Uma farmácia de Niterói promoveu uma ação comercial considerada racista, por movimentos sociais, nesta segunda-feira (30). Duas funcionárias com os corpos e rostos pintados de preto e perucas afro abordavam clientes na porta da drogaria. O caso aconteceu na unidade da rede Venâncio na Rua da Conceição, no centro da cidade.
As funcionárias estavam convocando clientes para as promoções pelos 40 anos da rede ao som de funk e pop. Procurada, empresa informou que a campanha foi de iniciativa da gerência da unidade e que não foi aprovada pela área comercial da rede.
A ação usou a fantasia de 'Nega Maluca', utilizada em blocos carnavalescos desde a década de 50 e reiteradamente rechaçada pelo movimento negro.
Para o antropólogo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Álvaro Jarrin, a fantasia configura a prática de blackface, técnica difundida no teatro e cinema norte-americano no século XIX para caricaturar o povo negro.
Em pesquisa divulgada pela UFRJ sobre manifestações racistas veladas utilizando blackface no Brasil, Jarrin apontou que os disfarces são "tentativas de naturalizar uma hierarquia racial existente" através da humilhação.
Para Paulo Henrique Lima, coordenador do Coletivo Direito Popular e estudante de Direito na Universidade Federal Fluminense (UFF), a suspensão da ação deve ser acompanhada por uma reestruturação da política interna na rede.
"A prática de blackface é de longa data denunciada como racista pelo movimento negro, sendo lamentável empresas desse porte não desenvolverem compliance racial para evitar práticas criminosas", afirmou Lima.
Ainda de acordo com ele: "O blackface é apenas uma das faces do racismo, e, provavelmente, a empresa carece de adequações às normas legais e práticas morais de tratamento às pessoas negras, sejam funcionários ou clientes".
Segundo a rede Venâncio, tão logo a empresa foi notificada da campanha determinou a imediata suspensão da ação na franquia.
Confira a nota completa da rede de farmácias:
"Trata-se de uma iniciativa isolada da gerência da loja, que não teve aval, nem autorização do departamento de Marketing da Venancio. Logo que detectada, a ação foi imediatamente interrompida. A Drogaria Venancio repudia qualquer ato que possa ser interpretado como preconceituoso ou discriminatório e reforça seus princípios em defesa da diversidade, em todos os sentidos que ela representa".
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