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    Violência

    Imprensa é proibida de mostrar retirada de Glauber Braga

    Sinal é cortado e jornalistas são expulsos do plenário

    Publicado 09/12/2025 às 18:49 | Atualizado em 09/12/2025 às 19:17 | Autor: Enfoco
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    A retirada da imprensa do plenário da Câmara dos Deputados, na tarde desta terça-feira (9), durante a remoção forçada do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) da mesa diretora, gerou reação imediata de parlamentares e acendeu alerta sobre censura e falta de transparência no Legislativo. O episódio ocorreu no mesmo momento em que o sinal da TV Câmara foi interrompido, impedindo que as imagens do plenário fossem transmitidas ao público.

    Glauber ocupou a cadeira da presidência em protesto contra o processo de cassação que tramita contra ele na Casa. Sem integrar a mesa diretora, o deputado se recusou a deixar o local, o que levou policiais legislativos a iniciar a retirada dele e, em seguida, a esvaziar o plenário.

    Às 17h34, horário em que a imprensa começou a ser retirada do espaço, a TV Câmara suspendeu a transmissão. Profissionais relataram que foram impedidos de registrar a movimentação e orientados a deixar o ambiente. Procurada, a assessoria do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), atribuiu a medida a um “protocolo interno”, sem detalhar sua natureza ou o responsável por acioná-lo.

    Após ser conduzido para fora da mesa diretora, Glauber criticou o corte do sinal e a retirada dos jornalistas.

    “Me solidarizo com a imprensa que foi agredida e teve seu trabalho cerceado. Nunca tinha visto cortarem o sinal da TV Câmara para impedir que as pessoas acompanhassem o que acontecia no plenário”, disse.

    Ele afirmou ainda ter solicitado tratamento equivalente ao concedido, segundo ele, a parlamentares que ocuparam a mesa diretora por dois dias em episódio anterior.

    Aspas da citação
    A única coisa que eu pedi ao presidente da Câmara, Hugo Motta, foi que ele tivesse 1% do tratamento para comigo que teve com aqueles que sequestraram a mesa diretora da Câmara por 48 horas por dois dias em associação com um deputado que está nos Estados Unidos conspirando contra o nosso país
    Glauber Graga Deputado Estadual
    Aspas da citação

    O protesto de Glauber ocorreu durante a fase inicial da sessão, destinada a discursos de até cinco minutos. A pauta do dia previa a possibilidade de votação de um projeto que reduz a pena imposta a Jair Bolsonaro (PL) e outros condenados pela tentativa de golpe de 2023.

    O clima esquentou após Hugo Motta anunciar que levará ao plenário, nesta quarta-feira (10), o pedido de cassação do mandato de Glauber, proposta que já havia sido aprovada pelo Conselho de Ética e teve recurso rejeitado na Comissão de Constituição e Justiça. O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) afirmou que a decisão de Motta foi tomada “de surpresa”, o que alimentou a reação do colega.

    A Câmara ainda não explicou quais normas embasaram a retirada da imprensa nem os critérios para o corte da transmissão institucional, pontos que seguem no centro das críticas de parlamentares e entidades jornalísticas.

    Posicionamento do Hugo Motta

    O presidente da Câmara, Hugo Motta, divulgou um pronunciamento após a crise no plenário. Na manifestação, ele afirmou que a ocupação da cadeira da Presidência por Glauber Braga representou uma agressão ao funcionamento das instituições.

    “Quando o deputado Glauber Braga ocupa a cadeira da Presidência da Câmara para impedir o andamento dos trabalhos, ele não desrespeita o presidente em exercício. Ele desrespeita a própria Câmara dos Deputados e o Poder Legislativo. Inclusive de forma reincidente, pois já havia ocupado uma comissão em greve de fome por mais de uma semana”, escreveu em sua rede social.

    Motta comparou a postura de Glauber ao comportamento que classificou como extremista, criticando o que chamou de “intimidação travestida de ato político”. Ele afirmou que grupos que se dizem defensores da democracia “vivem da mesma lógica dos extremistas que tanto criticam”, e que “o extremismo não tem lado porque, para o extremista, só existe um lado: o dele”. O presidente também declarou que “a democracia precisa ser defendida todos os dias do grito, do gesto autoritário e da intimidação”.

    Ao final do pronunciamento, Hugo Motta disse ter determinado a apuração de possíveis excessos na retirada dos jornalistas e no tratamento dispensado à imprensa durante a ação da Polícia Legislativa.

    Cassação de Glauber Braga

    O tumulto envolvendo Glauber ocorre no mesmo período em que o plenário deve analisar a denúncia apresentada pelo Partido Novo, que pede a cassação do mandato do deputado. A representação foi protocolada em abril de 2024 e se baseia em desentendimentos de Glauber com o militante do MBL Gabriel Costenaro e com o deputado Kim Kataguiri (União-SP).

    Segundo vídeos e depoimentos reunidos pelo Conselho de Ética, Glauber e Costenaro discutiram nos corredores da Câmara, episódio que evoluiu para empurrões e chutes do parlamentar contra o militante, em uma tentativa de retirá-lo à força das dependências da Casa. O deputado afirma que reagiu a “provocações sistemáticas” de membros do MBL, incluindo ofensas à memória de sua mãe, que morreu semanas depois do incidente.

    A confusão se estendeu para o lado externo do prédio, onde policiais legislativos apartaram a briga e conduziram ambos ao Departamento de Polícia Legislativa (Depol). No local, Glauber discutiu com Kim Kataguiri, que acompanhava o militante.

    O Partido Novo alega que o deputado também agrediu Kim, mas o parlamentar paulista negou ter sido alvo de agressões durante depoimento ao Conselho de Ética. Ainda assim, o relator Paulo Magalhães concluiu em seu parecer que houve agressão e afirmou não haver “dúvidas” sobre os atos, que teriam sido confirmados por imagens internas da Câmara.

    O parecer também cita outros episódios envolvendo Glauber, alguns já arquivados pelo Conselho, o que é questionado por aliados do deputado, que acusam o relator de misturar fatos e reforçar embates do parlamentar com o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL). Para Magalhães, o conjunto das condutas configura quebra de decoro e justifica a cassação do mandato.

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