Tem jogo importante hoje. Vai apostar em quem? ,
A cultura das apostas esportivas online disparou nos últimos anos no Brasil. Sites especializados dão conta de que os investimentos em apostas esportivas feitos por brasileiros saltaram de R$ 2 bilhões para R$ 7 bilhões, entre 2018 e 2020.
Desde que a modalidade passou a ser permitida, casas de apostas investem em publicidade e patrocínios. Atualmente, todos os 20 times da Série A do Campeonato Brasileiro são patrocinados por este segmento.
Para o publicitário Lucas Moraes, o investimento é esperado e fundamental para o crescimento do setor.
''A maior parte das apostas acontece no futebol. Além disso, quando alguém assiste a um jogo e tem uma casa de apostas patrocinando um dos times, isso acaba gerando credibilidade para a empresa. Além disso, também tem a questão da presença no mercado, por haver uma ampla divulgação daquela marca. Essa interação contribuiu diretamente para o crescimento'', esclareceu.
''Outro fator determinante é a questão da crise econômica. Os jovens, que devem ser a maioria dos apostadores, em geral tem encontrado dificuldades para conseguir emprego. Por isso, eles podem ver nas apostas uma chance de ganhar um dinheiro 'fácil'. Acredito que se o país estivesse em uma condição um pouco melhor, menos pessoas olhariam para esse mercado'', comenta.
Mas apesar de parecer atrativo, o ramo das apostas pode gerar prejuízos se utilizado de maneira irresponsável, é o que explica a psicóloga da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rafaela Fernandes.
"Eu vejo as apostas esportivas como uma forma da pessoa buscar uma validação externa para aquilo que ela estudou ou analisou", avalia.
Ainda segundo ela, 'as pessoas colocam expectativa, crença no resultado ou estudo para basear aquelas apostas'. Ou seja, 'o que eu fiz deu certo, logo eu vou fazer de novo'. Portanto, o resultado das apostas fortalece ou enfraquece os critérios.
Só que, sendo uma forma de validação externa, isso pode gerar vícios Rafaela Fernandes, psicóloga
Vício
De acordo com a psicóloga, os sintomas do vício em apostas esportivas está na frequência da necessidade, resultando em alteração de humor por conta dos resultados e ausência de limites para as apostas. Ela também conta que ela mesma já apostou.
''Eu mesma já joguei uma vez. O que fez com que eu não jogasse de novo foi o fato de ter perdido. Talvez se tivesse ganho, aquilo seria motivador para que eu jogasse mais'', explicou.
Trauma
O ENFOCO conversou Bruno Brazil, estudante de Comunicação Social na UFRJ, que teve experiência negativa com o mundo das apostas esportivas no fim de 2020. Ele conta que perdeu todo o dinheiro que colocou na casa de apostas e que é um mundo que pode seduzir o apostador.
Vi que é um mundo muito complicado, muito difícil, tem muitos riscos e acaba te seduzindo Bruno Brazil, estudante de comunicação e ex-apostador
Ansiedade
O universitário também falou sobre como se sentia quando apostava, destacando a ansiedade com as partidas e os resultados.
''A pior parte é quando você está na expectativa para sair algum resultado. Você fica o tempo todo ligado. Não consegue se desligar dos resultados'', explicou.
O ex-apostador não recomenda a atividade, mas caso alguém insista em entrar no mundo das apostas, ele faz um alerta.
Eu falaria para tomar muito cuidado, que estude muito esse mundo antes, se organize e tenha certa cautela" Bruno Brazil, estudante
Legislação
Apostas esportivas online foram permitidas no Brasil durante o governo do então presidente Michel Temer, em 2018, através da Lei 12.756. No entanto, apostadores devem recorrer a casas de apostas estrangeiras para fazer investimentos.
Mesmo a casa de apostas Betnacional, que utiliza elementos para reforçar sua 'brasilidade' e atrair o público, é estrangeira. Acontece que ela é operada pela empresa Bettergames Entertainment, entidade devidamente autorizada pelo Governo da Costa Rica.
As transações financeiras realizadas no website são processadas pela empresa Latam Entertainment Limited, entidade registrada em Malta, na Europa. Ou seja, as empresas de jogos online operam a distância com sede em outros países.
De acordo com Frank Ned, advogado especialista em direito digital e constitucional, a regulamentação seria benéfica tanto para apostadores quanto para o país.
''Se o Brasil regulamentar, cria-se um critério e um padrão para as empresas operarem no país. Isso iria trazer mais segurança para o apostador e ser uma fonte para a arrecadação de tributos'', garante.
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