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Corrida contra o tempo para tentar frear o avanço da variante Delta
A variante Delta do novo coronavírus, detectada inicialmente na Índia, já teve casos confirmados no Brasil, mas ainda não há estudos mais detalhados indicando locais precisos, alertam infectologistas.
O Ministério da Saúde ainda não se pronuncia sobre a proliferação da nova cepa. No exterior, estudos correm em paralelo à medida que novas variantes surgem e se proliferam rapidamente por diferentes países.
De acordo com Tânia Vergara, presidente da Sociedade de Infectologia do Rio de Janeiro, o país ainda carece de dados neste sentido.
"Ela [a variante Delta] tem transmissão muito maior, ao que parece. Tanto que pode haver escape de algumas vacinas. Na Inglaterra, que estava com casos de Covid-19 sob controle, voltou com a Delta. A gente tem a variante Delta no Brasil, mas não sabemos percentual disso"
A Fundação Oswaldo Cruz ainda apura informações como sintomas, grau de transmissibilidade, e até mesmo gravidade da variante.
O coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Rivaldo Venâncio, afirma que já foram catalogadas cerca de 1.800 variantes do vírus da Covid-19 desde dezembro de 2019. A declaração foi compartilhada durante uma audiência pública virtual com deputados federais e lembrada pela agência de comunicação da Fiocruz.
Dessas variantes, cem já foram identificadas no Brasil e quase 4 mil pessoas diagnosticadas com as novas cepas em 25 estados do país mais o Distrito Federal, somente este ano.
As principais variantes são: Alfa, detectada no Reino Unido; Beta, na África do Sul; Gama, no Brasil; e Delta, na Índia. A Organização Mundial da Saúde (OMS) adotou o alfabeto grego na nomenclatura para evitar o estigma mundial.
Segundo a OMS, há uma transmissibilidade acentuada da variante Delta com uma rápida disseminação por dezenas de países. Para Rivaldo, da Fiocruz, isso se deve ao afrouxamento de medidas restritivas.
“Estamos diante de um grande e grave problema: as variantes tendem a se disseminar pelo país. É muito provável que, daqui a alguns meses, a variante Delta esteja em todo o território nacional e surjam outras variantes”
Recentemente, a variante Delta substituiu a Alpha como cepa dominante na Escócia e é responsável por um significativo aumento de casos no Reino Unido.
No Brasil, estudos da referida variante ainda são consideravelmente desconhecidos. Os próprios especialistas da área recomendam pesquisas de fora para conhecimento.
AstraZeneca
O Grupo Consultivo Estratégico de Especialistas em Imunização (Sage) da Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou a aplicação da AstraZeneca mesmo em países onde haja a circulação de variantes.
Por exemplo, um estudo da Public Heatlh England (PHE), que teve parte republicada pela agência de comunicação da Fiocruz, mostrou que a aplicação de duas doses da vacina AstraZeneca apresenta 92% de efetividade contra a hospitalização pela variante Delta (B.1.617.2) do Sars-CoV-2 e que nenhuma morte foi observada entre os pacientes completamente imunizados.
A vacina também demonstrou uma alta efetividade contra a variante Alpha (B.1.1.7), identificada pela primeira vez no Reino Unido, com redução de 86% nas internações e sem mortes relatadas.
Segundo informado pela Fiocruz, o estudo da agência de saúde do governo britânico, publicado na última segunda-feira (14), envolveu a vacina da AstraZeneca, que no Brasil é produzida pela Fiocruz, e o imunizante da Pfizer.
A pesquisa analisou 14.019 casos da variante Delta que chegaram às emergências dos hospitais ingleses entre 12 de abril e 4 de junho deste ano. Destes, 166 foram hospitalizados. Foi comparado o risco de internação entre os não vacinados e os vacinados com primeira e segunda doses.
A efetividade média em relação à taxa de hospitalização para vacinados que contrariram a variante Delta foi similar à da variante Alpha, levando em conta os dois imunizantes: Alpha com 78% (uma dose) e 92% (duas doses); Delta com 75% e 94% (respectivamente).
No caso da Pfizer, a vacina apresentou média de 94% de efetividade após a primeira dose e 96% após a segunda contra a internação pela variante Delta. Na AstraZeneca foram registrados 71% de efetividade após a primeira dose e 92% após a segunda.
'Estas descobertas indicam níveis de proteção muito altos contra as hospitalizações pela variante Delta com uma ou duas doses de qualquer uma das duas vacinas', revela o estudo.
Conforme o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos EUA, objeto de estudo de epidemiologistas, as variantes B.1.1.7 (Alfa), B.1.351 (Beta), P.1 (Gama), B.1.427 (Epsilon), B.1.429 (Epsilon) e B.1.617.2 (Delta) circulando nos Estados Unidos são classificados como variantes preocupantes. Até o momento, nenhuma variante de alta consequência foi identificada por lá.
Uma variante de preocupação, que é o caso da Delta, é aquela para a qual há evidências de um aumento na transmissibilidade, doença mais grave (por exemplo, aumento de hospitalizações ou mortes), redução significativa na neutralização por anticorpos gerados durante infecção ou vacinação anterior, eficácia reduzida de tratamentos ou vacinas ou falhas na detecção de diagnóstico.
Possíveis atributos de uma variante de preocupação
- Evidência de impacto em diagnósticos, tratamentos ou vacinas
- Interferência generalizada com alvos de teste de diagnóstico
- Evidência de susceptibilidade substancialmente diminuída a uma ou mais classes de terapias
- Evidência de redução significativa da neutralização por anticorpos gerados durante a infecção anterior ou vacinação
- Evidência de redução da proteção induzida por vacina contra doenças graves
- Evidência de maior transmissibilidade
- Evidência de aumento da gravidade da doença
Variantes de preocupação podem exigir uma ou mais ações de saúde pública adequadas, como notificação à OMS sob o Regulamento Sanitário Internacional, relatórios ao CDC.
Esforços locais ou regionais para controlar a disseminação, aumento de testes ou pesquisa para determinar a eficácia das vacinas e tratamentos contra a variante, também são caminhos.
Com base nas características da variante, considerações adicionais podem incluir o desenvolvimento de novos diagnósticos ou a modificação de vacinas ou tratamentos.
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