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    Vai tomar a vacina? Entenda a eficácia de 50,38% de forma simples

    Publicado 13/01/2021 às 16:29 | Autor: Ezequiel Manhães
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    Imagem ilustrativa da imagem Vai tomar a vacina? Entenda a eficácia de 50,38% de forma simples
    |  Foto: Pedro Conforte
    Especialistas alertam sobre a importância do imunizante. Foto: Pedro Conforte

    A divulgação de 50,38% na eficácia da vacina Coronavac, desenvolvida em parceria da farmacêutica Sinovac com o Instituto Butantan, provocou dúvidas entre os brasileiros sobre a efetividade da vacina. Para José Pozza Júnior, infectologista da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), é precoce analisar, a nível global, a eficácia.

    Mas na pior das hipóteses, o especialista alerta que mesmo na média de 50% já é possível haver remissão completa da doença — numa conjuntura de maior número de pessoas possíveis sendo vacinadas contra à Covid-19.

    "Se a gente vacinar com o maior número de pessoas possíveis, mesmo com eficácia de 50%, a gente consegue uma remissão completa da doença"

    Ele explica ao Plantão Enfoco que é preciso considerar alguns pontos: o primeiro — pelo fato do dado brasileiro (sobre a eficácia geral de 50,38% - divulgada pelo Governo de São Paulo) estar no somatório de pesquisas realizadas ao redor do mundo.

    "A gente pode estar discutindo o resultado deste teste aqui no Brasil, que é UM país onde isso foi testado. Então, para começar, a eficácia geral não é igual a eficácia aqui no Brasil. O primeiro ponto é esse", frisa o especialista.

    O segundo ponto é diferenciar qual é a eficácia da vacina em casos de sintomas leves, graves e o impacto em mortalidade, que foi bem sucedida. 

    "Se você for considerar o impacto da vacina em situações mais graves, a eficácia foi 100%. Em casos leves, a eficácia foi menor [77,96%]. O que a gente sempre tenta fazer quando utiliza a vacina é: evitar óbito, evitar internação e evitar casos graves. Então, se for considerar esse grupo de paciente, a vacina foi super bem nesse grupo"

    Tânia Vergara, presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro, diz que a informação de que a CoronaVac tem eficácia geral de 50,38%, pode ser de grande valia em termos de saúde pública.

    "Para termos resultados mais consistentes no que diz respeito à redução do número de internações seria necessário um número mais expressivo de casos. Entretanto, os primeiros resultados apontam que deverá resultar em redução expressiva de hospitalizações"

    Mestre em Doenças Infecciosas e Parasitárias (UFRJ) e Doutora em Medicina (UNIFESPE), Tânia reforça que a CoronaVac foi segura, sem eventos adversos graves. 

    "Seu desempenho foi bom para redução do número de casos mais sintomáticos. Veja, o fato de ter uma eficácia global de prevenir o aparecimento de qualquer sintoma foi em torno de 50,4%", continua.

    A comunidade científica garante que: a eficácia de 50,38% não significa que a vacina tenha 50% de chances de dar errado. Mas sim, na verdade, ao tomar a vacina, o cidadão terá quase 50,4% de chances de não desenvolver à Covid-19; 78% de chances de não precisar de atendimento médico algum e 100% de chances de não precisar ser hospitalizado ou ir para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

    O médico José Pozza Júnior, que atualmente está alocado no Centro Hospitalar Covid-19 (Fiocruz) explica que existem outras vacinas com percentual médio de 50%, citando aquelas para o Rotavírus e Gripe.

    “Geralmente ficam com menos de 50%, mas a quantidade de pessoas vacinadas é tão grande que causa impacto”, ensina. 

    Formado pela Escola de Medicina Souza Marques, o médico infectologista e epidemiologista Bruno Scarpellini, pós-graduado em Clínica Médica pela Santa Casa de Misericórdia e mestre em Epidemiologia | Saúde Pública de Doenças Infecciosas pela Graduate School of Public Health (GSPH) na Universidade de Pittsburgh (EUA), também endossa o fato de existirem outras vacinas com eficácia de 50%.

    “Existem outras vacinas que têm eficácia de 50%. Inclusive, algumas das vacinas da gripe, dependendo do ano, se elas têm uma boa correlação com as cepas que estão circulando naquele ano, às vezes elas têm uma eficácia de 90%. Mas se houver uma correlação ruim, já que a vacina da gripe é feita antes do vírus circular, ou seja, é uma análise preditiva, você faz uma previsão dos subtipos de gripe que possivelmente vão circular, alguns anos você tem uma eficácia de 50%. Mas aqui é eficácia global”

    Eficácia

    A eficácia é definida de acordo com um protocolo. No geral, todo estudo de pesquisa precisa ter um protocolo feito. E todo sujeito de pesquisa, ou seja, aquele que vai tomar a vacina ou o placebo, precisa ter acesso ao Termo de Consentimento. Esse determinado protocolo necessita estar registrado nas plataformas nacionais e internacionais de pesquisa, segundo médicos.

    Com vasta experiência, o médico Scarpellini - que fez residência em Infectologia no Instituto Nacional de Doenças Infecciosas, Fiocruz; com Doutorado pela Escola Paulista de Medicina (UNIFESP), esclarece ao Plantão Enfoco que a eficácia normalmente é definida como desfecho primário do estudo e quem a define é o pesquisador. 

    “Esse protocolo da CoronaVac está disponível pela internet. A eficácia é quanto a vacina preveniu de infecções no mundo da pesquisa, que é um mundo mais controlado, e tem uma série de regras de inclusão e de exclusão. A efetividade é a eficácia do mundo real. É quando a vacina sai e [a população] é vacinada”

    Uma eficácia de 50%, de acordo com o Dr. Bruno Scarpellini, significa um somatório feito pela seguinte lógica:

    • A quantidade de casos novos, no número de expostos à vacina; dividido pela quantidade de casos novos no grupo placebo ou não-vacina, que resultou numa fração de 50,38%, para contrair a doença de forma leve; 78% de forma moderada e 100% para hospitalização e forma grave.

    Abaixo, veja uma maneira de entender o processo da vacina CoronaVac na explicação de Alexandre Zavascki, professor de Infectologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS):

    https://twitter.com/azavascki/status/1349117011289395205

    Guerra da vacina

    A divulgação da eficácia da Coronavac gerou repercussão entre autoridades que questionaram o estudo — já que na semana passada, o Governo de São Paulo havia dito que a taxa de eficácia da vacina era de 78%. O dado se refere apenas à eficácia da vacina em relação a casos leves e que precisaram de alguma atenção médica.

    Filho do presidente Jair Bolsonaro, o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (Republicanos), foi um dos que criticaram a publicidade global do estudo.

    https://twitter.com/CarlosBolsonaro/status/1349034177887412225

    Já o deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ), que já foi vereador de Niterói, indagou a obrigatoriedade dos cidadãos se vacinarem com a CoronaVac.

    "Semana passada Doria havia dito que a eficácia da 'vachina' era de 78%. Agora é de 50,38% e ainda querem obrigar o cidadão a ser vacinado com um imunizante que funciona com a taxa de acerto de cara ou coroa", disse.

    Quem também se pronunciou foi o deputado federal Marco Feliciano:

    https://twitter.com/marcofeliciano/status/1349068630978420739

    Já o Partido Socialismo e Liberdade (Psol) endossou o fato da Coronavac ser segura e eficaz, como aponta o Butantan; e na mesma publicação alfinetou o governo Bolsonaro.

    https://twitter.com/psol50/status/1349095053109592065

    Sobre os testes

    Os resultados da vacina divulgados nesta semana foram observados em estudos no Brasil realizados com profissionais da área da saúde, mais expostos ao vírus. Mas, quando são considerados também os casos leves e que não necessitaram de qualquer atendimento médico, a eficácia foi menor.

    A eficácia geral é medida, durante os testes da vacina, comparando-se a quantidade de todos os casos (leves, moderados ou graves) que foram registrados de Covid-19 entre os voluntários que foram vacinados e os voluntários que receberam placebo.

    Ao longo do estudo de eficácia no Brasil, 252 voluntários tiveram Covid-19 de forma leve (sem necessidade de ajuda médica ), sendo que 85 deles haviam tomado vacina e 167, placebo (uma substância inócua). Dentre os voluntários no Brasil, 4.653 tomaram essa vacina e 4.599 tomaram placebo.

    Já o resultado de eficácia dos casos leves, em pacientes que precisaram receber alguma assistência médica, foi de 77,96%, sendo que sete pessoas haviam recebido a vacina, e outras 31, placebo.

    A taxa de eficácia da CoronaVac está acima dos parâmetros mínimos exigidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A taxa mínima de eficácia de uma vacina recomendada é de 50% como parâmetro de proteção.

    Segundo o governo paulista, a taxa de eficácia foi mais baixa porque incluiu todos os casos de Covid-19 relatados entre os voluntários, inclusive os casos leves.

    "A vacina consegue diminuir a intensidade da doença clínica em um ambiente de alta exposição. E esse efeito é maior quanto mais aumenta (a gravidade da doença)", falou Ricardo Palácios, diretor médico de pesquisa clínica do Instituto Butantan.

    Segundo o Butantan, a vacina garantiu proteção total contra casos graves e mortes provocadas pela doença. Nesse caso, sua eficácia foi de 100%. Nenhum voluntário que tomou a vacina morreu ou precisou de internação. 

    Anvisa

    A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) disse no início da noite desta terça, que está prevista para o próximo domingo (17) a reunião da Diretoria Colegiada que decidirá sobre pedidos de autorização para uso emergencial, temporário e experimental das vacinas do Instituto Butantan e da Fiocruz.

    A data representa o penúltimo dia do prazo estabelecido pela própria Agência como meta para análise dos pedidos. "Para tanto, faz-se necessária a entrega, em tempo hábil para análise, dos documentos faltantes e complementares", comunicou. 

    Com Agência Brasil

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