Alarmante

'Faltará luz sempre que houver evento extremo', diz meteorologista

Professor da UFF diz que calor, chuvas e ventos vão continuar

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|  Foto: Pixabay

Nas últimas semanas, o brasileiro vive os efeitos das mudanças climáticas. Seca no Norte, enchentes na região Sul e um calor histórico no Sudeste. Para explicar os fenômenos que interferem no cotidiano da população, o meteorologista e professor da UFF, Márcio Cataldi, aponta que as ondas de calor são causa principalmente do efeito estufa somados ao El Niño e ao aquecimento dos oceanos.

Como consequência, impacta inclusive a produção de energia no Brasil e a solução são medidas de médio e longo prazo. Ainda de acordo com Cataldi, os apagões vão se repetir porque o calor e chuva intensas e ventos fortes vão persitir nos próximos meses. 

A concentração de gases do efeito estufa bateu recorde em 2022

UFF - Quais são os fatores que estão provocando essa onda de calor?

Márcio Cataldi - As ações do homem estão liberando mais gases que esquentam o planeta, causando um desequilíbrio. Isso significa que temos mais calor retido perto da superfície do que o normal, como era antes da Revolução Industrial. Alguns desses gases estufa que estão agora na atmosfera não estariam aqui se não houvesse tanta interferência humana, pois são produzidos quando queimamos coisas ou mexemos com matéria orgânica que estava enterrada. Por causa disso, quase todos os oceanos do mundo estão ficando quentes, Segundo a ONU, a concentração de gases do efeito estufa bateu recorde em 2022.

UFF - A fonte de energia no país é primariamente originária de hidrelétricas, como essa onda tem afetado no momento a produção de energia, sendo que estamos batendo recordes de consumo devido a sistemas de refrigeração?

Márcio Cataldi - Se continuarmos desse jeito, a coisa pode se complicar, porque o Sul, onde mais está chovendo, não possui grandes reservatórios e já estão todos lotados. O grande problema é a distribuição, já que as companhias que fazem esta parte não modernizaram o sistema. Ou seja, nas cidades, vai faltar luz sempre que tivermos qualquer evento extremo, seja de calor, chuva ou vento, mesmo que tenha energia para chegar nas casas.

UFF - Se as ondas de calor continuarem, como ficará no verão? Como isso irá interferir no cotidiano das pessoas?

O El Niño deverá permanecer até janeiro ou fevereiro
O El Niño deverá permanecer até janeiro ou fevereiro |  Foto: Reprodução

Márcio Cataldi - O El Niño deverá permanecer até janeiro ou fevereiro ainda com bastante força. Até lá, estas condições devem permanecer em praticamente todas essas regiões, com possíveis novos recordes de temperatura nos próximos meses. Assim, diante desse calor, as pessoas devem ingerir muita água. Vale lembrar que o calor pode levar, inclusive, à morte. Na Europa, no ano de 2022, cerca de 70 mil pessoas morreram em circunstâncias ligadas diretamente às ondas de calor.

O negacionismo climático e a ganância estão vencendo esta guerra

UFF - As ações para controle desses gases, propostas em acordos anteriores, ainda seriam eficazes caso fossem efetivamente implementadas ou já é necessário recalcular a emissão e estabelecer novas metas?

Márcio Cataldi - Não existem metas sendo cumpridas em relação às emissões. Vamos bater recordes de novo este ano. Infelizmente parece que o negacionismo climático e a ganância por mais e mais lucro estão vencendo esta guerra.

UFF - Quais ações imediatas/políticas públicas poderiam ser tomadas/implementadas visando mitigar esses efeitos no Brasil nos próximos anos?

Márcio Cataldi - O Brasil tem problemas estruturais muito sérios e que só serão agravados com os extremos climáticos. Deveríamos investir em ciência e tecnologia para aumentarmos a nossa capacidade de prever estes eventos. Investir em educação ambiental para que as pessoas façam a sua parte em relação às emissões de gases de efeito estufa e que compreendam melhor o que está acontecendo com o planeta. Precisamos também que as empresas de distribuição modernizem todo o sistema das grandes cidades. E o Estado precisaria criar planos de emergência e trabalhar com as previsões, de forma séria e comprometida, o que não está acontecendo até agora. 

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