Esportes
Flamengo muito além dos gramados: o jogo político por trás do Rubro-Negro
Muitos dizem que política e futebol não se misturam. Discordo. Não só se misturam como são intrínsecos. Em um mundo da bola globalizado, profissional e rodeado de interesses que movem bilhões por ano, quem não sabe ser político acaba ficando para trás. E o Flamengo, certo ou errado, é o grande exemplo disso no Brasil. Explico.
Com as finanças bagunçadas e o futebol jogado às traças, o Rubro-Negro começou a mudar com a entrada do presidente Eduardo Bandeira de Mello em 2013. Organizou a casa, enxugou os gastos e assumiu o risco de montar times medianos, durante várias temporadas, para alcançar a meta financeira que almejou lá atrás.
Bandeira foi esperto. Enxergou, antes que pudessem evitar, que o Flamengo tinha a faca e o queijo nas mãos: uma divisão de cotas absurda - causada pelo rompimento do Clube dos 13-, uma marca forte e a maior torcida do país. Com muito mais dinheiro entrando do que saindo, enquanto profissionalizava todos os departamentos, bastou sentar, esperar e jogar o jogo. Brincar com as peças no tabuleiro.
Alguns anos se passaram. Alianças foram feitas. Cinco temporadas depois, já sob outra direção, o Flamengo seguiu fazendo política. Em 2018, aproximou-se do presidente eleito Jair Bolsonaro. Mesmo sabendo de todo o radicalismo, ciente de que a torcida se dividiria diante da cristalina polarização do país. Mas sabia que, lá na frente, valeria a pena. Não era questão de valores; era política.
Junto aos principais poderes do país, incentivou a criação Medida Provisória 984, posteriormente conhecida como MP do Mandante. Com poder sobre as próprias transmissões, o Rubro-Negro comprou briga com a Globo - rival nº1 de Bolsonaro - e foi pivô de uma guerra entre a maior emissora do país e a Federação de Futebol do Rio de Janeiro. No fundo, o clube sabia onde isso iria acabar.
A Globo, irritada, rompeu unilateralmente o contrato com a federação e os clubes. Com isso, o Fla pegou dois coelhos com uma cajadada: derrubou a maior fonte de lucro dos rivais e tirou o monopólio da Globo, tendo liberdade para comercializar pacotes próprios de transmissão no falido Carioca. Na ponta do lápis, o clube da Gávea foi o único que amenizou os prejuízos; na vizinhança, Botafogo, Fluminense e Vasco agonizaram sem a grana da emissora em seus balanços financeiros.
O Flamengo não se limitou a se fortalecer; através da frieza que a política exige, se preocupou em enfraquecer seus adversários. Se o Rubro-Negro é favorito a nível nacional, hoje nada de braçadas no Estadual - a ponto de chegar à final da competição utilizando reservas e juniores. Infelizmente para os rivais, o "outro patamar" se justifica mais do que nunca.
Todos foram pegos de surpresa com o panorama atual. Menos o Flamengo. O Flamengo não só já sabia como planejou e ajudou a executar grande parte. O plano é, em todos os aspectos, genial - e dentro da legalidade. Porque o Flamengo teve o 'gelo no sangue' de Marcos Braz para misturar futebol e política.
A reconstrução demorou — nada é construído do dia para a noite — e Eduardo foi massacrado. Mas, hoje, sabe que é um dos grandes responsáveis pela máquina de títulos que o Flamengo se tornou. Ao fim desta insistente pandemia, o reencontro com sua torcida nas arquibancadas do Maracanã tem tudo para selar de vez o pacto com as glórias.
A resenha está garantida com o jornalista Pedro Chilingue, que além dos bastidores do mundo esportivo, também traz o melhor dos torneios regionais.
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