Deu o que falar
Colégio tradicional de Niterói fala sobre pedido racista de pais
Grupo queria retirada de livro de Djamila Ribeiro da grade
Na última semana, os grupos de mães e alunos de Niterói ficaram agitados. O motivo foi a notícia publicada pela colunista Ana Cláudia Guimarães, do jornal O Globo, sobre três pais de alunos do 9º ano do Colégio La Salle Abel que pediram que o livro “Pequeno manual antirracista”, de Djamila Ribeiro, fosse abolido da grade curricular da escola. Ele foi escolhido para ser usado no projeto interdisciplinar “Sakofa: raízes e perspectivas da cultura afro-brasileira e indígena”. Segundo a matéria, a escola recebeu os pais, mas não acatou o pedido.
O colégio falou sobre o seu posicionamento diante dos responsáveis.
Leia aqui a nota oficial completa:
"Recentemente, a crítica de alguns responsáveis ganhou visibilidade através da coluna ‘Fome de Quê?’, publicada no Globo Niterói. A jornalista Ana Cláudia Guimarães trouxe à tona a discussão sobre a nossa postura em relação à utilização do livro “Pequeno Manual Antirracista”, da escritora Djamila Ribeiro, no Projeto Interdisciplinar “SANKOFA: Raízes e perspectivas da cultura afro-brasileira e indígena”. No início do ano letivo, a equipe pedagógica do 9º ano do Ensino fundamental - Anos Finais disponibilizou às famílias a bibliografia que será o norte para a execução do projeto Sankofa. Dentre os livros, o título de Djamila causou insatisfação de alguns responsáveis, e os relatos chegaram à coordenação dos Anos Finais. Apesar de os pais terem sido ouvidos, mantivemos a obra como parte do conteúdo didático e neste espaço esclarecemos o porquê.
De acordo com a Lei 11.645/2008 (LDB), torna-se obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Indígena nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio. Desde então, a temática negra e dos povos originários passou a ser aplicada no projeto pedagógico do Colégio La Salle Abel. Após o infeliz episódio de racismo sofrido pelo nosso professor José Nilton Junior, em 2020, a Comissão de Relações Étnico-raciais criada pelo Colégio desenvolveu diversas ações que nos permitiram expandir nossa atuação em diferentes frentes. Uma delas foi a motivação para a escolha, por parte do Núcleo de Projeto dos Anos Finais, do tema a ser trabalhado. O projeto interdisciplinar “SANKOFA”, com seu desenvolvimento iniciado em 2022, é fruto dos esforços dos professores que compõem o Núcleo: Carlos Eduardo, Claudia Ferreira, Elizane Lessa, Karla Garcia, Luciana Pereira, Maycon Braga e Mônica Valéria, todos educadores dos Anos Finais, coordenados pelo professor Leonardo Borba.
Além de Djamila Ribeiro, outros autores foram escolhidos para compor a base literária do projeto, como bell hooks, Lázaro Ramos, Lélia Gonzalez, entre outros. As narrativas africanas e indígenas surgem como meios potentes para trabalhar gêneros literários, tipologias textuais e práticas de educação inclusiva e respeito à diversidade e à cultura. Essa abordagem é apoiada, entre outras legislações, pela Lei 10.639, de 2003, que incluiu no currículo oficial das escolas a obrigatoriedade da temática História e Cultura afro-brasileira, e pela Lei 11.645, de 2008, que acrescentou à primeira proposta a História e Cultura Indígena. Também vale citar o documento Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-racias, publicado em 2006 pelo Ministério da Educação (MEC). A partir das leituras, os alunos são capazes de refletir sobre o racismo estrutural por meio de seminários, pesquisas, rodas de conversa, debates, podcasts, revistas eletrônicas, gamificação, folders, campanhas de conscientização, sarau cultural, aulas de campo e da participação na Semana de Africanidades promovida pelo Unilasalle-RJ. Ao final do 9º ano, os estudantes são desafiados a construir o seu primeiro artigo científico.
“Optar por manter a obra demonstra que acreditamos no trabalho efetivo de nossos educadores, que se debruçaram sobre o assunto a fim de oferecer uma oportunidade de debate acolhendo diferentes vozes, porém sempre focados em combater qualquer tipo de discriminação.
Lembremo-nos do tema do projeto Sankofa: “Se wo were fi na wosan kofa a yenki”, ou seja, “Não é tabu voltar atrás e buscar o que esqueceu”. Nunca é tarde para começar.”, acrescenta Leonardo Borba, coordenador pedagógico do segmento.
O tema “SANKOFA - raízes e perspectivas da cultura afro-brasileira e indígena” foi subdividido em outros quatro, um para cada ano de escolaridade. No 6º ano, a abordagem é sobre Ludicidade e interculturalidade afro-brasileira e indígena; no 7º, Narrativas e manifestações culturais dos povos africanos e indígenas; no 8º, Ancestralidades: as conexões dos povos africanos e indígenas na sociedade brasileira; no 9º, A dialógica entre as culturas afro-brasileira e indígena - histórias que nos habitam.
Por meio desse posicionamento público e da apresentação do projeto, reafirmamos nosso compromisso de formar cidadãos críticos e conscientes de seu papel na sociedade; indivíduos que respeitem as diferenças e lutem por um mundo mais justo e igualitário. Seguimos os princípios do nosso fundador, São João Batista de La Salle, que nos inspira a atuar em prol de uma educação transformadora e de qualidade para todos".
Essa não é a primeira vez que o Abel precisa ser firme diante de pais de alunos. Em 2020, um professor da unidade sofreu racismo de alunos. A partir deste episódio, a escola criou a Comissão de Relações Étnicos-Raciais.
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