Esportes
Fala de Tite indica mudança de postura e dá esperança pelo hexa
Como de praxe, Tite e seus auxiliares participaram da coletiva de imprensa, nesta sexta-feira (24), referente à convocação da Seleção Brasileira para os três próximos desafios da Eliminatórias da Copa do Mundo de 2022.
A verdade é que o Brasil, diante da campanha de excelência até aqui, já cumpriu sua obrigação e está garantido no Mundial. Os nomes convocados também não fugiram do plano de trabalho do treinador - embora, naturalmente, sempre gere o debate sobre um nome ou outro. Por aqui, somos todos treinadores.
O que chamou mesmo a atenção foi uma declaração rápida e sutil - mas que pode fazer toda a diferença daqui em diante. Perguntado sobre a possível diferença de preparação entre o Brasil e as seleções européias, Tite aproveitou o espaço para fazer um pedido público e inusitado à própria CBF.
"Faço pedido ao Juninho. Pode armar qualquer amistoso com qualquer seleção europeia, pois é importante. Nós queremos. A Seleção quer"
Recado dado!
Aquela frase ecoou em meus ouvidos. Não foi apenas um pedido; foi um recado. Uma demonstração, ainda que simplória, de alguém que está com sede por conquistas. O trabalho de Tite já transbordou o regionalismo; triunfos em Copas América e Eliminatórias já viraram rotina. Chegou a hora que voar por mais.
E essa declaração, ainda que pareça corriqueira para alguns, foge dos protocolos cotidianos. Mostra que as críticas por amistosos caçaníqueis contra equipes inexpressivas foram absorvidas. Demonstra insatisfação com o balcão de negócios que virou a Seleção Canarinha nos últimos anos - talvez décadas.
Tite quer se testar. Assim como em outros momentos, mostrou-se ainda engasgado com a derrota diante da Bélgica na Copa da Rússia em 2018. Competitivo ao extremo e aliado dos números, certamente ainda não pôde digerir que aquela vaga não foi nossa. Pois bem, esta é a crueldade que torna o futebol especial e imprevisível.
Enfrentar as melhores seleções antes do Mundial é o caminho mais seguro para desviar dos imprevistos. É a maneira mais correta de colocar à prova seu padrão de jogo e avaliar os níveis técnico e psicológico do Brasil. O preparo é muito mais que correr e fazer gols; vai além do desenho da tática ideal; o jogo é jogado. E a Seleção precisa jogar.
País do futebol
Não é nenhum segredo que estamos ficando para trás. Por estrutura, por profissionalismo, por dinheiro, por planejamento. Hoje, o futebol brasileiro é apenas uma grande fábrica de jóias brutas - a serem lapidadas em outros continentes. Não somos mais o grande centro do esporte. Nos acomodamos como 'país do futebol' e, mergulhados em nossa soberba, vimos os rivais nos ultrapassarem.
Alemanha, França, Espanha, Itália, Inglaterra, até mesmo as que vêm atrás; Croácia, Bélgica, Dinamarca, Portugal, Rússia e Holanda. Todas têm algo para nos ensinar. E é em campo que as lições aparecem. Enfrentando os melhores, percebemos o tamanho do desafio e nos preparamos para ele. A Copa não tem apenas campeões europeus há 15 anos por pura coincidência.
No entanto, apenas nós podemos mudar esse panorama. O abismo existente entre a Seleção e os outros países das Eliminatórias mostra isso. E temos time para tal. Nossas peças abrem um leque de possibilidades e reúnem uma quantidade extraordinária de talento. Faltava, no entanto, a sede demonstrada por Tite hoje. A coragem de quem quer encarar os melhores para saber como derrubá-los no ano que vem.
Que a declaração não seja só da boca pra fora. E mais: que contagie a todos, pois, sozinho, Tite não conseguirá nada diferente do que acontece desde 2006. É esse tipo de fala que aproxima a torcida - hoje tão distante e reticente devido a décadas de maus-tratos e descaso de quem comanda.
Somos o Brasil. Somos a Seleção Brasileira. Somos pentacampeões. A historia da bola fala por nós. Chegou a hora de fazer valer tudo isto novamente. Adormecemos após a incrível conquista de 2002 - e aquele espírito precisa despertar para nos fazer gigantes novamente. Que venha a Copa do Mundo!
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