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    Submundo do futebol tem seu valor e precisa urgentemente de mais atenção

    Publicado 11/10/2021 às 15:10 | Atualizado em 11/10/2021 às 15:29 | Autor: Pedro Chilingue
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    Atlético Carioca disputa a quinta e última divisão do Campeonato Carioca. Foto: Divulgação/Atlético Carioca

    Você sabe quantas divisões tem o Campeonato Carioca? Quais times participam? Onde acontecem os jogos? Como funciona o time da sua cidade? A resposta para todas essas perguntas, na maioria dos casos, é "não". No entanto, não se envergonhe: a culpa não é sua. E o problema é bem mais amplo do que apenas o nosso Estadual.

    Existe um submundo dentro do futebol. Longe dos holofotes, dos gramados "tapete", dos craques, das arenas modernas e das arquibancadas lotadas. O futebol de várzea, chamado carinhosamente de "alternativo" - o que já explica um pouco do problema -, definha nas divisões inferiores. E não só pela eterna muleta da falta de dinheiro; até mesmo a ausência de carinho e capricho desenham o panorama negativo.

    Aqui no Enfoco, enquanto colunista de esporte, tento dar ênfase a todos os times da região. Trabalhar num veículo metropolitano me proporcionou a chance de fazer algo que sempre quis: acompanhar de perto o dia-a-dia de equipes como Maricá, Gonçalense, São Gonçalo, Bela Vista, Canto do Rio, Itaboraí Profute e Atlético Carioca. Quando comecei, percebi o óbvio: não sabia praticamente nada, porque a informação nunca havia chegado até mim.

    Descobri que o Carioquinha, que tem deixado de ser "o mais charmoso do país" ao passar dos anos por descuido absoluto da FERJ, tem cinco divisões - A, A2, B1, B2 e C. Acompanhei e celebrei o fim da inconcebível Seletiva, que diminuía ainda mais as oportunidades dos times menores. Vi o Maricá bater na trave duas vezes no caminho à elite. Assisti o Cantusca quase fechar uma parceria milionária e depois precisar abdicar do campeonato por falta de investimento.

    Acreditem: a estruturação seria benéfica para todos. Os clubes gigantes da Série A ficariam ainda mais fortes caso uma reforma completa fosse feita na fórmula de negócio totalmente precária e arcaica adotada pelas federações estaduais e seus caciques. Um exemplo é a Inglaterra: a Premier League só tem a proporção atual pois o futebol local tem mais de 10 divisões organizadas e competitivas.

    Em torneios nacionais, o fortalecimento é lento, mas gradual. No entanto, clubes cariocas vão à luta quase sem nenhum respaldo de quem mais deveria apoá-los. O Volta Redonda, que batalhou bravamente na Série C, ficando a um ponto da classificação à última fase da competição, pouco teve seu trabalho divulgado pela grande mídia. Por isso os clubes cariocas, como um todo, têm perdido força no cenário nacional.

    A realidade atual é de abandono. Sem cobertura, sem transmissão, sem notícias. Até quem trabalha com isso encontra muitas dificuldades para obter informações simples - como resultados de jogos e regras de campeonatos. E isso aumenta ainda mais o problema. Como diz o ditado, "o que não é visto não é lembrado"; relegados ao anonimato, os clubes ficam expostos à toda sorte de maldades, falcatruas e esquemas.

    Recentemente, atuações suspeitas fizeram o Goytacaz afastar dois de seus jogadores por suspeita de envolvimento com esquemas de apostas. Em vídeo viralizado na internet, eles aparecem cortando bolas para escanteio de forma, no mínimo, duvidosa. E isso só aconteceu pois um canal amador do YouTube resolveu transmitir o confronto da equipe diante do Serrano, pela fase de grupos da Série B1 - a terceira divisão do Campeonato Carioca.

    Quem acompanha essa realidade paralela, o "lado B" do nosso futebol, sabe o quanto essas denúncias são comuns e desanimadoras. Sei que minhas demandas aqui vão contra a vontade de muita gente grande, mas precisamos lutar pela revitalização do nosso esporte. O futebol é do povo e para o povo. Não pode servir de brinquedo - ou coisas piores - para figurões ultrapassados.

    Conheci profissionais incríveis que não têm voz pois ainda não tiveram oportunidade. Por isso, o "alternativo" precisa ser abraçado não só pela Federação - mas também pela mídia, por patrocinadores, investidores e até torcedores. Há muito a ser lapidado e a curva de crescimento pode ser enorme. O futebol pode ser apaixonante de diversas formas, em diversos lugares e sob todas as condições. Só depende de nós.

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