Filipe Vianna - Segue o Jogo

Demitir técnico é mais fácil que se planejar e traçar um perfil

'Queremos deixar claro que pouco importa se o pedido de demissão foi feito pelo técnico ou pelo clube. A saída foi forçada através de um processo de fritura nítido'

"Abel Braga pediu demissão do Flamengo". Essa foi a manchete desta quarta-feira (29) que agitou as redes sociais e o mundo do futebol. Que o treinador já estava balançando, todos sabemos. Mas que isso aconteceria há uma semana das oitavas-de-final da Copa do Brasil contra o Corinthians.... Isso ninguém esperava. Os erros do professor durante alguns jogos são nítidos, mas também seus resultados positivos são visíveis em estatísticas. Independente disso, é nítido que este é mais um caso de um técnico vítima da má organização, falta de planejamento e inteligência dos clubes brasileiros. Vamos levantar algumas dúvidas para fazer você pensar se a saída dele foi a melhor opção. Segue o Jogo.

Os erros que não podiam ter sidos cometidos

Perder é algo corriqueiro. Perder não é normal, mas acontece. Não dá para ganhar sempre. Com as grandes contratações feitas pelo clube Rubro-Negro, houve uma espécie de consenso que haveria a obrigação de ganhar tudo. "Com esse time era para ter vencido fácil". Essa frase você certamente ouviu bastante. Mas não dá para "vencer fácil" sempre. Na verdade, a questão não é essa, mas sim da maneira que as derrotas vieram. Eu lembro a você situações de raiva da torcida e com bastante razão.

  1. Flamengo 0x1 Peñarol. Um jogo horrível. Com a mentalidade de time pequeno, o Flamengo se deixou envolver pela boa marcação do time Uruguaio somado à falta de maturidade de Gabriel ao ser expulso com uma entrada violenta. No mesmo jogo, De Arrascaeta ficou no banco (tudo bem), mas não entrou (aí não).
  2. Fla x Flu. Na semifinal da Taça Guanabara, o Fluminense conseguiu eliminar o +Querido com um jogo sem estresse. Mais uma vez houve a mentalidade de time pequeno, sem atacar, sem criar, sem vontade alguma de jogar. Parecia que era um time qualquer jogando com jogadores quaisquer.
  3. Atlético MG 2x1 Flamengo. A recente derrota para o time Mineiro não foi normal. Um jogo onde o Galo tinha um atleta a menos desde o primeiro tempo e jogou muito mais que o Fla. Na verdade, me questiono se não era o Flamengo que tinha um a menos. Numa tentativa desesperada, Abel colocou Lincoln junto com Gabriel e Bruno. A ideia que passou foi: "vamos enfiar jogador na área". Isso podia dar certo, mas como se os jogadores de criação foram substituídos? Como diria um amigo meu ele "garoteou".

Bola no pé vs Estatística

Em 30 jogos foram 18V, 7E e 5D. Sem contar os 56 gols feitos e os 27 sofridos. Com um aproveitamento de 67,78% será que haveria necessidade da demissão? A resposta, olhando puramente os dados, é logicamente não. Mas as lembranças dos jogos que citei acima não são de derrotas comuns ou corriqueiras. Algo positivo que Abel trouxe ao clube, ao meu ver, foi o faro de gols. O FLA foi muito mais vertical, foi direcionado ao gol. Era direto ver Bruno Henrique, Gabriel e E.Ribeiro correndo e sendo objetivos para colocar a bola para dentro. Apesar da fragilidade do time do San Jose (BOL) fazer 6x1 foi excelente; e ficou o sabor de que haveria mais bola na rede se não fosse tantos erros debaixo das traves.

Se ele não serve, então por que o trouxeram?

Essa é a pergunta de 1 milhão de dólares. É muito curioso como os técnicos no Brasil são a solução e, do nada, são as piores pessoas do mundo. Quando entramos no início da temporada, Rodrigo Caio estava fechado e o Flamengo já tinha especulado as vindas de Gabriel e De Arrascaeta. Bruno Henrique estava sendo ventilado, mas um pouco distante ainda. Isso também porque não citei a manutenção de um elenco com Diego, Diego Alves, E.Ribeiro e mais. Então, com tudo isso a favor, já era esperada a contratação de um treinador que estivesse apto para esse trabalho difícil (ao contrário do que muitos pensam, treinar craques é difícil demais). Voltando a dezembro quando a chapa de Rodolfo Landim ganhou a eleição, Abel já era o cara para assumir o cargo. Sendo assim, o que o credencia a sair pela porta dos fundos, isolado, criticado, escorraçado e com o rótulo de que "ele não serve"? Então se ele realmente não serve, o que um treinador agora precisa ter para ser contratado? Qual é o perfil do clube? O que esperar do próximo técnico? É aí que eu quero entrar. Não há perfil. Próximo tópico.

"Traz para ver se dá certo"

Você que é fã do Barcelona, certamente é fã também daquele futebol top do clube. Ainda que recentemente venha dado uns moles, o que Messi e Cia. jogam é brincadeira. É engraçado como entra e sai técnicos, algumas coisas até mudam, mas num geral o estilo é o mesmo. Quando alguém é contratado, é dito: "Jogamos assim, fazemos assim. Ponha a sua cara e o seu jogo, mas não mude isso". Lógico que a realidade de lá é muito diferente da nossa, mas isso é porque nós gostamos de manter o jeito errado. Se vier Jorge Jesus, o que o credencia a ser a melhor opção para o Flamengo? A mesma pergunta para Dorival Jr. que saiu de uma boa e curta campanha ano passado. São treinadores que vão tapar o buraco que Abel Braga não tapou ou são treinadores bons que vão vir para só dar certo? Vivemos de um futebol que se dá certo, o professor é o melhor, se dá errado, não presta. O Vasco recentemente demitiu Valentim e especulou os seguintes nomes: Dorival Jr.,Diego Aguirre, Barbieri e Luxemburgo. Olha a disparidade dos perfis. Olha como não há critério. Um jovem e inexperiente, um consagrado e batido, um estrangeiro que às vezes dá certo, às vezes não.... Enfim, essa é a nossa realidade. O Flamengo é só mais um. Enquanto não houver planejamento e definição de filosofia em prol de um "futebol raiz" ilusório, seremos cada vez menos o país do futebol.

Filipe Vianna também escreve para Blog Segue o Jogo

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