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Conheça a nova gasolina que será vendida nos postos
Buscando qualidade e rendimento aos motoristas, além de visar reduzir fraudes e adulterações, as novas especificações da gasolina automotiva estabelecidas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) entram em vigor na próxima segunda-feira, 3 de agosto.
Neste primeiro momento, apontam especialistas, pode haver impacto no bolso do consumidor, mas na segunda fase a tendência é que ocorra normalização do cenário por parte da clientela.
As novas especificações prometem maior eficiência energética e autonomia dos veículos por conta da diminuição de consumo por quilômetro rodado de 5%, em média, dependendo das características de cada motor, além de viabilizar a introdução de tecnologias de motores mais eficientes, com menores níveis de consumo e emissões de poluentes na atmosfera.
RON 93
Com essa nova gasolina, o Brasil entra num padrão internacional, se assemelhando à realidade da Europa e Estados Unidos. A Petrobras já está produzindo em suas refinarias e comercializando aos distribuidores a gasolina com octanagem RON 93, que será obrigatória no Brasil apenas em 2022, de acordo com a nova regulamentação da ANP.
"É uma confusão muito comum entre os consumidores: o preço é definido pelo mercado, como qualquer outro produto. Então não há um tabelamento desse preço e há sim uma expectativa de que o valor será pouco afetado. Mas a ANP não pode ditar as regras do mercado"
Alex Rodrigues, especialista em Regulação da ANP
Com base em estudos técnicos, o economista Gilberto Braga, da Ibmec-RJ, diz observar uma produtividade maior com a nova gasolina. Ele aponta uma combinação entre baixo consumo e otimização da performance do carro. Ou seja, o motorista vai pagar mais caro pelo combustível, mas em contrapartida vai conseguir rodar mais.
"A média de quilômetro por litro, em tese, tem que subir. Outro benefício é na manutenção. Por ser uma gasolina mais pura e menos misturada, permite um aproveitamento maior dos componentes do motor do carro, fazendo que se tenha menos custo de troca de peças, óleo, motor e coisas dessa natureza"
Braga afirma ainda que o cenário é semelhante ao movimento de anos atrás, quando o diesel diferenciado chegou ao país.
“No primeiro momento houve certa repulsa de boa parte dos caminhoneiros, porque ficou mais caro. E depois, mesmo aqueles que podiam andar com mais poluente, acabaram indo para o mais puro: que é mais caro, mas traria maiores benefícios aos motoristas”, enfatiza.
Para o professor de Economia e Finanças, o fato do produto ser ecologicamente menos danoso também o torna mais implacável.
"Sob esse aspecto, parece uma mudança inexorável. No primeiro momento traz impacto negativo ao bolso do consumidor, mas num segundo tende-se a normalizar. É um conjunto de coisas: maior rentabilidade do carro, diminuições da manutenção e poluentes, fazendo bem para a manutenção do ecossistema"
A Petrobras reforça que o ganho de rendimento proporcionado pela nova gasolina compensará uma eventual diferença no preço, porque o consumidor vai rodar mais quilômetros por litro.
Segundo a estatal, o preço do combustível é definido pela cotação no mercado internacional e outras variáveis como valor do barril do petróleo, frete e câmbio. Portanto, de acordo com a Petrobras, esses fatores podem variar para cima ou para baixo e são mais influentes no preço do que o custo adicional de especificação.
Além disso, a empresa lembra ser responsável por apenas 30% do preço final da gasolina nos postos de serviço. Os demais valores são agregados por tributos, preço do etanol adicionado e margens das distribuidoras e revendedores.
“Ajustamos nossos processos de refino e estamos prontos para antecipar o padrão de qualidade previsto para 2022. Desta forma, garantimos a qualidade superior da gasolina produzida nas refinarias da Petrobras”, afirma Anelise Lara, diretora de Refino e Gás Natural da Petrobras.
Segundo revelado por Alex Rodrigues, especialista em Regulação da ANP, foram inseridos alguns parâmetros limitados à nova gasolina, como a massa específica; o Research Octane Number (RON) — que define a octanagem do produto — e a Agência optou por selecionar um T50 mínimo para a Gasolina A.
"É uma característica de destilação desse produto, que vai garantir melhor consumo, boa dirigibilidade e vai colocar a nova gasolina em alinhamento com as exigências das fases L-7 e L-8 do Proconve, que foram definidas pelo Ministério do Meio Ambiente. Então a gente acredita em enormes ganhos para o consumidor e é uma evolução natural das especificações", argumenta o especialista.
Ele comenta ainda que as especificações dos produtos evoluem na medida em que os requisitos se modificam. "Os novos motores, as exigências de emissões veiculares trouxeram essa demanda de modificação dessa resolução", continua.
A revisão da gasolina contempla, principalmente, três pontos:
- Estabelecimento de valor mínimo de massa específica (ME) de 715,0 kg/m3, o que significa mais energia e menos consumo.
- Valor mínimo para a temperatura de destilação em 50% (T50) para a gasolina A, de 77 ºC. Os parâmetros de destilação afetam questões como desempenho do motor, dirigibilidade e aquecimento.
- Fixação de limites para a octanagem RON, já presente nas especificações da gasolina de outros países. A fixação desse parâmetro é necessária devido às novas tecnologias de motores e resultará em uma gasolina com maior desempenho para o veículo.
"É importante dizer que a adulteração por solvente, por exemplo, pode ser feita com produtos de baixa massa específica. E quando você limita a massa da gasolina, como a gente está limitando, acabamos retirando ainda mais a possibilidade de adulteração do produto comercialmente disponível, algum solvente que esteja disponível para ser adicionado na gasolina", disse Alex Rodrigues.
Prazo
Publicada em janeiro deste ano, a Resolução nº 807/2020 deu prazo até o terceiro dia de agosto para os produtores de combustíveis se adequarem às regras. Entretanto, um adicional de 60 dias será oferecido para distribuidoras e 90 dias aos revendedores para se adequarem, permitindo o escoamento de possíveis produtos comercializados até o dia 2 de agosto, ainda sem atender integralmente às novas características.
"A gente acredita que esse efeito será importante: o próprio consumidor, por exemplo, vai poder checar no posto o revendedor. Se a gasolina atende esses padrões de massa específica que serão colocados [715,0 kg/m3]. Então uma gasolina que tenha uma massa abaixo desse valor estaria não-conforme, ou seja, fora de especificação e não deve ser consumida", ensina Alex Rodrigues.
A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis disse que existem dois parâmetros de octanagem – MON (Motor Octane Number) e RON. No Brasil, de acordo com a ANP, só era especificada a octanagem MON e o índice antidetonante (IAD), que é a média entre MON e RON.
O valor mínimo de octanagem RON para a gasolina comum será 92, a partir de 3 de agosto, e 93, a partir de 1º de janeiro de 2022. Já para a gasolina premium, será de 97, também a partir de 3 de agosto.
Preço
Desde meados de julho, os preços dos combustíveis vendidos a distribuidoras ficaram mais caros. Com aumento de 6% - ou 10 centavos a mais por litro, desde o último dia 17 - o preço médio do diesel da Petrobras para as distribuidoras passou a ser de R$ 1,83 por litro.
Já com a gasolina, que sofreu aumento de 4% - ou 7 centavos por litro -, o preço médio da Petrobras para as distribuidoras passou a ser de R$ 1,72 por litro.
Na Região Metropolitana do Rio, segundo levantamento semanal da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), entre os dias 19 de julho e 25 de julho, o preço médio/máximo da gasolina comum ao consumidor em Niterói foi de R$ 4,737/R$5,099; em Maricá R$ 4,518/4,859 e São Gonçalo R$ 4,503/4,899.
Reajustes em 2020 | Gasolina | Diesel |
% Acumulado | -10,2% | -21,5% |
Total de Reajustes | 22 | 17 |
Aumento | 10 | 6 |
Reduções | 12 | 11 |
Os preços para a gasolina e o diesel vendidos para as distribuidoras têm como base o preço de paridade de importação, formado pelas cotações internacionais desses produtos, somado aos custos que importadores teriam, como transporte e taxas portuárias, por exemplo.
"A paridade é necessária porque o mercado brasileiro de combustíveis é aberto para livre concorrência, dando às distribuidoras a alternativa de importar os produtos. Além disso, o preço considera uma margem que cobre os riscos, como volatilidade do câmbio e dos preços", disse a Petrobras.
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