Filipe Vianna - Segue o Jogo

O adeus à Marilene Dabus, a resistência feminina no jornalismo esportivo

Marilene Dabus é o símbolo da resistência feminina no jornalismo esportivo. Foto: Divulgação

Mulheres no jornalismo esportivo... A princípio, é algo normal. Não é difícil ligar a TV e ver algumas mulheres aparecendo de alguma maneira. Ainda assim, são minoria em um campo machista que reflete a opção masculina por uma narração, comentário ou reportagem somado a críticas sexistas voltadas para o lado físico.

Mas, mesmo que em minoria, para que hoje a presença feminina estivesse em evidência no cenário esportivo, foi necessário que houvesse um pensamento diferente do machismo que emponderava nos anos 60. Esse pensamento veio de Marilene Dabus.

Em uma década onde nomes como Arnaldo Moreira, Geraldo Serrano, João Saldanha, Doalcei Camargo, Mário Vianna estavam brilhando e se destacando – sem contar Mário Filho na década de 40 e 50 -, surgiu uma mulher que passou a cobrir o futebol de dentro do campo.

Marilene “escandalizou o Rio” quando abordou atletas na saída do gramado ainda, para fazer entrevistas. Havia quem dizia que ela tinha informações privilegiadas e única, pois fazia reportagens nos vestiários, tendo acesso a estes de uma maneira mais informal.

Dabus conseguiu ser setorista do Flamengo. Tudo isso devido a um programa da extinta TV Tupi. O programa buscava quem tinha mais conhecimentos sobre o clube. A vitória foi da moça que surpreendeu a todos e ganhou a chance de cobrir o Rubro Negro durante toda sua vida.

Voltando à década de 2010 em diante, ainda que tenha havido um crescente número de mulheres trabalhando no meio esportivo, em 2017, em uma pesquisa feita, elas ainda representavam 13% dos profissionais que apareciam na TV e ainda assim, sempre como repórteres.

Apesar do aumento citado anteriormente, as mulheres são as únicas que recebem “críticas duplas”. Se alguém discorda do que foi dito ou escrito, comentários negativos são sempre seguidos de críticas sexistas, citações que envolvem a parte física feminina. Quem nunca ouvi alguém dizer: “Essa aí só fala besteira, além de ser feia” ou “Ela é gata, mas é burra”.

Não há relatos de situações vividas parecidas com os homens. Se um narrador não é bom, então ele é chato ou é feita uma campanha de “cala a boca”, mas nunca algo voltado para denigrir sua imagem em aspecto físico.

Quantas vezes você viu programas que houvesse uma mesa redonda de debate, algo tradicional no futebol, com maioria feminina?

Por outro lado, é certo que você se recorda de programas com mulheres seminuas representando seus times ou brincando com sua falta de conhecimento através de perguntas como: “O que é impedimento”? ou “Quem é aquele cara de amarelo no jogo”?

Além disso, as mulheres parecem estar limitadas a certas funções, todas de menor apelo. Por exemplo: quantas mulheres são apresentadoras ou comentaristas ou até narradoras? Você pode até estar lembrando de algumas, mas certamente são só “algumas”.

Mas quantas repórteres existem? Que fique claro que não é o objetivo deste texto, minimizar a função de repórter/setorista, no entanto, não é coerente fecharmos os olhos para uma situação em que as mulheres parecem que vão “só até ali”.

Uma emissora de esporte criou, durante a Copa de 2018, uma campanha para ter uma narradora mulher. E conseguiu. Transmitiu alguns jogos com “ela” narrando. No entanto, em um dos seus canais, TODAS AS VEZES havia o mesmo jogo sendo transmitido, também ao vivo, narrado por um homem. Curioso! Afinal, iniciativa louvável ou um “tapa-buraco” (para quem não quisesse havia uma narração masculina “tradicional”)?

A “moça do Flamengo”, como era conhecida Marilene, cobriu a Seleção Brasileira de Futebol na Copa de 70, se tornou Vice-Presidente de Comunicações do clube e foi a responsável por ter alavancado a torcida do +Querido. Foi dela a ideia de chamar o centro de treinamento de NINHO DO URUBU.

Marilene Dabus é o nome da sala de imprensa do Flamengo. Marilene Dabus é o símbolo da resistência feminina no jornalismo esportivo e sua memória sempre estará viva ao lembrarmos da luta e dos desafios de uma mulher cobrir um jogo dentro de um estádio ou em uma cabine de imprensa.

VIVA MARILENE DABUS, A PRIMEIRA MULHER A COBRIR FUTEBOL NO BRASIL! VIVA AS MULHERES!

Marilene Dabus (1940 – 2020).

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Filipe Vianna - É um apaixonado por análises táticas e coberturas esportivas. Ele fala sobre futebol e o mundo dos esportes.

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