Bem-estar
Adestrador de cães ajuda autistas a superar desafios em Niterói
Carlos Sardinha treina pets para intervenções terapêuticas
A interação entre o cachorro e um ser humano gera bem-estar e não é atoa que o doguinho é considerado o melhor amigo do homem.
Essa relação pré-histórica serve até mesmo para ativação de diversos estímulos físicos e mentais, principalmente, por meio de Intervenções Assistidas por Animais (IAAs).
Neste trabalho, os pets são facilitadores de um processo terapêutico, envolvendo a interação com diversos profissionais da área da saúde e da educação.
Benefícios
Para crianças e jovens diagnosticados com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), as ações são capazes de promover, entre outras coisas, a socialização, como explica a psicóloga Vanessa Breia, que é professora da Uerj/FFP, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio.
"O cão faz uma mediação significativa que ajuda a estabelecer mais facilmente a relação e a interação com outras pessoas. E, talvez, uma das características mais fortes das pessoas dentro do espectro está relacionada à dificuldade da comunicação, e os cães auxiliam na comunicação tanto não verbal quanto na verbal", ensina.
Amigo dos cães
Em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, o adestrador Carlos Sardinha treina os cães, de qualquer tipo de raça, desde 2016, na própria escola de formação, no bairro Engenho do Mato.
No espaço, também há um curso de capacitação em IAAs, que dura um ano, dirigida a servidores públicos que atuem com crianças, nas áreas de saúde, educação e assistência social. É de graça, e sempre aos finais de semana. As aulas teóricas são online.
Tudo isso é fruto de uma parceria com o Grupo de Estudos e Pesquisas em Autismo e Intervenções Assistidas por Cães (Gepac), da Faculdade de Formação de Professores da Uerj, em São Gonçalo.
O resultado esperado ao final é que a dupla, de cão e condutor, esteja preparada para atuar em atividade, educação ou terapia assistida, de forma segura, comprometida e ética.
Graduando em Psicologia, Sardinha se dedica há dois anos à formação especializada para o treinamento de cães de IAAs. Ele explica os critérios para que um cachorro atue neste processo.
"A gente treina [o cão] desde novinho até os dois anos [...] E o cão não pode ser medroso, agressivo. Tem que ser amistoso, que goste de pessoas. É feito treinamento de obediência, de socialização, ambientação, apresentação de estímulos, até ter a formação dele, de ter um equilíbrio", explica.
Restrições
Sardinha conta que há leis municipais restringindo a circulação de certas raças, de forma livre, em determinados ambientes. Essas categorias, por exemplo, não são inclusas nas IAAs, conforme explica.
"A gente tem que respeitar. O pitbull, por exemplo, em certos locais tem que estar com fucinheira, então não é legal esse trabalho de intervenção. Além de cachorros de guarda e proteção, também não podem fazer esse trabalho. Por aqui, temos labrador, golden retriever, cachorros de raça pequena, que são muito aceitas", esclarece.
Possibilidades
Responsável pelo Gepac, da Uerj, a psicóloga Vanessa Breia esclarece um outro aspecto significativo tratado neste processo: a sensibilidade do paciente.
"A gente pode pensar na parte sensorial. Muitas vezes, as pessoas dentro do espectro têm Transtorno de Processamento Sensorial (TPS). Então, a interação com o cão, a estimulação, o toque no pelo e as diferentes texturas ajudam", diz.
Na escola de formação de adestradores profissionalizantes, de Carlos Sardinha, as aulas são pagas. A duração do curso básico é de 1 mês.
"Esse tempo, é para a pessoa ter noção do que é. A partir daí tem outros cursos, seminários. Quanto mais a pessoa se dedicar, ela vai se adequando ao caminho que ela quer traçar".
Em geral, no caso das pessoas dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA), o cão tem uma tendência a validar o esforço de comunicação do indivíduo, revela a psicóloga Vanessa Breia.
"Ele atende imediatamente a demanda da pessoa e isso faz com que ela se sinta mais confortável e encorajada para estabelecer as relações, sustentar a comunicação, algo muito difícil para os autistas. A questão do contato ocular: as pessoas dentro do espectro, vão conseguir primeiro fazer o contato olho a olho com o cão, do que com outro humano, e isso pode ajudar em vários aspectos", acrescenta.
A especialista alerta, no entanto, que a medida não serve para todos os autistas.
"Tem pessoa com uma sensibilidade sensorial específica. Às vezes, o próprio odor do cão, mesmo sendo limpo e higienizado, para alguns autistas que tenham uma hipersensibilidade olfativa, talvez a interação não seja o melhor caminho. Então, não serve para todo mundo", esclarece.
Ela finaliza explicando que os cães de intervenção pertencem ao profissional envolvido no tratamento. Já o cão de assistência passa por longa preparação e faz parte do dia a dia da família.
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