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Criptomoedas: Os dois lados de investir em moedas virtuais

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|  Foto: Foto: Pixabay
A Bitcoin, primeira moeda virtual projetada para funcionar como meio de troca, podendo ser usada em transações, corre livre de fiscalizações e controles governamentais. Foto: Divulgação

"Quando eu contei para a minha esposa que havíamos perdido nossas economias de uma vida, ela chorou mais que criança. Hoje estou com os joelhos ralados pedindo a Deus que nos ajude. Infelizmente da noite para o dia, a gente ficou sem nada”. O relato do morador de São Gonçalo, que aos 38 anos perdeu cerca de R$ 70 mil após investir em empresas no ramo de criptomoedas, revela o drama de quem se aventura em um mercado promissor, mas muito arriscado.

Reféns das circunstâncias, investidores descobrem da noite para o dia que perderam tudo em empresas que fizeram promessas de lucros a curto e longo prazo. É o caso de duas companhias de investimentos que tiveram as contas bloqueadas pela Justiça. A G.A.S. Consultoria Bitcoin e a Alphabets, ambas com sede em Cabo Frio na Região dos Lagos.

Traumas

Além do rombo nas contas, especialistas alertam que vítimas das perdas financeiras podem apresentar graves transtornos psicológicos.  

"Investimento de modo geral é algo que nós fazemos o tempo inteiro nas nossas vidas. Investimos em tempo, saúde, sonhos e tantas outras coisas que nos levam em direção à vida. Com o dinheiro não é diferente. Com ele, as pessoas depositam suas esperanças, seus medos, desejos e inseguranças. E quando acontece algo que pode gerar um trauma, é preciso saber lidar" 

Fernanda Souza, bacharel em Psicologia

A psicóloga atenta que o trauma é algo muito particular e atinge cada pessoa de uma forma diferente. 

"Umas delas é estresse pós-traumático. Transtorno causado pelo impacto, em que o indivíduo foge de qualquer reação que lembre o trauma. Outras consequências também podem surgir à partir de um trauma, como os transtornos de ansiedade, pânico ou depressão"  

Faraó dos Bitcoins

De Garçom a milionário. O executivo Glaidson Acácio dos Santos, está preso desde o último dia 25 de agosto, depois que a Polícia Federal deflagrou Operação KRYPTOS, para desarticular a organização criminosa responsável por fraudes bilionárias envolvendo moedas virtuais. 

Segundo a PF, a empresa era investigada há aproximadamente dois anos. A G.A.S prometia rendimentos de 10% fixos ao mês, com a captação de clientes em sistema de marketing multinível e promessas altas — esquema caracterizado por pirâmide financeira. 

Glaidson pedia ao cliente para manter o dinheiro na empresa por um prazo de 36 meses, com a promessa de pagar os 10% sobre o valor. A empresa garantia que conseguia pagar o lucro por meio operações de arbitragem, que visava buscar lucros com compra e venda de ativos distorcidos de preços, preferencialmente sem que o investidor utilizasse o seu próprio capital.

Alphabets

Outra empresa do mesmo ramo, a Alphabets encerrou as atividades no último dia 8. Na semana passada uma das investidoras conseguiu na Justiça, o bloqueio de R$ 95 mil nas contas da empresa.

Em sua decisão, o juiz Andre Aiex Baptista Martins, da 6ª Vara Cível de Volta Redonda, reconheceu a presença do perigo de dano na ação. Nos documentos apresentados pela cliente o juiz entendeu que houve irregularidades, com suspeita de esquema de pirâmide financeira.

Já na ultima sexta-feira (17), a juíza Cristiane da Siva Brandão da 9ª Vara Cível de Niterói ordenou o bloqueio de bens de dez empresas ligadas ao empresário. A magistrada determinou o depósito de R$ 360 mil para um eventual ressarcimento de um único cliente em Niterói.

De acordo com a decisão, a magistrada, também determinou o confisco de bois e cavalos que estariam em nome das empresas, além da restrição de veículos.

"Nós já engrassamos com essas ações judiciais, no entanto, o universo de ações ainda é muito pequeno se comparado com investidores temerosos"

Rene da Silva Freitas, advogado

Pirâmide Financeira

De acordo com Comissão de Valores Mobiliários (CVM), autarquia responsável por regulamentar a oferta de títulos financeiros, só em 2020, foram 325 notificações  de indícios de crimes financeiras aos Ministérios Públicos (Federal e estaduais), um número 75% maior em relação anterior.  

Segundo a CVM, destes casos que foram encaminhados à justiça, 175 tinham indícios de pirâmides financeiras. Em janeiro deste ano, a comissão havia revelado que a GAS poderia estar praticando crimes contra a economia popular e encaminhou a ação para o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ). 

Ainda de acordo com CVM, pelos rendimentos prometidos não vir de negócios concretos e sim do dinheiro de quem entra, novos clientes acabam pagando pelos ganhos altos dos mais antigos.

Em nota, a G.A.S Consultoria informou que foi atingida por uma ordem judicial de bloqueio de R$ 38 bilhões, valor muito superior ao montante global já administrado pela empresa.

Ainda de acordo a nota, a G.A.S Consultoria possui patrimônio suficiente para honrar todas as obrigações assumidas com os clientes. E destaca ter requerido o desbloqueio de bens, ao menos no limite necessário para evitar atrasos de pagamentos.

Mas o que são criptomoedas?

Longe dos prejuízos que muitos investidores estão amargando, o mercado de criptmoedas tem atraído atenção. Mas afinal, o que são criptomoedas?

Segundo a mídia especializada cointelegraph, uma criptomoeda é uma moeda virtual projetada para funcionar como meio de troca. Podendo ser usada em transações, bem como para controlar a criação de novas criptomoeda para uma transação em particular. 

Essencialmente, as criptomoedas são entradas limitadas em um banco de dados que ninguém pode mudar a menos que condições específicas sejam cumpridas. 

Apesar de já existir há mais de dez anos, as moedas digitais ainda são novidade, e apesar desconhecidas por boa parte da população, tiveram um crescimento considerável este ano, segundo a Comissão de Valores Mobiliários (CM).  

Vale a pena investir?

Investidor e especialista em criptoativos, Rocelo Lopes explica o porquê do investimento no ramo tem atraido muitos clientes.  

“Estamos vendo os grandes bancos falando em criptomoedas e isso acaba atraindo novas possibilidades, trazendo questionamentos e curiosidades dos investidores. Estes por sua vez, prestam atenção nas altas em que o bitcoin vem apresentando. Eles [investidores], estão cansados daquele investimentos de 14% ano. De repente, chegam pessoas que vêm oferecendo investimentos com retorno financeiro gigantesco, ou as chamadas pirâmides financeiras com retornos que é impossível garantir. Isso alinhado a facilidade de entrar, e ao o usuário buscando outras formas de investimento. É um prato cheio”

Lopes destaca ainda que a criptomoeda possui facilidade em ser transferida.  

“Não tem como um juiz travar a conta, bloquear e pedir de volta. Isso abre muitas oportunidades para golpistas"  

Dica

O especialista aconselha para quem deseja investir em moedas virtuais, que o faça com um pequeno capital.  

“Colocar não mais que 5% da sua capacidade de investimento. Se você está começando agora, é primordial pesquisar a pessoa que está por trás do negócio, o que já foi feito por ela. Verificar se a empresa tem site e qual o entendimento das pessoas que comandam a empresa no mercado de criptoativos. Investir só porque um amigo falou, não é a melhor ideia. Escute os profissionais do mercado, faça pesquisa”  

Rocelo destaca que para não correr o risco de perder dinheiro, a dica é ser o próprio banco: “Quando você faz isso, você não perde dinheiro por conta de outras pessoas. Você pode perder porque não soube fazer a gestão. Então para se proteger, cria-se uma boa diversificação de carteira. Se você quiser fazer a gestão, você compra as criptmoedas", pontuou.

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