É crime

Um Rio cheio de Anas Hickmanns: estado tem mais de 40 mil vítimas

Caso da apresentadora joga luz na violência psicológica

Ana Hickmann denunciou o marido à polícia
Ana Hickmann denunciou o marido à polícia |  Foto: Reprodução

O Rio está cheio de Anas Hickmanns. Além de ter sido agredida fisicamente, a modelo era constantemente xingada e diminuída pelo marido, Alexandre Corrêa. Essa situação acontece em milhares de lares do Rio de Janeiro.

A violência psicológica foi o crime com o maior número de vítimas mulheres, ultrapassando todas as outras formas de violência sofridas por elas. De acordo com o Dossiê Mulher, 43.594 mulheres foram vítimas de seus parceiros em todo o estado no ano passado.

No domingo (26), a apresentadora falou pela primeira vez sobre o episódio de vioência sofrida no dia 11 de novembro. Ela detalhou a agressão, o boletim de ocorrência registrado por lesão corporal e violência doméstica, e ainda outras situações de violência vividas na família, com o pai.

"Eu comecei a ser achincalhada pelo Alexandre. Começamos como uma briga verbal e aí tudo infelizmente acabou terminando do jeito que depois o Brasil descobriu", disse.

Ana também contou que Alexandre controlava toda sua agenda e debochava da apresentadora.

"Você tá gorda, cuidado. Ninguém vai te querer velha. O tempo tá passando", lembrou. "Ele estava me azucrinando, me perseguindo para a parte de cirurgia plástica. Porque depois que eu tive meu filho eu tinha que fazer isso", detalhou a apresentadora.

A 18ª edição do Dossiê Mulher, divulgado pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio de Janeiro, destaca que, pelo segundo ano consecutivo, a violência psicológica foi o crime com o maior número de vítimas mulheres, ultrapassando todas as outras formas de violência sofridas por elas. De acordo com o dossiê, 43.594 mulheres foram vítimas de violência psicológica em todo o estado no ano passado.

Mais da metade dos crimes ocorreu dentro de casa, e a maioria (67,6%) foi cometida por alguém conhecido da vítima. A maior parte das vítimas tinha de 30 a 59 anos e mais da metade eram negras.

O objetivo do Dossiê Mulher é fornecer estatísticas oficiais para criação de políticas públicas voltadas para proteção, acolhimento e atendimento das mulheres e de todas as pessoas que são vítimas desse tipo de violência.

Segundo o dossiê, a Lei Maria da Penha foi aplicada em 63,5% dos casos, marcando predomínio da violência doméstica e familiar. A região metropolitana concentrou a maior parte das vítimas (71,4% do total).

A violência psicológica costuma ser a porta de entrada para outras formas de agressão e é constituída por ameaça, constrangimento ilegal, crime de perseguição, crime de perseguição contra a mulher em razão do gênero, crime de violência psicológica contra a mulher, divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável e registro não autorizado da intimidade sexual.

Autores de violência

O Dossiê 2023 traz ainda uma análise pioneira na esfera governamental sobre o perfil etário dos autores de violência contra a mulher no estado, o que facilita a implantação de ações preventivas e educacionais, pautadas na conscientização e direcionadas para diferentes grupos, destacou Castro. Do total de autores de violência contra a mulher em 2022, 52,7% tinham de 30 a 59 anos.

A análise do tipo de crime por idade identificou que, entre os autores com até 17 anos e aqueles na faixa etária de 18 a 29 anos, prevaleceu a prática dos crimes da violência física (40,2% e 42,1%, respectivamente). Já entre os autores de 30 a 59 anos e 60 anos ou mais, destacaram-se os crimes de violência psicológica, com 36,1% e 35,4%, respectivamente.

Feminicídio

No ano passado, 111 mulheres foram vítimas de feminicídio no território fluminense. Mais de 60% das vítimas tinham entre 30 e 59 anos de idade e eram negras. Os companheiros ou ex-companheiros constituem a maior parte dos autores (80,2%). Dois terços das mulheres eram mães e 57 tinham filhos menores de idade. Em 17 ocorrências, os filhos presenciaram os crimes.

De acordo com o dossiê, em 75% dos casos, o motivo apresentado pelos autores na delegacia foi sentimento de posse, como ciúmes, briga, término de relacionamento e desconfiança de traição. Em 75,1% das vezes, os autores foram presos pela Polícia Civil em flagrante, após investigação ou entrega voluntária. Entre a totalidade das vítimas, 70 mulheres já tinham sido vítimas de algum tipo de violência anterior e não procuraram as autoridades policiais para registrar as agressões sofridas.

Em 2022, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro concedeu 37.741 medidas protetivas de urgência para a mulher. Em todos os casos, foi determinado o afastamento do agressor de casa. Os registros de ocorrência comprovam, porém, que 3.587 dessas medidas foram descumpridas, os companheiros e ex-companheiros constituem a maior parte dos autores (82,1%) e mais da metade dos casos ocorreram em uma residência.

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