Cidades
Família improvisa contenção de encosta em Niterói
A contenção de uma encosta está sendo construída pelas mãos de uma família da comunidade Vila Ipiranga, no Fonseca, em Niterói. A instalação de estacas em um muro nos fundos do imóvel, com três pavimentos, começou em dezembro e está quase concluída.
A calçada da casa, na Travessa José Sergipano, foi arrastada por uma queda de barreira durante as chuvas de novembro de 2018. A Defesa Civil interditou o entorno do imóvel.
A casa da assistente social Valquíria Ferreira, de 51 anos, abriga outras duas famílias. Ela acredita que um deslizamento afetaria as duas casas vizinhas e outras três casas abaixo da barreira. Por isso, a moradora resolveu investir R$ 9 mil na obra, projetada pelo próprio marido, que é pedreiro.
"Essa encosta estava caindo e a Prefeitura poderia fazer, mas não nos dão uma data. Fica complicado, porque a gente nunca sabe o dia que a chuva vem. Queria mesmo que eles tivessem dado uma solução de imediato", afirmou Valquíria.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há dez anos a Vila Ipiranga abrigava 3,7 mil moradores, sendo a terceira maior comunidade de Niterói depois do Preventório e Morro do Estado.
Para os moradores, no entanto, parece muito mais. A Vila Ipiranga forma um complexo de comunidades com quase dez mil habitantes, considerando Coronel Leôncio, na Engenhoca, e Santo Cristo.
Perigo
Se vias centrais da cidade ficam inundadas pelas chuvas, na Vila Ipiranga os estragos perduram por meses após o temporal, segundo moradores. Adiante na Travessa José Sergipano, oito imóveis no entorno de uma encosta estão interditados pela Defesa Civil desde 2016.
Enquanto parte das casas foram abandonadas, algumas famílias resolveram permanecer mesmo sob o risco. Esse é o caso da cozinheira Érica Corrêa, de 39 anos, que mora no perímetro de risco com dois filhos adolescentes e o marido. Para lidar com os temporais, a família construiu uma mureta na sala e a cozinha para conter o barro que vem da encosta pela cozinha.
"Nos deram ordem para sair e queriam nos levar para um abrigo, mas não aceitei. Como iria deixar meus filhos ainda crianças no abrigo? Quando a chuva aperta, a gente sai", relatou a moradora, que não conta com aluguel social e aguarda uma moradia popular.
A situação mais complicada na encosta, no entanto, é o imóvel da família do operador de máquinas Mário Sérgio, de 38 anos. Uma rachadura espessa no chão divide a casa em duas partes — a sala, a cozinha e o quarto parecem afundar cada dia mais em direção a encosta, segundo Mário.
O imóvel foi interditado em 2017. Sem emprego e aluguel social, e com medo de que a casa seja invadida, Mário levou a esposa e o filho de 5 anos para a casa dos pais enquanto fica de guardião no imóvel.
"Eles foram porque se a casa cair, vai cair só em cima de mim. Ainda está em pé por um fio, pela graça de Deus", afirmou o morador.
Mapeamento
Outro ponto interditado da comunidade é na Travessa da Amizade. O Centro Comunitário da Vila Ipiranga informou vários requerimentos para obras de contenção, mas apenas a reforma das escadarias estão saindo do papel.
No último ano, um estudo da Defesa Civil hierarquizou os pontos de risco da cidade e liberou obras em 54 pontos. No entanto, não há obras previstas para a Vila Ipiranga no pacote.
A Secretaria Municipal de Defesa Civil informou que realizou vistorias na área. Já a Emusa explicou que o local será contemplado com obras de contenção de encosta e que o processo está em análise nos órgãos de controle interno da Prefeitura.
Com relação ao mapeamento de risco solicitado pelo Plantão Enfoco, através da Lei de Acesso à Informação, a Prefeitura ainda não liberou o estudo.
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