Cidades
Apartamentos vendidos em Niterói não são entregues
Famílias viram o sonho da casa própria se transformar em pesadelo. Um condomínio de alto padrão com dois blocos de 11 pavimentos, perfil ecológico e amplas áreas comuns que ocuparia um terreno de 5 mil m² na Rua Joaquim Távora, em Icaraí, na Zona Sul de Niterói, não tem previsão de conclusão.
A maioria das 226 unidades do condomínio Terramarine Icaraí foram vendidas no lançamento, em 2012, com valores na faixa de 500 a 800 mil reais, dependendo da localização do apartamento.
Na época, os adquirentes idealizavam a retirada das chaves em outubro de 2016, conforme a promessa da construtora João Fortes Engenharia. No entanto, quase um ano depois do prazo de entrega, as obras estacionaram em setembro de 2017. A luta das famílias hoje é por respostas concretas da empresa.
O cenário se repete na Rua Noronha Torrezão, em Santa Rosa. Na altura do nº 184, o condomínio Start Collection, da mesma incorporadora, avança para dois anos sem obras. O empreendimento iria oferecer 144 apartamentos.
A família da secretária executiva Alexandra Rodrigues, de 39 anos, apostou todas as economias no Terramarine. Na época grávida da primeira filha, Eloá, Alexandra e o marido - o gerente de projetos, Marcelo - venderam o apartamento que tinham em Nova Iguaçu e se mudaram para Niterói.
"Resolvemos morar na rua do empreendimento para ouvir o quebra-quebra. Alugamos um apartamento quase em frente e acompanhamos cada andar subindo, no início era um por semana, a todo vapor. O processo foi ficando mais lento, notamos que o pessoal estava reduzido. Logo, havia menos material entrando. E todo mundo começou a se perguntar o que estava acontecendo", contou Alexandra.
O casal arcou com 90% do imóvel de dois quartos no 8º andar. Queriam comemorar o aniversário de Eloá no salão de festas do condomínio, em dezembro de 2016. Eloá já completou 4 anos e a família resolveu se mudar para São Paulo, sem perspectiva de resgatar o investimento.
"São quatro anos de espera da obra. Nós mudamos para São Paulo, e o nosso dinheiro todo investido nesse conjunto de tijolos aí. Mas continuamos com sonho de vir pra cá. Fica esse sonho misturado com frustração", afirmou Alexandra.
Enquanto parte dos clientes assinaram o distrato e outros acionaram a Justiça por ressarcimento, um grupo de 96 compradores se reuniu para pressionar pela retomada das obras.
É o caso do servidor público Carlos Augusto Oliveira, de 48 anos. Quando resolveu apostar no imóvel na planta, residia no Fonseca com a esposa. A família se desdobrou para arcar com as parcelas durante dois anos. Ao notar o atraso na obra, iniciou a organização com as outras famílias que se sentem lesadas pela empresa.
Sem recursos
A construtora João Fortes, que tem sede na Barra da Tijuca, alega falta de recursos para concluir as obras. Em nota, a empresa informou que busca financiamento para retomar as obras do Terramarine e do Start Collection.
Aos clientes que se manifestam sobre o assunto nas redes sociais, a empresa aponta que o mercado enfrenta um período de baixa no crédito imobiliário e que os cancelamentos dos contratos dificulta a retomada das obras.
"A construtora sempre fornece uma resposta padrão. Não nos mostram a realidade, é um total descaso. Não vejo saída. Precisamos nos reunir para viabilizar a entrega dos apartamentos", afirmou Carlos Augusto.
Dados da bolsa de valores da Bovespa apontam que, desde a época de paralisação das obras, as ações da construtora caíram 62% — a oscilação acompanha a crise mercado imobiliário que afetou outras incorporadoras.
Sobre o efeito da baixa das cotações sobre o impulsionamento de imóveis na planta ou possibilidade de pedido de recuperação judicial, a empresa informou, em nota, que 'não comenta rumores de mercado'.
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