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Das ruas à internet: como produtos de feira conquistaram o mercado

Compras pela internet estão em alta

Variados produtos que são comercializados em feiras
Variados produtos que são comercializados em feiras |  Foto: Divulgação/Abrasel
  

Segundo a Associação Brasileiras de Bares e Restaurantes (Abrasel), em 2021 as entregas de comida passaram a representar 20% das vendas do setor, uma diminuição expressiva em comparação com os 80% registrados no ano de 2020. Em contrapartida, um estudo feito pela GS&NPD apontou que, no mesmo período, os gastos com delivery aumentaram em 21% no país.

A justificativa para o crescimento das entregas mesmo com o recuo da modalidade nas vendas de bares e restaurantes está na conquista do mercado online pelas feiras e supermercados. 

Com a pandemia e as restrições de circulação, os supermercados se viram obrigados a buscar novas soluções para que seus produtos chegassem ao consumidor. Desde então, dominaram o e-commerce, e as compras feitas através de aplicativos e sites continuam crescendo. Segundo levantamento da Linx, as vendas online do setor cresceram quase 40% apenas no ano de 2021. 

Essa expansão fez com que os supermercados adotassem as chamadas "dark stores", pequenos centros de distribuição espalhados pelas cidades. Neles, os produtos são armazenados, separados e enviados, proporcionando entregas super velozes em curtas distâncias, feitas até em minutos e se adequando ainda mais aos parâmetros da ultra conveniência. 

Mais rapidez e mais saúde 

Não foram apenas as grandes redes de supermercado que conquistaram os serviços de delivery. Feiras e pequenos mercados de bairro também se adaptaram ao nicho e viram suas entregas se expandirem graças a uma nova demanda: a dos produtos orgânicos. 

Feita pela Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis) em parceria com a consultoria Brain e a iniciativa UnirOrgânicos, a pesquisa "Panorama dos Orgânicos no Brasil em 2021" apontou um aumento de até 31% no consumo desses produtos desde o último estudo, realizado em 2019.

Os orgânicos mais consumidos são os produtos de hortifrutis (75%), grãos (12%), cereais (10%), açúcar (8%) e biscoitos (6%), o que mostra que a opção por esse tipo de alimento vai além dos ingredientes frescos. 

Para os entrevistados, os principais motivos para a adesão aos orgânicos são a busca por mais saúde e o fato de considerarem esse tipo de alimento mais saudável. Camilly Gabry, nutricionista, concorda com a opinião dos entrevistados e afirma:

"Do ponto de vista nutricional, o solo orgânico é mais rico em sais minerais. Se o solo é mais rico, então consequentemente o alimento cultivado nesse solo também será mais rico." 

Além disso, a nutricionista conta que os orgânicos possuem um sabor mais acentuado e característico, e explica qual é a diferença deles para a saúde em relação aos alimentos plantados em outras formas de agricultura, que ao contrário da orgânica, utilizam químicos tóxicos como pesticidas e adubos sintéticos:

"Os nossos órgãos e as nossas células são ambientes próprios para alimentos de verdade, e com eles a gente consegue fazer tudo fluir. Você ingere um alimento puro, sem agrotóxico, o seu corpo vai digerir, absorver, excretar. Já quando você ingere uma substância nociva, ela pode ficar no seu corpo."

O aumento do consumo de alimentos orgânicos impactou também a quantidade de produtores. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos cresceu quase 10% desde 2020 e 450% nos últimos 12 anos. Atualmente, o país conta com mais de 26 mil produtores orgânicos regularizados. 

A alimentação saudável está online 

Em meio a era do delivery, os produtores orgânicos também buscam por formas de entrar no nicho do e-commerce, incentivando não só feiras e pequenos mercados a venderem online, mas também a criação e expansão de marketplaces, serviços de assinatura, sites e aplicativos especializados na venda de produtos orgânicos. 

O Meu Amigo Tem um Sítio, mercado online de orgânicos que realiza entregas na cidade do Rio de Janeiro e em Niterói, é um desses negócios.     

Desenvolvido no ano de 2016 por Fabiana Sardinha e Ricardo Terzella, o empreendimento é um negócio de impacto social que visa aproximar quem planta de quem consome. Além de levar alimentos mais saudáveis e livres de agrotóxicos para várias pessoas, o Sítio também traz um impacto positivo para as comunidades rurais com as quais trabalha, contribuindo para o desenvolvimento social, cultural e econômico de quem vive no campo através de parcerias com grupos de pequenos produtores. 

No mercado de delivery de orgânicos há 6 anos, o Sítio também percebeu o aquecimento do setor, como conta Fabiana: "Desde a pandemia, a busca por serviços de delivery disparou. Muitas famílias pediram alimento fresco pela primeira vez e viram que é muito mais cômodo receber tudo em casa, pedindo com poucos cliques.

Também vejo que se intensificou uma tendência mundial de busca por uma vida mais saudável. Muitas pessoas se deram conta da importância de comer sem agrotóxicos e buscaram por entregas de orgânicos."

Novos amigos com sítio

O aumento da procura fez a dupla de idealizadores querer investir na expansão do serviço. O próximo passo agora é chegar às cidades do interior do Rio de Janeiro, e então em todo Brasil, " porque orgânicos devem ser para todos", diz Ricardo. 

Atualmente, o negócio conecta consumidores da capital do Rio e de Niterói a mais de 100 produtores orgânicos nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e também de várias partes do estado do Rio de Janeiro, como Seropédica, Silva Jardim, Vassouras e Duas Barras. 

Com uma série de parceiros e grande diversidade de produtos, o Meu Amigo Tem um Sítio faz com que os alimentos cheguem sempre frescos na casa dos clientes. Fabiana Sardinha explica como funciona essa logística:

"Quando fazemos o fechamento das vendas, nós passamos os pedidos para os produtores, que colhem naquele dia, e entregam para a gente no dia seguinte. Isso vale para verduras e para a maioria dos produtos mais frescos. Alguns eles levam para o nosso galpão e nós estocamos para entregar ao longo dos próximos dias. Mas, como se trata de hortifruti, a maior parte da logística acontece assim. Fazemos os pedidos, eles colhem tudo bem fresquinho, levam para a gente no galpão e nós levamos até a casa dos clientes." 

Apesar de terem produtos de hortifruti como seu carro-chefe, Ricardo e Fabiana afirmam que o negócio é mais do que apenas uma feira online, e buscam se estabelecer dessa forma: "Foi vendo a diversidade que já oferecemos que nos demos conta de que somos um mercado.", conta Ricardo. Além de frutas, verduras e legumes, hoje eles também contam com cosméticos, produtos de limpeza, peixaria, pães, sucos, kombuchas, doces e outros.

Para o idealizador, o diferencial fundamental em relação a um mercado tradicional está na origem de tudo o que é vendido. "Com a gente não é preciso ficar perdendo horas lendo rótulos. Todas as possíveis escolhas já são ecológicas, sustentáveis e baseadas em comércio justo.", ele afirma.

Segundo Ricardo, outras características que têm garantido o sucesso do empreendimento são a agilidade e comodidade do same day delivery numa ampla área de entrega, e a possibilidade de agendamento do delivery, para que assim o consumidor possa se planejar e adequar o recebimento da compra de acordo com sua rotina.

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