Esportes
Futebol, pandemia e o real protagonista
A pandemia do novo coronavírus chegou para mudar de forma permanente os nossos costumes. O mundo dos esportes, naturalmente, não foge à regra. O 'novo normal', ainda um território desconhecido, será uma rotina a ser implementado.
As consequências já podem ser sentidas diante dos protocolos de testes, isolamento, procedimentos para viagens e várias outras vertentes. No entanto, a Covid-19 veio para mostrar que nem tudo pode ser substituído de forma natural.
O futebol tem uma espinha dorsal histórica. Desde os primórdios, respeitando a evolução natural do esporte junto à sociedade, há pelo menos três diretrizes: clubes e jogadores, equipe de transmissão e arquibancada.
Os dois primeiros seguem intocáveis, ainda que com adaptações. Já a última, ausente em período de quarentena há pelo menos 12 meses, mostra agora a sua relevância.
Não que nós não soubéssemos; a paixão do torcedor - sobretudo o brasileiro, talvez o maior aficcionado pelo esporte - é marca registrada desde sempre. Mas, ironicamente, apenas em sua ausência pudemos notar a sua importância dentro do espetáculo.
Sons gravados, totens de papelão, ingressos virtuais, tudo foi tentado para amenizar a falta que fazem as vozes vindas do entorno do gramado. Nada funcionou. Em alguns casos, inclusive, chegaram ao ridículo de serem ironizados pelos próprios jogadores.
O futebol é do povo. O idoso com seu radinho, a criança com os olhos que brilham ao verem o verde da grama pela primeira vez, os casais que se formam nas bancadas pelo mundo, cada um com a sua contribuição. É o esporte mais democrático e multicultural do planeta.
E isso foge do campo lúdico, chegando aos cofres das maiores instituições esportivas do país. O Flamengo, que venceu com sobras o último Campeonato Brasileiro, sente falta não apenas da maior torcida do continente, mas também da receita advinda de suas participações - fundamentais ao balanço financeiro anual.
Botafogo e Vasco, na penúria da luta contra o rebaixamento à segunda divisão, não perdem apenas o apoio incansável de seu povo apaixonado, mas também a possibilidade de pagar os salários em dia com a contribuição pesada de seus sócios-torcedores.
Do dinheiro à paixão, o esporte bretão, sem o amor que vem dos alambrados, fica incompleto. Diante de tudo o que perdemos para este vírus maldito, o calor humano das paixões clubísticas figura entre os principais.
Que venha a vacina e, junto com a imunidade, nos devolva a possibilidade do protagonismo novamente. O Brasileirão de 2020 será disputado até seu último minuto; pode ter lindos gols e grandes jogadas; mas ficará para sempre marcado como a competição mais triste, fria e vazia da história.
A resenha está garantida com o jornalista Pedro Chilingue, que além dos bastidores do mundo esportivo, também traz o melhor dos torneiros regionais.
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