Brasil & Mundo

O gênio do século XIX versus ídolos vazios do nosso tempo

Lâmpadas incandescentes devem ser retiradas do mercado brasileiro até 2016 (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Lâmpadas incandescentes devem ser retiradas do mercado brasileiro até 2016 (Marcello Casal Jr/Agência Brasil) |  Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
No filme “A Batalha das Correntes”, Thomas Edison e George Westinghouse disputam acerca da forma mais eficaz de levar eletricidade às casas americanas. Foto: EBC

Thomas Edison foi um inventor do século XIX, que passou a vida entregando ao mundo suas descobertas (foram mais de 1000 patentes por ele registradas). Dentre estas, podemos incluir o gramofone, o fonógrafo, o cinematógrafo, as embalagens a vácuo, além do aperfeiçoamento do telefone e da criação da lâmpada incandescente.

No filme “A Batalha das Correntes”, Thomas Edison e George Westinghouse disputam acerca da forma mais eficaz de levar eletricidade às casas americanas, enquanto Nicola Tesla, um sérvio que vive em Nova Iorque, corre por fora, buscando o mesmo.

Edison defendia a eletricidade de forma contínua, por meio de lâmpadas e fios, e Westinghouse vislumbrava na modalidade alternada, por meio de dínamos, implantada em postes, a forma de mais amplo alcance e durabilidade, com o menor preço. Passaram boa parte de suas vidas buscando comprovar suas teses, tendo Edison deixado para nós um legado de tecnologia e descobertas impressionantes, que impactou profundamente o século XX.

O que mais chama a atenção, no filme, é a trajetória pessoal de Edison. Tendo ficado viúvo com dois filhos pequenos utilizou todo seu tempo e recursos em experimentos e descobertas, com prejuízo de sua vida familiar e financeira. Thomas A. Edison entrou para a História, por seu arrojo, sua criatividade, inteligência e sua coragem, exercendo um papel decisivo, para a transformação da sociedade de sua época.

Fica evidente, ao longo das duas horas de exibição, o quanto era importante, para esse homem, deixar seu nome inscrito na eternidade, como alguém que influenciou o mundo positivamente, com suas descobertas. Infelizmente, pouco conhecemos da biografia desse herói, que tanto modificou nosso modo de viver.

Edison nasceu em Ohio, em fevereiro de 1847. Filho de um marceneiro e uma professora, por impertinência foi expulso da escola, tendo completado sua educação em casa, tendo a mãe como professora, o que foi fundamental para sua educação: a mesma direcionou seus estudos para a área de ciências, que era sua real aptidão.

Montou seu primeiro laboratório no porão de casa, aos 11 anos de idade, e não parou mais. Durante a Guerra Civil, instalou uma velha prensa em um vagão de trem, e publicava um jornal com tiragem diária de 400 exemplares.

Tornou-se telegrafista, mas foi demitido por dormir em serviço, nas horas de menor movimento. Anos depois, criou um telégrafo para envio de mensagens simultâneas e outro, para transmitir as cotações da Bolsa em tempo real.

Sofreu um acidente de trem que tirou-lhe parcialmente a audição, deficiência essa que foi se agravando ao longo dos anos. Criou o mimeógrafo, aperfeiçoou o microfone, inventou o fonógrafo e, após 1200 experiências fracassadas, deu ao mundo a lâmpada elétrica, que a princípio permaneceu acesa por 40 horas ininterruptas.

Inventou, ainda, a bateria, um regulador de corrente para máquinas elétricas, um distribuidor subterrâneo de energia, uma válvula precursora das utilizadas no rádio, o sistema de transmissão telegráfica de navios e trens em movimento, o cinescópio...

Fundou a Edison General Electric em 1890, a qual tornou-se um dos maiores conglomerados do mundo. Tido como louco e temperamental ao longo de boa parte de sua vida, morreu em 1931, sendo seu corpo sepultado no Edison National Historic Site em Essex, New Jersey, tendo deixado um legado imenso para a Civilização.

Não temos mais heróis como Jefferson. A ciência não é mais o que era, tampouco os cientistas. Em tempos de instantaneidade, a maturação de uma idéia e a quantidade de experimentos necessários a uma invenção cansam as pessoas, esgotam os recursos financeiros, e as descobertas não recebem os devidos créditos.

Enquanto viveu, Thomas Edison era reconhecido em toda parte, distribuía autógrafos e era tratado como um pop star. A Humanidade tinha a completa noção da importância de seus estudos e inventos, para a modernização do mundo. Todos eram imensamente gratos pelas invenções que melhoravam suas vidas.

Deixou frases épicas para a posteridade, tais como:

“Um gênio se faz com 1% de inspiração e 99% de esforço”

“A surdez foi de grande valia para mim. Poupou-me o trabalho de ficar ouvindo grande quantidade de conversas inúteis e me ensinou a ouvir a voz interior”

“Tudo alcança aquele que trabalha duro enquanto espera”

“Nossa maior fraqueza está em desistir. O caminho mais certo para vencer é tentar mais uma vez”.

“Eu aprendi muito mais com meus erros do que com meus acertos”

Temos muito a aprender com as biografias de grandes homens, que mudaram o curso da História, com seus feitos e suas descobertas, seu exemplo e sua coragem. Como costumo dizer, meus heróis não morreram de overdose. São, sim, homens honrados e desbravadores, que salvaram  seus legados para a posteridade.

As celebridades instantâneas, os ídolos vazios e os especialistas incensados pela mídia não mereceriam cinco minutos de atenção em um mundo que valorizasse o conhecimento e a honestidade intelectual.

Para que a atualidade torne-se o celeiro de gênios e heróis que tivemos no passado é preciso que o foco desloque-se para o que realmente importa na vida. O reconhecimento não pode ser perseguido: ele é a consequência de algo bem realizado, feito com amor e dedicação.

Para que sejamos grandes novamente, precisamos despir-nos dos vícios e prazeres, das ideologias da modernidade, das falácias e dos imediatismos de nosso tempo, resgatando o que nos tornou grandes como Civilização: a busca da verdade e do saber, o desenvolvimento da vocação e das aptidões, da intuição e das percepções, que perderam-se no ritmo louco de nossa época.

Nunca é tarde para nadarmos contra a corrente, pondo em prática o potencial que há, dentro de cada um de nós. Talvez não sejamos gigantes como Thomas Edison, mas podemos, de um modo ou de outro, com o fruto do nosso esforço pessoal, gravar nossos nomes na eternidade.

A niteroiense Erika da Rocha Figueiredo é escritora, promotora de Justiça Criminal, Mestre em Ciências Penais e Criminologia pela UCAM, membro da Escola de Altos Estudos em Ciências Criminais e do MP Pro Sociedade, e aluna do Seminário de Filosofia e da Academia da Inteligência. Me siga no Instagram @erikarfig

Texto extraído da Tribuna Diária publicado em 05/07/2021.

< Rio identifica dois casos da variante Delta na Região Metropolitana Gasolina, diesel e gás de cozinha mais caros a partir desta terça <