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Ceia dividida: preços altos oficializam 'cada um traz o seu' no natal

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|  Foto: Foto: Karina Cruz
Alimentos importados, como a noz, está mais caro devido à desvalorização do Real. Foto: Karina Cruz

A tradicional mesa farta de natal do brasileiro vai ter que ficar para 2022. Isso porque, em levantamento realizado pela Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj) no último dia (13) revelou que mais de 50% dos consumidores vão reduzir gastos com compras de natal, em relação ao ano passado. Segundo a pesquisa, o valor da ceia deve ficar entre R$ 100 e R$ 300 neste ano, e considerando a alta no valor do alimentos a perspectiva é de uma ceia bem mais simples.

De acordo com a Asserj, a ave Chester, por exemplo, aparecem entre os principais ingredientes previstos na ceia deste ano para mais da metade dos entrevistados. Os dados se justificam a partir dos consumidores de Niterói que lançam de estratégias para garantir os produtos natalinos.

A equipe de reportagem do Enfoco percorreu nesta terça-feira (21) diferentes supermercados de Niterói e identificou que o frango estão entre os alimentos mais procurados para a noite de natal. A preferência em relação ao produto se justifica por conta do aumento do preço do pernil e do peru. No comparativo entre um estebelecimento da zona sul e do centro da cidade, o preço do peru apresentou variação de até 10,4%

“De dois anos para cá teve um aumento absurdo em tudo. Os alimentos natalinos continuam caros, como foi no ano passado. O peru ninguém compra. O Chester está lotado no freezer. As pessoas preferem comprar a ave, que mesmo assim, está fora do padrão do brasileiro. Quem puder fazer a sua ceia de natal hoje em dia tem que agradecer muito.”

Luciana Silva, moradora de Maria Paula

A estratégia referente a compra da ave natalina, citada por Luciana, tem relação com o preço do produto. Em um mesmo supermercado, por exemplo, a carne branca pode ser encontrada com um diferença de 65%. 

Pratos tradicionais como rabanada e o panettone, também foram afetados pela alta nos preços. Segundo o levantamento, o quilo do pão para rabanada pode ser encontrado por R$ 16,90, no Centro, e R$ 18,90, em Icaraí. Enquanto no Fonseca, a unidade pode ser encontrada a R$ 5,49.

Ceia compartilhada

Uma maneira de se desvencilhar do preços altos é dividir os custos entre os familiares. Márcia Mattos, moradora do Ingá, revela que a ceia deste ano será compartilhada pela família para diminuir as despesas.

"Tudo aumentou em relação ao ano passado. Como agora nós podemos nos reunir, mas com uma certa restrição, eu e minhas irmãs decidimos fazer uma ceia conjunta. Nós literalmente dividimos para diminuir o custo em busca de não ficar pesado para ninguém"

Márcia Mattos, moradora do Ingá

Pesquisa

Para a pesquisa foram analisados estabelecimentos do Centro; Zona Norte; e Zona Sul.

Tender (kg)Zona SulZona NorteCentro
Mais caroR$ 59,98R$ 59,98R$ 59,98
Mais baratoR$ 44,99R$ 42,99R$ 36,98
PanettoneZona SulZona NorteCentro
Mais caroR$ 19,99R$ 19,99R$ 18,99
Mais baratoR$ 8,49R$ 9,98R$ 8,99
Peru (kg)Zona SulZona NorteCentro
Mais caroR$ 21,98R$ 22,98R$ 22,98
Mais baratoR$ 19,90R$ 21,98R$ 21,98
Pernil (kg)Zona SulZona NorteCentro
Mais caroR$ 34,38R$ 12,97R$ 18,45
Mais baratoR$ 19,90R$ 12,97R$ 14,99
EspumanteZona SulZona NorteCentro
Mais caroR$ 79,99R$ 89,90R$ 29,90
Mais baratoR$ 29,99R$ 18,99R$ 21,90
Nozes (kg)Zona SulZona NorteCentro
Com cascaR$ 54,00R$ 49,90R$ 39,90
Sem casca-R$ 139,90R$ -
Castanha (kg)Zona SulZona NorteCentro
PreçoR$ 79,99R$ 79,90R$ 48,90
Frango especial (kg) Zona SulZona NorteCentro
Mais caroR$ 26,28R$ 20,98R$ 22,98
Mais baratoR$ 15,90R$ 14,98R$ 13,68

Alta nos preços

Item tradicional na mesa de natal, o preço do panetone pode variar até 135%, dependendo da marca. Foto: Karina Cruz

Segundo o economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), André Braz, a alta dos preços dos alimentos no natal tem relação com o aumento da demanda da população. Produtos como carnes suínas, frangos especiais, frutas cristalizadas e panettones são itens que, normalmente, sobem de preço no final de ano. No entanto, esse movimento não incomoda tanto a inflação porque é uma alta temporária e não se sustenta a longo prazo. O economista ainda explicou que o aumento no preço dos produtos natalinos não tem relação com o aumento do preço das carnes bovinas durante o ano.

Dívidas

De acordo com André, os gastos atuais com a ceia devem receber uma atenção especial da sociedade para evitar que aconteça uma acumulação de dívidas. O economista ressaltou ainda que, além das festividades, o mês de dezembro e o início de janeiro é uma época crítica pois envolve pagamento de impostos - como o IPTU e o IPVA - e gastos com escola, para quem tem filhos. A estratégia ideal para o especialista seria acumular uma poupança durante o decorrer do ano em busca de facilitar o pagamento das despesas de final de ano. No entanto, o economista sabe que essa opção pode não ser a melhor para famílias com baixa renda.

"Não há necessidade de uma família arcar com todas as despesas, se for uma reunião com vários familiares. Cada um pode contribuir com um prato. Outra estratégia seria investir em produtos com marketing menor. Sabemos que há várias marcas de, por exemplo, frango especial. Temos que comparar essas marcas. Quem for fazer uma ceia para uma família pequena, pode fazer com produtos que não possuem tanto marketing. Ás vezes nós pagamos caro pela marca e não necessariamente pela qualidade nutricional dele.

André Braz, economista da Fundação Getúlio Vargas

O economista ainda exemplificou que uma ceia com produtos de fabricantes menos tradicionais podem ter uma diferença de preço de até 40% em relação a marcas líderes de mercado. Tais alimentos podem ser tão saudáveis quanto os mais caros.

Desvalorização da moeda

Para o economista André Braz, o preço da ceia de natal vai depender do nível de renda, a configuração familiar (se há crianças ou não) e a preferência dos membros da família. Atualmente, os itens mais caros em geral são as proteínas de origem animal. No entanto, há outros exemplos que podem ser evitados por conta de custos altos. De acordo com ele, a desvalorização do Real também é responsável pelo aumento no valor dos produtos importados, o que encarece ainda mais itens como nozes, avelãs, amêndoas, castanhas e tâmaras, que compõem uma mesa mais tradicional.

O levantamento feito pela Asserj, por exemplo, indicou que o bacalhau foi o item de menor procura. Cerca de 31% dos consumidores informaram que não comprarão para 2021. Outro item, geralmente presente no Natal, que ficará de fora, é o peru. Apenas 16% dos entrevistados confirmaram a compra.

“O consumidor teve seu poder de compra reduzido esse ano e estamos acompanhando a alta dos preços nos itens natalinos, bastante impactada pela subida do dólar. É importante que o consumidor realize uma pesquisa para encontrar preços competitivos dos produtos que mais deseja para a ceia.”

Fábio Queiróz, Presidente da Associação dos Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj).

Outro item que também deve ficar de fora das comemorações é o espumante. Os dados mostraram que 47,1% das pessoas irão comemorar com cerveja. Outras 34,6% com vinho. Já 37,9% dos entrevistados indicaram que não pretendem comprar nenhum tipo de bebida alcoólica.

A pesquisa da Asserj demonstrou que 63% dos entrevistados pretendem compartilhar os custos da ceia entre as pessoas presentes na residência. O levantamento foi realizado nos dias 27 e 28 de novembro e contou com a participação de 1000 pessoas. 

No Rio é mais barato

De acordo com o levantamento da Associação Brasileira de Supermecado (ABRAS), o Rio de Janeiro é o estado onde a cesta natalina pode ser encontrada mais barata. A pesquisa de preços conta com produtos tradicionais como: aves natalinas, lombo, pernil, peru, tender, azeite, sidra, espumante, panettone e bombom. O valor total da cesta, considerando o preço médio dos alimentos, ficou em R$ 241,39.

Mesmo com os produtos caros, Rio é o estado mais barato do Brasil. Foto: ABRAS

Segundo a ABRAS, o item mais caro para esse final de ano na região Sudeste é o tender. O quilo do alimento chega a custar R$ 67,90. Já o mais barato foi encontrado custando R$ 29,90.

O pernil, item que costuma ser utilizado tanto nas comemorações de Natal como no Réveillon, teve um preço máximo de R$ 37,90 e um mínimo de R$ 14,98. Uma variação de 135% em relação ao valor do ano passado. Já o peru, uma outra alternativa de carne para a ceia, apresentou um preço máximo de R$ 30,99 e um mínimo de R$ 21,98.

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