Inclusão

Barbie 'made in favela': projeto leva 'onda rosa' a meninas em SG

Ideia é incentivar autoestima das crianças do Complexo da Coruja

As meninas passaram a brincar como a Barbie
As meninas passaram a brincar como a Barbie |  Foto: Lucas Alvarenga

O tema da Barbie voltou com tudo nos últimos meses com o lançamento do filme da famosa boneca, que ocorreu nesta quinta-feira (20). Diversas são as meninas, das mais diversas gerações e biotipos que passaram a se enxergar como a Barbie. Pensando nisso, Douglas Oliveira resolveu fazer uma caixa da Barbie para as meninas do projeto "Primeira Chance", criado por ele no Complexo da Coruja, São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio, se perceberem como a boneca. É a Barbie Made in Favela!

A ideia foi criada na quinta-feira (20), e a primeira caixa ficou pronta já nesta sexta (21). A caixa é feita de madeira com uma pintura rosa e o nome da Barbie na parte de baixo, como se fosse a caixa da própria boneca. Na parte lateral, um dos desenhos inclui a frase: 'Made in Favela'. A criança entra ali dentro e se sente como a Barbie. 

A novidade agradou diversas meninas do projeto. As crianças que fazem balé no ''Primeira Chance'', por exemplo, amaram se sentir como a boneca que elas tanto têm o costume de brincar. 

"A Primeira Chance é uma ponte que liga a favela à oportunidade. Tudo aquilo que a favela merece por direito, mas a sociedade não oferece, o 'Primeira Chance' cria essa ponte. Quando a gente vê a Barbie, são sempre os mesmos modelos, nos mesmos lugares. Há pouco tempo, por exemplo, eu vi uma caixa da Barbie no Rio Grande do Sul, onde dei uma palestra, e pensei 'por que não ter uma dentro da favela para as crianças daqui, que dificilmente têm essa oportunidade de ir  no shopping para tirar uma foto dessa?' Antes de fazer algo, inclusive, a gente sempre pergunta para a favela se aquilo é importante para ela e, se for, aí sim trazemos para cá. Primeiro, foi um susto para as mães, que perguntaram de onde tirei essa ideia, mas um susto bom e deu tudo certo", contou Douglas, de 33 anos. 

Para conseguir fazer a primeira caixa, Douglas organizou uma mini-campanha arrecandando recursos financeiros de quem podia doar. Os custos incluem a fabricação da caixa, o deslocamento, gasolina e outros. Essa é apenas a primeira de muitas caixas da Barbie que Douglas pretende implementar em outras favelas por São Gonçalo e região, mas, para isso, ele continua precisando de doações. 

"Queremos fazer um evento também, acompanhando o filme: o lançamento da caixa com um cenário bonito. Assim, as crianças conseguem aproveitar não só a caixa, mas o cenário também. A ideia é fazer o evento durante as férias desse mês", afirmou. 

Para quem quiser doar, basta enviar qualquer valor para o PIX do projeto pelo CNPJ: 41.793.974/0001-57 ou combinar doações de materiais ou de serviços pelo número (21) 99308-8539 ou pelo Instagram.

As doações podem ser feitas também em uma das sedes da instituição que ficam nos seguintes endereços: Travessa Farias, 167, Covanca e Rua Henrique Bento Espinosa, 48, Pita. 

  • Kettelyn Vitória se sentiu como a Barbie por um dia
    Kettelyn Vitória se sentiu como a Barbie por um dia
  • Joyce Kelly é mãe de Kettelyn e adorou a brincadeira
    Joyce Kelly é mãe de Kettelyn e adorou a brincadeira
  • Dani Dipui é professora de balé no projeto
    Dani Dipui é professora de balé no projeto
  • As meninas do balé se tornaram Barbies
    As meninas do balé se tornaram Barbies
  • Douglas idealizou o projeto Primeira Chance
    Douglas idealizou o projeto Primeira Chance
  • As meninas passaram a se ver como a boneca que tanto adoram brincar
    As meninas passaram a se ver como a boneca que tanto adoram brincar
  • Suelen Batista gostou de ver a filha Yasmin como Barbie
    Suelen Batista gostou de ver a filha Yasmin como Barbie
  • A Barbie também pode ser da favela
    A Barbie também pode ser da favela
  • A caixa da Barbie foi feita através de doações
    A caixa da Barbie foi feita através de doações

Reação das mães 

Não só as crianças amaram a ideia da caixa da Barbie idealizada por Douglas. As mães das pequenas bailarinas do ''Primeira Chance'' também ficaram felizes de verem as crianças se tornarem a boneca que elas tanto gostam. 

Suelen Batista, de 34 anos, é mãe de Yasmin, de 6 anos. A filha dela está no projeto há quatro anos e adora. "Eu coloquei ela no projeto porque é difícil de ver onde moramos as crianças brincando na rua ou fazendo outras atividades. É difícil na questão financeira, fica puxado. Então, para ela ter uma atividade, aprendendo, e ter disciplina, eu coloquei ela aqui. E ela adora o projeto, odeia faltar e quando, por exemplo, não consegue vir porque a professora passou mal, ela chora e tudo", contou. Yasmin faz balé, violino e reforço escolar no projeto. 

"A ideia da Barbie é criativa. As crianças estão de férias e hoje você abre a internet e só tem Barbie, mas nem sempre a gente consegue levar ela para um passeio, para ver as coisas, então a Barbie veio até ela né? Com isso, as crianças se sentem mais especiais. Minha filha é gordinha, então, ela se sente mais incluída ainda e percebe que não tem padrão, que ela pode ser a boneca. Nem todos tem uma oportunidade como essa oportunidade, na minha época, eu não tinha. É bom para ela entender que a favela não a limita, ela tem muitas oportunidades, como a Barbie", afirmou Suelen que também é a empreendendora. Yasmin quer ser advogada quando crescer. 

Joyce Kelly, de 27 anos, é mãe de Kettelyn Vitória, de 8 anos. A menina cursa violino, balé, reforço e um curso de liderança no ''Primeira Chance'', onde está há três anos. "Eu não tinha oportunidade de pagar um balé em outro lugar, soube do projeto, coloquei ela aqui no balé e ela conseguiu fazer outras coisas, como o violino, que ela se encontrou muito. Ela já se apresentou até em teatros com o balé. É uma oportunidade que toda criança necessita ter e o projeto deu isso para ela. Se eu tivesse essa oportunidade quando criança, muita coisa teria sido diferente na minha vida", contou a merendeira que disse que Kettelyn quer ser muitas coisas na vida, incluindo bailarina, treinar ginástica rítmica e etc. 

Joyce falou também sobre a ideia da Barbie de Douglas. "Vejo que muitas caixas dessa estão em shoppings e muitas dessas crianças daqui não têm como ir em um shopping para isso. É uma oportunidade para elas se verem como uma Barbie e entender que cada um é de um jeito. Ela gostou muito", contou. 

O projeto 

O ''Primeira Chance'' foi criado há oito anos por Douglas. Ele havia acabado de perder seus pais e um primo para a criminalidade. "Foi quando eu disse que não queria mais aquilo, entendi que havia cansado e pedi a Deus uma alternativa, uma ideia para fazer alguma coisa e veio essa ideia. Eu atuava em um colégio particular, comecei a observar a qualidade da educação e pensei: 'e se levássemos isso para a favela? Talvez a gente teria menos enterros e mais formaturas'. Foi aí que o projeto começou. Éramos só eu e minha esposa conversando com cinco crianças e hoje está aí", contou ele que hoje atende 172 crianças com o projeto. 

O ''Primeira Chance'' ocorre no Complexo da Coruja, mas qualquer pessoa de outra comunidade pode participar se tiver vaga. Diversas são as aulas oferecidas: para as crianças, por exemplo, são disponibilizadas aulas de balé, de violino, de inglês e de tênis, além de reforço. Para jovens, são oferecidos cursos de pré-vestibular e capacitação, como maquiagem, barbeiro e manutenção de computador e celular. Para os idosos, são oferecidos cursos de alfabetização. Todos os cursos são gratuitos.

Quem tiver qualquer interesse em participar do projeto, pode procurar Douglas no Whatsapp ou no Instagram já mencionados e também no site

Dani Dipui, de 52 anos, é professora de balé no projeto e também é diretora de uma escola. Ela foi convidada por Douglas para dar aulas no projeto em 2019 e, desde então, se encanta em ver as meninas todas as semanas no ''Primeira Chance''.

"Quinta de noite é sempre uma maravilha porque eu sei que sexta vou vir aqui e encontrar com ela. É uma dádiva! Ano passado, coloquei elas no palco para dançarem juntos com minha academia de dança e elas estavam emocionadas. É um sonho! O balé não é uma atividade que todos conseguem ter acesso, é caro, mas aqui eu dou meu melhor. É uma paixão dar aulas para elas!", afirmou. 

Ela também está aberta a receber meninas em seu estúdio, fora do projeto. No ano passado, as meninas do balé do ''Primeira Chance'' se apresentaram no Teatro Popular Oscar Niemeyer e irão, nesse ano, se apresentar no Theatro Municipal de Niterói.

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