Pedido de socorro

Alunos e professores se unem para salvar escola de teatro no Rio

Martins Pena é 1ª unidade de ensino deste tipo da América Latina

Escola de teatro Marins Penna fica  no centro do Rio
Escola de teatro Marins Penna fica no centro do Rio |  Foto: Marcelo Eugênio
 

Alunos da primeira unidade pública de ensino de teatro da América Latina, a Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Pena, que fica na região central da cidade do Rio, estão mobilizados para salvar o  colégio que está em ruínas há anos e somente foi interditado pela Defesa Civil Municipal no início deste mês após protesto público dos estudantes. 

 Após isso, a Fundação de Apoio à  Escola Técnica (Faetec), responsável pela escola, iniciou os processos necessários para realizar obras no local. Ainda não há, entretanto, nenhuma data prevista para que os reparos sejam realizados, embora os projetos já estejam em tramitação. 

A professora Carla Gracinda, de 40 anos, explicou ao ENFOCO que antes da pandemia já haviam sido enviados documentos informando sobre as rachaduras que estavam se abrindo nas paredes da escola, entretanto sem respostas para a execução de obras. 

Carla Gracinda, de 40 anos, é professora de Visualidades
Carla Gracinda, de 40 anos, é professora de Visualidades |  Foto: Marcelo Eugênio
  

“A gente ficou dois anos com o prédio fechado por causa da pandemia, e o antigo gestor enviou a documentação solicitando a reforma estrutural do casarão”, disse a professora. 

A vice-presidente do Grêmio Estudantil, Thuany Coutinho, de 31 anos, explicou que desde o final de 2021 alguns engenheiros chegaram a ir até o local, embora nunca tenham disponibilizado nenhum laudo que comprovasse os problemas na estrutura da escola.

Eles enviavam um engenheiro que chegava aqui e falava: ‘não gente, fica tranquilo, o prédio não vai cair não’. O Rodrigo Marconi exigia um laudo que comprovasse o que estava sendo dito pelo profissional, mas o engenheiro afirmava que era só entrar em contato com a FAETEC e avisar que a visita foi realizada e que estaria tudo certo. Mas ele não se comprometia efetivamente e com isso a FAETEC não agia, pois precisava da comprovação de um especialista Thuany Coutinho, Vice-presidente do grêmio estudantil
  

Thuany ainda relatou que no ano passado a direção da escola entrou em contato com a Defesa Civil, pois a sacada do casarão estava se rachando e poderia desabar, o que seria perigoso inclusive para os pedestres que passavam em frente ao prédio. O órgão, entretanto, apenas orientou que não utilizassem mais o espaço que apresentava riscos. 

As autoridades só tomaram uma providência após as manifestações dos alunos.
  

“No dia 6 (de março), fizemos o protesto de forma mais artística e visual do que técnica, o que motivou a Defesa Civil a vir no dia seguinte e, de fato, interditar a área. Tiraram algumas fotos das estruturas danificadas, das rachaduras nas paredes e de partes que estão mofadas. Anteriormente, a Defesa Civil já havia vindo para interditar o casarão, mas apenas com um laudo, mas não impediram a passagem ali embaixo. Em uma segunda visita, eles interditaram o Teatro Luiz Peixoto, que é uma parte não tombada, então não é do Iphan, mas por questões de infestação de cupim”, explicou Thuany. 

  • A escola também enfrenta problemas de goteira, mofo e infestações de insetos
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  • Escola de teatro Marins Penna foi interditada artisticamente pelos alunos
    Escola de teatro Marins Penna foi interditada artisticamente pelos alunos
  • Escola de teatro Marins Penna foi interditada artisticamente pelos alunos
    Escola de teatro Marins Penna foi interditada artisticamente pelos alunos
  • Escola de teatro Marins Penna foi interditada artisticamente pelos alunos
    Escola de teatro Marins Penna foi interditada artisticamente pelos alunos
  

Em relação às aulas, a professora Carla explicou que eles estão organizando turmas em outras salas como forma de não desestimular os alunos.

“A gente tem feito aulões nos prédios anexos com oficinas de teatro para manter os alunos unidos dentro da escola para que eles não possam se dispersar, mas também não é o melhor caminho”, disse a professora. 

Além desses problemas na estrutura, os alunos também lutam para que o Teatro Luiz Peixoto seja reformado. O local está totalmente destruído e, segundo a responsável pelo Grêmio Estudantil, a Faetec se comprometeu em reformar a estrutura do espaço, mas nunca teve um projeto. Inclusive um engenheiro da Faetec e a equipe de obra foram até o local, chegaram a remover a estrutura do palco, da cabine e do camarim mas não estabeleceram nenhum projeto e nem mesmo algum prazo.

  • Teatro Luiz Peixoto precisa de reforma por completo
    Teatro Luiz Peixoto precisa de reforma por completo
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  • Teatro Luiz Peixoto precisa de reforma por completo
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  • Teatro Luiz Peixoto precisa de reforma por completo
    Teatro Luiz Peixoto precisa de reforma por completo
  

A escola é responsável por alimentar a economia criativa do Estado, pois diversos atores, autores e operários do teatro tiveram a oportunidade de estudar na Martins Penna. O principal objetivo da escola é instrumentalizar os profissionais do setor, abrangendo a educação, artes, cultura e ciência e tecnologia.

Grandes artistas passaram pela escola como o dramaturgo Jô Bilac e, mais recentemente, a atriz Cláudia Macedo e outros artistas que já participaram de novelas da TV Globo. 

A escola também enfrenta problemas nas estruturas que guardam os arquivos dos alunos antigos
A escola também enfrenta problemas nas estruturas que guardam os arquivos dos alunos antigos |  Foto: Marcelo Eugênio
  

Providências 

Na última sexta-feira (24), aconteceu uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) para discutir sobre o abandono da Escola. De acordo com o cronograma do Iphan, as obras de recuperação poderão levar até um ano e meio para serem concluídas. 

A audiência contou com a presença de estudantes, ex-alunos, professores da instituição e representantes do poder público. O diretor Rodrigo Marconi explicou que o momento está sendo bom, pois estão conseguindo caminhar para algo concreto, uma vez que o diálogo está começando a dar resultado. 

Para que a reforma seja realizada e os alunos não tenham suas aulas prejudicadas, a Faetec está acertando os últimos detalhes para que ainda nesta semana os estudantes ocupem o prédio do antigo Liceu de Artes e Ofícios, também no Centro do Rio. O espaço, com um teatro de 420 lugares, foi aprovado pela comunidade escolar. 

A Faetec explicou ao ENFOCO que as atividades pedagógicas não foram interrompidas. Os alunos do último período estavam tendo aula regularmente e os demais vêm assistindo aulas remotas das disciplinas teóricas. 

Em relação às obras, a Faetec informou que foram iniciadas no último dia 13 a reforma nos espaços não tombados da escola, com previsão de conclusão em 60 dias úteis. Para a realização de restauro na área tombada, é necessário um estudo de prospecção, exigido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Já o Iphan explicou que já estão tomando as providências necessárias para que as obras de restauração e manutenção aconteçam. 

Segundo o Iphan, nas últimas semanas,  foram tomadas uma série de medidas visando à conservação da casa natal do Barão do Rio Branco, bem tombado pelo Instituto devido à sua importância histórica. Atualmente, o imóvel abriga a Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Pena, da Faetec, vinculada ao Estado do Rio de Janeiro. No dia 10 de março, o Iphan realizou uma reunião com a Faetec a fim de reforçar como funcionam os fluxos e trâmites no Iphan. E no dia 15 de março, o Iphan realizou uma vistoria técnica ao local para verificar, de modo pormenorizado, o estado de conservação do imóvel. 

Após a reunião, ficou definido que os responsáveis pela edificação vão executar etapas a curto e médio prazo para a preservação do bem tombado. O Iphan ainda informou que serão realizados serviços de conservação, manutenção e prevenção imediatos, como a substituição de telhas na cobertura; prospecção das fundações para investigar as origens das patologias estruturais, entre outros. 

O Instituto ainda detalhou que, em 2016, existiu um projeto de restauração estrutural que nunca foi executado pelo gestor do imóvel. Por isso, agora, é preciso atualizar o mapeamento de danos e das soluções propostas pelo projeto. 

Paralelamente, o Iphan vai orientar a Faetec/Estado para o planejamento adequado da ocupação do lote e de seus anexos, de modo a potencializar o valor cultural do monumento e a regularizar eventuais acréscimos irregulares, assim como possibilitar acessibilidade universal. 

LUTA POR DIREITOS BÁSICOS

Outros direitos que os alunos buscam são o passe livre e alimentação na unidade, pois todas as instituições da Faetec possuem, menos a Martins Pena segundo os  estudantes. 

De acordo com os alunos, a direção da escola já entrou em contato com a Faetec, que por sua vez, alega que a demora é devido a empresa que presta os serviços.  Eles ainda afirmam que é de suma importância, uma vez que grande parte dos alunos são de áreas de baixa renda. Alguns, inclusive, deixam de estudar por falta de verba. 

“Assim como a gente também não tem direito ao lanche que acontece na rede Faetec como um todo. A Faetec alega que não tem no espaço um nível de salubridade exigido, mas também não houve uma solução. Tivemos algumas reuniões onde as promessas são feitas mas não vemos ações”, relatou Thuany.

A Faetec não respondeu sobre isso ao ENFOCO

História da escola

A Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Pena fundada em 1908 pelo magnífico imortal e patrono da cadeira nº 2 da Academia Brasileira de Letras (ABL), Henrique Maximiano Coelho Netto, foi a primeira escola pública de teatro do país e também da América Latina.  O prédio que abriga a escola foi tombado pelo Iphan em 1930 e atualmente compõe o quadro da Faetec.

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