Cidades
Funkeiros do Rio e Niterói se unem contra o 'Baile de Corredor'
"O Funk conseguiu um espaço na sociedade, se tornou uma atividade cultural reconhecida internacionalmente! Retornar com essa cultura de baile do corredor só para ter motivo para brigar e colocar o movimento nisso é andar para trás. Essa época de briga já passou, hoje em dia o Funk é mídia".
MC Deicinho
A declaração de MC Deicinho, integrante da ex-dupla 'Deicinho e Formigão', que fez sucesso com o 'Rap da União do Largo' na década de 90, é consensual entre cantores e lideranças da Associação 'Funk da Antiga'. No Rio de Janeiro e Niterói, os movimentos vão se unir e realizar eventos, com o objetivo de promover a paz após a morte de três homens em um baile funk, realizado em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, no último domingo (8).
Em Niterói, o encontro foi marcado para o próximo dia 21, às 11h, na Praça Arariboia, no Centro. O presidente da Associação de Funk Cultural da cidade, Wabderson de Souza, conhecido como 'Dinho', garante que será tranquilo, com hora para começar e terminar.
"Os eventos realizados pelo movimento funk da antiga geram emprego e renda. Só em Niterói são mais de 30 comunidades cadastradas na nossa associação, que já existe há dois anos", disse.
No Rio de Janeiro, uma caminhada pela paz foi marcada para a próxima sexta-feira (13). A concentração está agendada para às 16h, na Quadra D do Camelódromo da Uruguaiana, no Centro do Rio. Os participantes irão percorrer diferentes ruas da região e o uso de máscara de proteção é obrigatório, devido a pandemia do novo coronavírus.
Segundo Wabderson, o movimento do Funk ainda é discriminado por muitos. MC Amilcka, que fez sucesso na década de 90 com a música conhecida pelo refrão "É som de preto/ de favelado/ mas quando toca ninguém fica parado", concordou e afirmou que "o funk pede paz".
“Eu, como MC e um dos idealizadores do projeto 'Relíquias do Retrô', projeto que homenageia as galeras que selaram a paz nos bailes funk, repudio qualquer tipo de violência física ou mental. Estamos em plena pandemia, onde pessoas estão morrendo, famílias sendo dizimadas. Temos que pensar no amor, na paz e na união”.
MC Amilcka.
DJ Júnior da Provi, do Morro da Providência, na Região Central do Rio, contou sobre a experiência negativa que teve quando foi contratado para tocar em um baile de corredor.
“Fui intimidado a tocar outros tipos de músicas. O que me chamou muita atenção é que até corredor de mulheres tinha atrás da equipe de som, fiquei muito assustado. Quando eu sai do baile para pegar a condução apareceu um matador. Ele colocou uma arma na minha cabeça e quebrou os meus discos. Depois disso, eu nunca mais toquei nesse tipo de evento”.
DJ Júnior da Provi.
Baile de Corredor
O funkeiro Marcelo da Cyclone, que fez sucesso na década de 90 com o 'Rap da Ciclone', explicou a diferença entre as duas gerações do funk. De acordo com ele, a geração “Baile de Corredor” é totalmente diferente da geração “Baile da Antiga”.
“Ela (a geração) veio chegando depois e invadiu o nosso movimento. Nós não podíamos fazer nada a não ser se afastar. Com isso, eles reinaram. Na época os integrantes já iam para os eventos com o intuito de brigar. Até protetor e sunga eles usavam”.
Marcelo da Cyclone
Ainda segundo Marcelo, montagens musicais seriam um dos motivos das brigas entre os integrantes - que estão nestes grupos que existem até hoje em diversas regiões.
“Nós, do Funk da Antiga, não temos contato com essas pessoas. O nosso movimento realiza projetos em comunidades pensando na família. Os eventos são autorizados e contam com churrasco, pula-pula e outros brinquedos”, afirmou.
Mortes em baile funk
De acordo com a Polícia Militar (PM), na madrugada do último domingo (8), equipes do batalhão de Belford Roxo (39º BPM) foram acionadas para verificar a ocorrência de tumulto generalizado na Avenida Automóvel Clube.
Ainda segundo a PM, no local, os policiais foram informados de que três homens teriam sido feridos por disparos de arma de fogo e socorridos por populares para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Jardim Íris e UPA do Jardim Bom Pastor, ambas no município de São João de Meriti.
Procurada, a Prefeitura de São João de Meriti informou que quatro homens deram entrada na UPA de Jardim Íris com ferimentos por arma de fogo. Destes, dois foram a óbito, um foi transferido para o Hospital de Saracuruna com quadro de saúde estável e o quarto fugiu da unidade após os primeiros atendimentos.
Em seguida, outros dois homens, também baleados, chegaram à unidade. Um deles foi transferido para o Hospital de Saracuruna com quadro de saúde estável e o outro faleceu.
O caso está sendo investigado pela Divisão de Homicídios (DH) da capital.
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