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    Apartamentos vendidos em Niterói não são entregues

    Publicado 26/12/2019 às 19:37 | Autor: Eduarda Hillebrandt
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    Eloá, filha de Alexandra e Marcelo, ainda não havia nascido na época da aquisição do imóvel. Foto: Eduarda Hillebrandt

    Famílias viram o sonho da casa própria se transformar em pesadelo. Um condomínio de alto padrão com dois blocos de 11 pavimentos, perfil ecológico e amplas áreas comuns que ocuparia um terreno de 5 mil m² na Rua Joaquim Távora, em Icaraí, na Zona Sul de Niterói, não tem previsão de conclusão.

    A maioria das 226 unidades do condomínio Terramarine Icaraí foram vendidas no lançamento, em 2012, com valores na faixa de 500 a 800 mil reais, dependendo da localização do apartamento.

    Na época, os adquirentes idealizavam a retirada das chaves em outubro de 2016, conforme a promessa da construtora João Fortes Engenharia. No entanto, quase um ano depois do prazo de entrega, as obras estacionaram em setembro de 2017. A luta das famílias hoje é por respostas concretas da empresa.

    O cenário se repete na Rua Noronha Torrezão, em Santa Rosa. Na altura do nº 184, o condomínio Start Collection, da mesma incorporadora, avança para dois anos sem obras. O empreendimento iria oferecer 144 apartamentos.

    A família da secretária executiva Alexandra Rodrigues, de 39 anos, apostou todas as economias no Terramarine. Na época grávida da primeira filha, Eloá, Alexandra e o marido - o gerente de projetos, Marcelo - venderam o apartamento que tinham em Nova Iguaçu e se mudaram para Niterói.

    "Resolvemos morar na rua do empreendimento para ouvir o quebra-quebra. Alugamos um apartamento quase em frente e acompanhamos cada andar subindo, no início era um por semana, a todo vapor. O processo foi ficando mais lento, notamos que o pessoal estava reduzido. Logo, havia menos material entrando. E todo mundo começou a se perguntar o que estava acontecendo", contou Alexandra.

    O casal arcou com 90% do imóvel de dois quartos no 8º andar. Queriam comemorar o aniversário de Eloá no salão de festas do condomínio, em dezembro de 2016. Eloá já completou 4 anos e a família resolveu se mudar para São Paulo, sem perspectiva de resgatar o investimento.

    "São quatro anos de espera da obra. Nós mudamos para São Paulo, e o nosso dinheiro todo investido nesse conjunto de tijolos aí. Mas continuamos com sonho de vir pra cá. Fica esse sonho misturado com frustração", afirmou Alexandra.

    Obra sem conclusão frustra Willen Silva, um dos clientes. Foto: Eduarda Hillebrandt

    Enquanto parte dos clientes assinaram o distrato e outros acionaram a Justiça por ressarcimento, um grupo de 96 compradores se reuniu para pressionar pela retomada das obras.

    É o caso do servidor público Carlos Augusto Oliveira, de 48 anos. Quando resolveu apostar no imóvel na planta, residia no Fonseca com a esposa. A família se desdobrou para arcar com as parcelas durante dois anos. Ao notar o atraso na obra, iniciou a organização com as outras famílias que se sentem lesadas pela empresa.

    Sem recursos

    A construtora João Fortes, que tem sede na Barra da Tijuca, alega falta de recursos para concluir as obras. Em nota, a empresa informou que busca financiamento para retomar as obras do Terramarine e do Start Collection.

    Aos clientes que se manifestam sobre o assunto nas redes sociais, a empresa aponta que o mercado enfrenta um período de baixa no crédito imobiliário e que os cancelamentos dos contratos dificulta a retomada das obras.

    Start Collection tem obras paradas desde setembro de 2017 em Niterói. Foto: Eduarda Hillebrandt

    "A construtora sempre fornece uma resposta padrão. Não nos mostram a realidade, é um total descaso. Não vejo saída. Precisamos nos reunir para viabilizar a entrega dos apartamentos", afirmou Carlos Augusto.

    Dados da bolsa de valores da Bovespa apontam que, desde a época de paralisação das obras, as ações da construtora caíram 62% — a oscilação acompanha a crise mercado imobiliário que afetou outras incorporadoras.

    Sobre o efeito da baixa das cotações sobre o impulsionamento de imóveis na planta ou possibilidade de pedido de recuperação judicial, a empresa informou, em nota, que 'não comenta rumores de mercado'.

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