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    Representatividade

    Moradora de São Gonçalo, drag leva Niterói para reality show 'vestida' de MAC

    A 2ª temporada de Drag Race Brasil estreou nesta quinta (10)

    Publicado 11/07/2025 às 16:21 | Autor: André Silva
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    Chanel é a única representante natural do Rio de Janeiro
    Chanel é a única representante natural do Rio de Janeiro |  Foto: Péricles Cutrim

    Parecia que o MAC ia decolar de vez, mas foi parar mesmo em um reality. Representando Niterói com estilo e criatividade, a drag queen Chanel, de 22 anos, passou para a próxima etapa da segunda temporada de "Drag Race Brasil", que estreou nesta quinta-feira (10). Com um visual inspirado na icônica 'obra de arte' de Oscar Niemeyer, ela não só garantiu sua vaga no programa como também chamou atenção pela representatividade de sua cidade natal.

    É com orgulho e brilho nos olhos, literalmente, que Chanel, nome artístico de Nala Cabral, se tornou a única participante natural de Niterói e do estado do Rio de Janeiro na edição deste ano. A drag, nascida em Santa Rosa, Zona Sul da cidade, e moradora de São Gonçalo, apareceu no programa usando um look que faz referência direta ao museu projetado por Oscar Niemeyer. E se engana quem pensa que foi só por estética. Tem história aí.

    "Esse look é meu sonho de fazê-lo, muito antes de calcular que a relação com a cidade ia estar presente. É um look que fala sobre mim, sobre a minha vida. Eu cresci fazendo churrasco na praia de Charitas, vendo o MAC de longe e pensando: ‘Deus, uma nave espacial’", contou, rindo. "Essa nave da minha infância tá agora no programa".

    A concepção do figurino foi toda desenhada por Chanel, que já tinha o projeto guardado desde 2021. Mas para tirar o croqui do papel e transformar em roupa, ela contou com o talento da drag e artista visual Gui Mauad, da Tijuca, Zona Norte do Rio, que assinou a construção do look.


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    É uma mistura de tudo que é importante pra mim: tem o museu, tem Grace Jones, tem a Diamante Branco do Steven Universo. É Niterói, mas também sou eu
    Chanel Drag Queen
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    A drag, que começou a se montar ainda no colégio, aos 14 anos, enquanto era aluna do Pedro II de Niterói, hoje cursa Produção Cultural na Universidade Federal Fluminense (UFF). Sua trajetória no cenário carioca de arte drag começou a ganhar força a partir de 2022, com títulos em eventos como o Drag Star e o Drag Sunset, e uma crescente presença nas redes sociais.

    A ideia de representar Niterói com um visual inspirado no MAC não veio do nada. Ela já tinha tudo na cabeça, e no caderno, desde 2021. “Quando eu vi que outras versões internacionais de Drag Race sempre traziam uma passarela sobre raízes e cidade natal, pensei: ‘Preciso levar Niterói’. E, de todas as referências possíveis, o MAC era a mais icônica”, falou ao ENFOCO.

    Estar no programa é também uma chance de levar a cultura da cidade além dos muros, ou melhor, além da Baía. E, quando o assunto é representar Niterói para o Brasil e o mundo, Chanel lembra de outro nome que também levou a cidade consigo por onde passou: Paulo Gustavo.

    Fazer drag no Brasil é muito caro

    “Acho difícil encontrar um lugar que o Paulo Gustavo não tenha chegado, mas Drag Race atinge outro segmento. Vai ser dublado e legendado para mais de 12 países. É outro público, e mostra que Niterói tem muito mais a oferecer. Tem eu, a Mc Carol e teve o Paulo... o que não falta é gente de Niterói pra entregar trabalho de qualidade”, lembrou Chanel.

    Com a família, o clima é de torcida organizada. “Minha família é um grande fã clube. Já estão organizando um ‘watch party’ na casa da minha avó pra assistir tudo junto. Vai ter camiseta do time Chanel e tudo”, falou, animada.

    Com olhos completamente escuros por causa das lentes do figurino, ela brinca: “Consigo enxergar parcialmente. É como se tivesse uma vinheta de vídeo o tempo todo. Incomoda? Incomoda. Mas se drag deixasse de fazer as coisas porque incomoda, a gente não fazia nada. A cabeça aperta, o salto dói, o espartilho sufoca. Mas a gente segue”, comenta.

    Dificuldade na arte Drag

    A concepção do figurino foi toda desenhada por Chanel, que já tinha o projeto guardado desde 2021
    A concepção do figurino foi toda desenhada por Chanel, que já tinha o projeto guardado desde 2021 |  Foto: Péricles Cutrim

    Mas nem tudo são flashes e purpurina. O corre da arte drag no Brasil é pesado, e Chanel não romantiza. “Fazer drag no Brasil é muito caro. Tudo é gasto: peruca, maquiagem, roupa, transporte. A gente faz porque ama, porque precisa, porque acredita”, pontuou.

    Ela espera que o programa ajude a mudar esse cenário, assim como aconteceu nos Estados Unidos. “Lá, tem drag queen na lista das mais ricas do mundo por conta de Drag Race. Aqui, a esperança é que o programa ajude a profissionalizar a cena, que traga movimento, recurso e visibilidade. Que permita que mais gente viva de arte”, disse esperançosa.

    Apesar da visibilidade que o programa traz, a caminhada até ali não foi fácil, e nem sempre foi colorida como os figurinos. Chanel lembra que o desafio de viver da arte drag no Brasil é constante, e que já pensou em desistir da arte Drag.


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    Toda semana a gente pensa em desistir. Hoje, com o programa, já passou a parte mais difícil, mas antes era semanal
    Chanel Drag Queen
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    Apesar disso, Chanel não perde o bom humor. Durante os ensaios externos dos looks para o programa, realizados em lugares como o parque da Água Escondida, o próprio MAC e até o colégio onde estudou, ela vive situações no mínimo inusitadas.

    “É sempre uma palhaçada. As pessoas me veem montada e acham que é performance do museu. Teve uma vez que uns turistas chineses queriam saber se era alguma ação cultural. Eu só ficava torcendo para o segurança não me botar pra fora”, brincou.

    Mas a receptividade tem sido calorosa, tanto nas ruas quanto nas redes. “É uma delícia conversar com gente nova, explicar o que é drag, tirar foto. É muito bom estar com o público, mas também é ótimo apresentar esse universo pra quem nunca viu”.

    Sobre a cena LGBTQIAPN+ em Niterói, Chanel faz uma reflexão importante. “A gente tem sorte de viver em uma das cidades mais tranquilas para pessoas LGBT. Mas falta espaço. Os guetos, as boates, foram sumindo. A gente ganhou acesso a espaços comuns, mas perdeu os nossos. E isso é triste, porque a nossa história se constrói nesses lugares”, refletiu Chanel.

    Com salto, nave espacial no corpo e a cidade de Niterói na cabeça (literalmente), ela segue na competição. Chanel, além de ser a única representante fluminense no programa, carrega a responsabilidade de mostrar que o talento niteroiense vai muito além das curvas do MAC. É arte, é resistência, é sonho. E agora, é reality.

    Onde assistir

    O programa apresentado pela Grag Queen ganha novos episódios semanalmente e pode ser visto no streaming WOW Presents Plus.

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    André Silva

    André Silva

    Jornalista

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