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    7 de Setembro

    Feriado da Independência vira cartada final na disputa pelo eleitor

    Candidatos articulam movimentos para fortalecer campanha

    Publicado 02/09/2022 às 19:50 | Atualizado em 06/09/2022 às 18:54 | Autor: Ezequiel Manhães
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    Urna eletrônica se apresenta entre os mais maiores simbolos da independência dos brasileiros
    Urna eletrônica se apresenta entre os mais maiores simbolos da independência dos brasileiros |  Foto: EBC

    A menos de um mês para o primeiro turno das Eleições Gerais, candidatos à Presidente da República, governador, senador, deputado federal e estadual ou distrital, de diferentes siglas, apostam no Dia da Independência do Brasil, com o bicentenário celebrado nesta quarta-feira (7), para conquistar mais votos e a confiança do eleitor. 

    O presidente Jair Bolsonaro (PL), por exemplo, é um dos adeptos declarados ao movimento que gira em torno do jogo de poder. Em meio a disputa pela reeleição, o candidato e seus aliados convocam manifestações a favor da legenda, numa espécie de 'cartada final'. 

    "Não é ato antidemocrático. Ficam fazendo covardia com pessoas inocentes por aí. Então 7 de setembro todo mundo junto em Brasília, depois Copacabana e vai ter na Avenida Paulista", disse Bolsonaro em transmissão pela internet na última quinta-feira (1º).

    Esse é o primeiro grande ato federal após o fim das medidas restritivas decretadas no contexto da pandemia de Covid-19.

    Para a economista e analista do setor político Maria Beatriz Albuquerque David, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), estratégias assim podem não ter o resultado esperado.

    "Tratar os 200 anos da Independência simplesmente com desprezo ou querendo usar isso politicamente, eu acho que não vai ter grande repercussão na sociedade", observou.

    É que segundo ela, os eleitores pensam em adversidades que os afetam diretamente. 

    "A sociedade pensa muito mais hoje nos problemas que afetam ela, neste momento. Mas é um grande momento da gente ter uma solidificação de nação", continua.

    Independência 

    Na semana dos 200 anos de Independência do Brasil, a constatação da analista do setor político e promotora de Justiça Erika Figueiredo, do Ministério Público do Rio, gira em torno de um povo ainda refém do Estado.

    Aspas da citação
    Nós temos uma política muito assistencialista de estado macro. O Estado se mete em tudo na vida do cidadão"
    Erika Figueiredo promotora de justiça
    Aspas da citação
     

    Erika diz ainda que a Constituição Federal de 1988 deu poderes quase que ilimitados ao Governo Federal sobre a vida de todos. 

    "E hoje estamos pagando a conta disso: de que forma? Com impostos altíssimos, um comprometimento enorme por meio dessa carga tributária  — de que todos precisam financiar a máquina estatal, que é muito pesada e muito grande", continua.

    Frente a este cenário, condições econômicas atuais foram citadas pelo Doutor em Sociologia Política Gustavo Santana, da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. 

    "No nosso país todos somos livres, o que nos aprisiona são as péssimas condições econômicas que impedem a grande maioria das pessoas de ter uma vida digna e exercer plenamente a democracia", disse. 

    Sobre a capacidade de desenvolvimento por conta própria, Santana aponta certa limitação dos brasileiros e justifica.

    Espetáculo

    Grito do Ipiranga registrado pelo pintor Pedro Américo décadas depois de 1820
    Grito do Ipiranga registrado pelo pintor Pedro Américo décadas depois de 1820 |  Foto: Independência do Brasil

    A história da Independência do Brasil geralmente é contada a partir da vinda da família real portuguesa ao Rio de Janeiro em 1808, do Dia do Fico, quando Dom Pedro decidiu continuar no Brasil, e, claro, do grito do Ipiranga. 

    Mas, essa não é toda a história da independência que, assim como nas colônias espanholas, foi marcada por conflitos armados. O Brasil no século XIX poderia ser roteiro de uma série de época com ingredientes típicos de ficção espetacular. 

    Cenas de aventura nos mares e na terra, ameaças de invasão e violência, medo, fuga, tiros, pedras, disputas pelo poder, relações de família, personagens controversos, cenas à beira do rio, homens em cavalaria, enlaces entre povos, novos ajustes e um grito de vida ou morte para chamar outras temporadas.

    O enredo só parece de ficção. Pesquisadores da história do Brasil e de Portugal constroem diferentes olhares ao contexto da Independência do Brasil, que instiga o público há praticamente dois séculos

     

    Desde o ensino fundamental, aprende-se que essa "série" não está relacionada unicamente à celebração do 7 de Setembro, motivo de feriado nacional. 

    Para entender esse marco histórico, garantem os especialistas, é preciso rever causas, eventos antecedentes e efeitos. 

    Enfim, “maratonar” os eventos que precedem e sucedem a alegoria do grito do Ipiranga, registrada pelo pintor Pedro Américo décadas depois de 1820. 

    São tantas reviravoltas que renderiam episódios agitadíssimos e à moda antiga: sem telefonemas ou mensagens instantâneas para organizar os atos entre pessoas que estão distantes. 

    As ordens e os documentos do Brasil Colônia atravessam os caminhos entre metrópole e colônia por cartas depois de meses de navio pelo Oceano Atlântico e ao sabor do vento já que o barco vapor ainda era um experimento incapaz de enfrentar os mares.

    Jogos do poder

    Maria Beatriz, da UERJ, lembrou ao ENFOCO os muitos períodos na história marcados por regimes autoritários, até a chegada da democracia. E enfatizou que, apesar do direito à liberdade, as elites brasileiras dificultam o processo até os dias atuais.

    "Antes regimes oligárquico, depois ditadura militar e agora nós temos várias elites que manipulam o poder, que se apoderam do estado. Quer dizer, não é que o brasileiro que é dependente, é massacrado pelo estado. É que o estado é privatizado por certos grupos da elite brasileira"

    Pátria amada

    Brasileiro já se enxega enquanto figura central no país
    Brasileiro já se enxega enquanto figura central no país |  Foto: Divulgação

    Para o estudioso em política Paulo Bahia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o principal problema social do país continua sendo a herança escravista. 

    "É a base de todas as discriminações e limitações sociais. Na medida em que estratifica um processo crônico de não execução social e portanto faz com que a estrutura da pobreza seja mantida", aponta o cientista político e sociólogo.

    Ele fez, porém, uma contrapartida no quesito da autonomia do brasileiro ao longo da história, enfatizando o nacionalismo de cada um de nós.

    "O brasileiro há muitos anos tem um sentimento de autonomia do seu próprio destino. Para um lado ou para o outro. Existem vários projetos diferentes dessa autonomia. Mas o brasileiro se considera central na definição dos rumos do país, já há algum tempo. Muitas vezes você pode discordar dos rumos tomados. Nós temos um sentimento de nacionalidade muito forte", destaca.

    O voto e a democracia

    Cerca de 156 milhões de brasileiros estão aptos a votar pelas eleições 2022, segundo o TSE
    Cerca de 156 milhões de brasileiros estão aptos a votar pelas eleições 2022, segundo o TSE |  Foto: Marcelo Camargo / EBC

    É importante lembrar que o processo eleitoral está no ranking das várias conquistas democráticas da humanidade, até aqui. Isso foi destacado pelo economista Guilherme Carvalhido, professor na Universidade Veiga de Almeida (UVA).

    "O voto é o resultado da democracia. Quanto mais aberto e mais amplo, melhor para a sociedade e das diferenças sociais. O voto é a concretização da democracia. A forma como ela se coloca a favor da própria população. A sociedade é dividida. Há vários interesses. E tem que ter um sistema político democrático que equacione essas diferenças em favor da possibilidade dos grupos que chegarem ao poder", ensina.

    O estudioso fala ainda que um governo eleito não deve permitir que um só grupo ou interesse mantenham-se no poder. 

    "E, sim, a possibilidade de divergir e colocar de forma organizada, ordeira, jurídica e não violenta a possibilidade desses grupos alternarem no poder. O voto é indispensável para que a democracia e sistema de alternância e de diversificação social funcione", pontua.

    Após hiato de dois anos, o desfile de 7 de Setembro, em Brasília, retorna com a presença já tradicional das forças militares, das escolas de Brasília, das escolas militares e até com um grupamento de tratores, além do desfile aéreo da Esquadrilha da Fumaça.

    A Secretaria Especial de Comunicação Social garante que os participantes passarão por revista, já que estão proibidos itens como armas, mastros de bandeira, vidros, sprays e apontadores de laser.

    O desfile é apenas um dos eventos alusivos ao 7 de Setembro e ao Bicentenário da Independência. Alguns já estão, inclusive, sendo realizados. Entre eles, a exposição do coração de Dom Pedro I, que está no Itamaraty.

    No Rio de Janeiro, a parada militar do dia 7 não será realizada na Avenida Presidente Vargas, nem na Praia de Copacabana.

    "O ato do Exército vai se dar em um pequeno trecho na Avenida Atlântica, próximo ao Forte de Copacabana, sem arquibancada ou desfile", revelou o prefeito Eduardo Paes (PSD), no último dia 17, após determinação do Comando Militar do Leste.

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