Cidades

Autistas sem amparo em Maricá: mães denunciam dificuldade nos atendimentos

Imagem ilustrativa da imagem Autistas sem amparo em Maricá: mães denunciam dificuldade nos atendimentos
Grupo alega falta de terapeutas e dificuldade de acessibilidade. Foto: via grupo Enfoco

Um coletivo de mães, que representa quatro grupos atrelados a políticas inclusivas de Maricá, vem realizando uma série de denúncias contra o Centro de Reabilitação (CER) e Casa do Autista, localizado no bairro Parque Nanci, às margens da Rodovia Amaral Peixoto (RJ-106), em Maricá. Elas pedem melhorias nas políticas para pessoas com autismo e portadores de deficiência, e relatam falta de acessibilidade.

Atualmente o coletivo é formado por quatro grupos: PcD Maricá, Unidos pelo Serviço de Atendimento e Reabilitação Especial de Maricá (SAREM), Casa do Autista e Grupo de Apoio a Mães de Autistas de Maricá (GAMAM). Ao todo, cerca de 500 pessoas são representadas e seriam beneficiadas com o contato com a prefeitura para melhorias no acesso à Casa do Autista. No último dia 14, algumas mães chegaram a se reunir em frente ao local para protestar.

“O objetivo foi cobrar o andamento das obras e equipamentos para a Casa do Autista, mas o que levou ao movimento de imediato foi o corte nos pagamentos dos funcionários do SAREM — único equipamento para autistas que funciona no município. A Casa do Autista ficou pronta em 2019, mas não chegou a ser aberta por causa da pandemia. Já se passaram dois anos e o equipamento está parado. Atualmente, o meu filho de 15 anos, por exemplo, é autista severo, está sem equipamento e fora da escola".

Zeni Rocha, assistente social e representante do grupo Casa do Autista

Segundo Zeni, os terapeutas que trabalhavam no SAREM foram realocados para a Casa do Autista, que nem chegou a abrir para atendimento, apenas para triagem. Com a falta de pagamento e ausência de novas contratações, as mães temem que as pessoas autistas do município fiquem desamparadas, sem nenhum tipo de acompanhamento.

Em entrevista para o Enfoco, o coletivo de mães informou que a Prefeitura de Maricá prometeu diferentes meios de acessibilidade para o projeto Centro de Reabilitação e Casa do Autista. 

“Quando nos foi prometido esses dois equipamentos públicos, nós avisamos que era um prédio que não tinha acessibilidade. Então nos informaram que teríamos um elevador, que colocaria as pessoas do primeiro andar para o segundo, porque eu posso ter um autista de baixa mobilidade; um traffic calming; e guardas municipais. A gente, na verdade, não tem nada disso. Nós temos hoje o Centro Especializado em Reabilitação (CER) e a Casa do Autista fazendo triagem e as famílias se virando para chegar nesses prédios. Eu duvido, sinceramente, que a casa seja inaugurada em novembro, que é a quarta data que nos foi comunicada".

Vivione Leone, professora e representante do GAMAM
https://youtu.be/Gg1oqw5TALs
Confira uma parte da entrevista com o coletivo de mães sobre a Casa do Autista. Imagens: Enfoco/ via Zoom

Dificuldade de acesso

De acordo com o representante do Unidos pelo SAREM, Dominique Lopes, um dos filhos conseguiu a vaga após entrar com um recurso na Justiça.

"Eu tive que correr atrás de todos os recursos na Justiça. O meu filho teve regressão... Era autista moderado e passou para severo. Tive que recorrer ao SAREM para conseguir ajuda para ele. Isso pela falta de atendimento! Fiquei cinco meses na luta para conseguir um atendimento adequado pois há uma fila muito longa. O SAREM em si não dá conta da demanda. Botando em vista a Casa do Autista: é difícil o acesso. Por exemplo, o meu filho tem sensibilidade auditiva. Se eu estivesse atravessando a pista e algum caminhão buzinasse, ele no desespero poderia soltar minha mão e acontecer um acidente".

Dominique Lopes, doméstica e representante do grupo Unidos pelo SAREM

Com a falta de atendimento durante a pandemia, as mães tiveram que cuidar de seus filhos em casa com pesquisas disponíveis na internet. Segundo Viviane Régis, mãe de dois filhos autistas, a locomoção para a Casa do Autista será a principal barreira para retomada do tratamento.

"Com a pandemia parou tudo. Tivemos que nos virar e procurar tudo na internet. Inclusive, a psicóloga do meu filho mais velho, que já fazia mais tempo o tratamento, passou ele para a Casa do Autista. Por enquanto, ele está sem tratamento. Meus filhos vão ficar dois dias diferentes na terapia. O pessoal do SAREM ia tentar me ajudar para dar entrada em benefício e facilitar a locomoção, mas não deu. Meu filho mais velho tem alergia crônica. Imagina pegar os ônibus lotados? Em vez deles aumentarem a frota, parece que diminuíram. É com coração na mão e com fé, porque não tem outro jeito".

Viviane Régis, doméstica e representante do grupo PcD de Maricá.

Resposta

Procurada, a Prefeitura de Maricá informou, por meio da autarquia Serviços de Obras de Maricá (Somar), que está estudando a instalação de novas passarelas ao longo da Rodovia Amaral Peixoto (RJ-106). Ainda reforçou que está atuando nos pontos críticos da via, onde apresentam maiores demandas, incluindo o acesso à Casa do Autista. No entanto, ressaltou que a demanda é uma responsabilidade do Departamento de Estradas e Rodagens do Rio de Janeiro (DER-RJ).

Contudo, a Secretaria de Cidades, responsável pelo DER, informou que não há estudo ou pedido da prefeitura neste sentido. Em relação à Casa do Autista, o Executivo maricaense ainda não se pronunciou.

A Organização Social Ecos informou que as obras para a instalação de um elevador entre os andares será iniciada na próxima quarta-feira (27). Segundo a Ecos, o local recebeu jogos, materiais de pintura, equipamentos e acessórios de pilates e fisioterapia, estando nas condições previstas em contrato com a Prefeitura de Maricá. Sobre a contratação de novos terapeutas, a organização ainda não se pronunciou.

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