universidade Federal Fluminense (UFF) com atuação em Ginecologia e Nutrologia, também especializado em Gestão de Saúde.
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