Educação

Alunos especiais estão sem estudar em escolas de São Gonçalo e Maricá

Instituições não oferecem professores de apoio especializado

Alunos com necessidades educativas especiais não estão recebendo aulas.
Alunos com necessidades educativas especiais não estão recebendo aulas. |  Foto: Karina Cruz
  

Escolas Municipais de São Gonçalo e Maricá estão sendo alvo de denúncias por falta de profissionais de apoio especializado. As informações são de que alunos com necessidades educativas especiais não estão recebendo aulas porque as instituições não oferecem professores de apoio suficiente para atender todas as demandas.

Helen Ferreira, docente da UFF, tem uma filha PCD (Pessoa com Deficiência) que integra na Escola Municipal Rita Cartaxo, em Itaipuaçu. De acordo com a mãe, mesmo estando em uma escola de período integral, a criança só estuda meio período por falta de mediadores. Ela ainda relatou que a própria escola já demandou a falta dos profissionais à Secretaria de Educação do município desde o ano passado, mas nada foi resolvido.

"Uma educação que se dispõe inclusiva, está excluído os educandos PCDs. Nós lutamos e acreditamos na educação do nosso município, nossa luta é para que a escola seja de fato inclusiva. Não é justo que os alunos não PCDs tenham aula normal e nossos filhos PCDs sejam atendidos com menos tempo de aula e sem o suporte adequado", explicou Helen.

Outra mãe precisou pressionar a Secretaria de Educação de Maricá para conseguir integrar a filha no mesmo colégio. A Adriana Lyra é mãe da Isadora, que possui síndrome de Down. Ela deixou claro que sua filha é extremamente autônoma, mas ainda necessita de um cuidador na escola, já que lá é um ambiente fora da zona de conforto da Isadora. Para conseguir isso, ela precisou ter pulso firme e contestar a secretaria de educação. Embora todo o transtorno da situação, ela garantiu que a secretaria se mostrou solícita e disposta a ouvir todas as demandas da aluna, conseguindo um cuidador para atender a Isadora na escola.

"Eu fiz uma pressão sim, eu me coloquei como uma muralha sim, eu disse que colocaria minha filha às 8 horas da manhã no integral, sim. Eu não aceito o inaceitável, que é uns terem um direito e os outros não", disse Adriana.

Em São Gonçalo, município vizinho, esse mesmo problema vem acontecendo. Rodrigo Santos é autônomo e tio de uma criança de 7 anos, aluno da Escola Estadual Municipalizada Carlos Maia, no Porto Velho. A criança se encaixa no espectro autista e, para conseguir frequentar as aulas, o tio precisou suar a camisa.

"Pela Secretaria de Educação não saiu o professor de apoio dele. Eu tive que ir na DP 72° do Mutuá, no conselho tutelar várias vezes, eu fui na ouvidoria várias vezes e nada. Só que, na última vez eu tive que ir lá escandalizar para que a ouvidora geral ligasse para a Secretaria de Educação e aí mandaram um professor de apoio. Mas eu suei, suei", informou Rodrigo.

Os relatos são de que, na unidade Carlos Maia, existem outros 8 alunos autistas que também estão passando pelo mesmo problema. No entanto, as reclamações não se restringem a essa unidade, a Maria do Nascimento, que faz parte da coordenação geral do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação de São Gonçalo, alertou para a falta de mil profissionais de apoio na rede, número que compete com o de crianças que necessitam de serviços especiais. Ela ainda informou que um concurso para profissionais de educação foi realizado no município, em outubro, mas, até agora, ninguém foi chamado.

Uma funcionária da rede municipal em São Gonçalo, que preferiu não se identificar, relatou que cada professor pode ter até 3 alunos especiais e, para conseguir suprir essa demanda, só na unidade em que ela trabalha precisaria de 22 professores, coisa que não tem.

Tem criança tendo aula normal, enquanto as especiais estão sendo excluídas.
 

"Com a pandemia, muita gente tirou os alunos da rede particular e foram para o público. Tem criança tendo aula normal, enquanto as especiais estão sendo excluídas. A prefeitura diz que está convocando professores e não convoca. A falta de ensino pode fazer com que as crianças regridem, tem mães e pais desesperados, pedindo 'pelo amor de Deus', porque tem criança que já não está conseguindo reconhecer as cores, coisas simples que fazem a diferença", denunciou a funcionária.

A Escola Municipal Amaral Peixoto, no bairro Lindo Parque, começou a realizar obras no começo do ano letivo, mas já informou aos pais que não tem professores de apoio para atender as crianças especiais. A Ana Letícia Rodrigues, dona de casa, é mãe da Beatriz, que tem atraso no desenvolvimento psicomotor e microcefalia, de acordo com a mesma, a falta dos profissionais está compactuando para um atraso na educação da filha.

"Minha filha ficou sem estudar por causa da pandemia, aí as aulas voltaram agora com o ensino remoto porque a escola está em obra, o que também já está errado porque poderiam ter feito obra no período de férias. Acontece que, quando retornar, não tem previsão pra Bia começar a estudar, porque só tem dois professores de apoio para a escola inteira, e ela precisa de um professor de apoio só pra ela. Só que isso atrasa mais ainda os alunos especiais que precisam estar na escola para socializar e ter o aprendizado dentro de cada uma de suas limitações", expressou a mãe.

Procurada, a Secretaria de Educação de São Gonçalo somente esclareceu que o concurso realizado em outubro de 2021, voltado para os profissionais de educação, já convocou 759 profissionais para suprir a carência das redes e que, assim que os profissionais tomarem posse, irão assumir seus respectivos lugares na comunidade escolar. Já a Secretaria de Educação de Maricá informou que vai contratar novos profissionais para suprir a demanda.

"A Prefeitura de Maricá, por meio da Secretaria de Educação, informa que existem 377 mediadores pedagógicos, profissionais especializados em atender aos alunos que precisam de aulas educativas especiais. O processo de contratação de novos funcionários está em andamento para atender à demanda pelo atendimento especializado. É importante destacar que os alunos estudam em tempo integral, com exceção daqueles que necessitam de adaptação, e há orientação interna para que eles estejam nos espaços escolares, independente da condição. Cabe à unidade escolar fazer levantamentos e identificar os alunos que necessitam de apoio para adotar estratégias que possam atender a todos.  A Secretaria de Educação esclarece ainda que não é função do mediador pedagógico lecionar, ficando essa responsabilidade ao professor regente da turma. Ele é o canal facilitador de aprendizagem do aluno com deficiência, quando necessário, já que muitos deles possuem autonomia e não precisam de mediador.", emitiu em nota.

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