Cidades

Gripe: hospitais lotados e espera de até dez horas para atendimento

Surto de gripe, Policlinica Regional do Largo da Batalha - Alex Ramos - Enfoco
Surto de gripe, Policlinica Regional do Largo da Batalha - Alex Ramos - Enfoco |  Foto: Surto de gripe, Policlinica Regional do Largo da Batalha - Alex Ramos - Enfoco
Em Niterói, diferentes unidades de saúde apresentam lotação. Foto: Alex Ramos

A procura por hospitais disparou nos últimos dias em diferentes cidades do Rio. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Niterói, por exemplo, houve aumento de 30% por conta do surto da gripe Influenza.

As filas são grandes em unidades de urgência e emergência com relatos de gripe e resfriado, além de casos relacionados a síndrome respiratória. A equipe do Enfoco percorreu, na manhã desta quinta-feira (9), diversos hospitais, todos lotados.

Em Maricá, foram registrados 398 casos até o último dia 5, considerando o período de apenas uma semana — cem a mais na comparação com o mesmo período do mês passado. A região do Centro é a que concentra a maioria dos casos por ter a maior população, segundo a prefeitura.

Na Capital, a Prefeitura do Rio informa que todas as unidades de saúde do município estão atendendo com a capacidade máxima por conta do aumento na demanda. Nas últimas três semanas, por exemplo, foram notificados 23 mil casos de síndrome gripal. Os pacientes são acolhidos de acordo com a classificação de risco, priorizando casos graves.

No município de Itaboraí, a prefeitura afirma que nenhum caso de Influenza foi confirmado laboratorialmente. Mas o Executivo confirma que houve aumento na procura por atendimento, devido a sintomas de síndrome gripal nos últimos dias. Os exames desses casos foram negativos para a Covid-19, de acordo com comunicado.

Segundo o protocolo da Secretaria Estadual de Saúde, liberado na última semana, Itaboraí só poderá enviar cinco amostras por semana para pesquisa de outros vírus respiratórios em casos de síndrome gripal, incluindo o vírus da Influenza.

Já em São Gonçalo, a Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil informou que as unidades de saúde vêm recebendo aumento na demanda desde o fim de novembro, se intensificando neste início de dezembro. A prefeitura informou que não houve identificação do vírus Influenza nas amostras coletadas e nem concentração específica em uma área. De acordo com o Executivo, não há registro de morte de crianças por gripe nas últimas duas semanas.

Fila de horas

Ainda em Niterói, queixas apontam para lotação em hospitais e policlínicas com espera de cinco a dez horas. Pessoas de outros municípios também estariam recorrendo aos serviços da cidade, segundo relatos nas unidades.

Segundo a secretaria, como medida para equacionar o fato, a pasta irá reforçar as equipes médicas. A maior parte dos usuários apresentam casos leves e os pacientes testados para Covid-19 tiveram resultado negativo.

Apenas no Hospital Municipal Pediátrico Getulio Vargas Filho, no Fonseca, a dona do lar identificada apenas como Andreia, relatou que cerca de 300 crianças aguardavam atendimento nesta quarta (8).

A filha dela de um ano e três meses estava entre as pacientes, segundo ela, com quadro de diarreia, febre e vômito. Apesar de chegar no início da tarde, a mãe da paciente foi atendida somente às 23h. Ela relatou o cenário na manhã desta quinta (9), enquanto aguardava atualizações sobre o estado de saúde da pequena.

"A demanda está muito alta. Os médicos e enfermeiros estão se esforçando. Alguns fazem 36 horas para tentar desafogar. Mas vêm crianças de Itaboraí e Maricá. Está com superlotação, apesar do bom atendimento"

No último sábado (4), Gabriella já tinha levado a filha no mesmo hospital e foram oito horas de espera.

"Dei entrada por volta das 15h30, quando passamos pela segunda triagem já era 19h. Entendo que estamos em um surto de gripe e a emergência estava muito cheia, mas eles usam um critério de que se chegar mais crianças com febre mais alta e sendo com idade inferior passa na frente. Era quase 23h e minha filha ainda não tinha sido atendida. Ela já estava com fome, sono, cansada, peguei minha filha com seus 38º graus de febre e vim pra casa"

Na Região Oceânica de Niterói, a Unidade de Pronto Atendimento Mário Monteiro, em Piratininga, também teve grande fila na manhã desta quinta (9).

O estoquista Maicon Martins, de 30 anos, foi um dos que procurou consulta médica por conta do cansaço intenso, além da dor no corpo, febre e dor de cabeça. Ele disse ter sido atendido após duas horas.

"Estou com muito cansaço, dor no corpo, febre e dor de cabeça há dois dias. Ontem tive que tomar banho empurrado, comecei a passar mal no serviço"

Na Policlínica do Largo da Batalha havia grande procura por vacinas para diferentes enfermidades, entre elas contra a Influenza. Funcionários chamavam de 4 a 7 pessoas por vez. "Eu comecei a sentir a garganta arranhando e já tratei de vir", contou um rapaz.

O ambulatório tinha cerca de 15 pessoas, como o pedreiro Venilson Moreira, de 50 anos, que apresentava febre e dor de cabeça. "Estou há três dias assim. Cheguei aqui e tomei injeção oral e o médico receitou alguns medicamentos. Tinham cerca de 15 pessoas lá dentro", disse.

A Comissão Municipal de Saúde da Câmara de Niterói, presidida pelo vereador Paulo Eduardo Gomes (Psol), encaminhou, nesta quinta, ao prefeito Axel Grael (PDT) um ofício solicitando esclarecimentos sobre a quantidade de profissionais de saúde contratados para atuar na rede municipal, diante do gargalo dos últimos dias.

Surto

Nas filas das unidades de saúde, é comum os relatos de febre, calafrio, tosse, coriza, dor de garganta, dor de cabeça e até alteração no olfato ou paladar, sintomas comuns da doença.

Os sintomas da gripe nem sempre são brandos e podem evoluir para complicações como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), pneumonias e agravamento de outras doenças. A gripe é uma doença séria e que pode levar a óbito.

Segundo o professor de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF), André Ricardo, na Região Sudeste vírus respiratórios costumam se disseminar com menor intensidade entre novembro e dezembro, por conta do inverno. Mas o especialista alerta que os casos ocorrentes não são comuns e já é possível considerar o surto.

"Quando uma doença infecciosa se dissemina em regiões específicas, pode se dizer que há um surto. Quando se espalha por varias regiões de um mesmo estado, por exemplo, pode se dizer que há uma epidemia. E quando a epidemia se dissemina para vários continentes, temos uma pandemia. Atualmente, nem todos os municípios do estado estão com aumento de casos"

O professor alerta para a velocidade da transmissão já que o vírus da Influenza é transmitido de pessoa à pessoa através de gotículas respiratórias.

Os sintomas mais comuns são:

hospitais lotados
  • Febre súbita
  • Dor no corpo
  • Tosse seca
  • Dor de cabeça

Duração - Entre três e sete dias, podendo evoluir para internação, principalmente em pessoas com doenças crônicas com alteração na imunidade: câncer, neoplasias, idade avançada, por exemplo.

Campanha contra a gripe

vacinação
Campanha, que começou em abril, está com alta procura após o surto. Foto: Arquivo

A Secretaria Municipal de Saúde de Niterói informa que a campanha de vacinação contra a gripe começou em 19 de abril, e desde o início, até esta quinta-feira (9), já foram mais de 191 mil pessoas imunizadas.

De acordo com a pasta, ainda há doses em algumas unidades, porém o estoque está baixo. O município já solicitou nova remessa ao Estado.

A vacina está disponível em todas as Policlínicas Regionais, nos módulos do Programa Médico de Família (PMF) e nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). A aplicação das doses acontece de segunda a sexta-feira, das 8h às 16h, nas salas de imunização das unidades de saúde. Toda a população acima de 6 meses de idade pode se vacinar.

Já a Prefeitura de Maricá vacinou mais de 69 mil pessoas no período. Mais de 96% desse público já foi vacinado.

A Saúde do município orienta a população que, em caso de sintomas gripais leves que exijam cuidados médicos, procure a Unidade de Saúde da Família (USF) de referência. Todas as 24 USF estão preparadas para prestar a assistência, diz a nota.

A Secretaria de Saúde do Rio orienta que pessoas com sintomas leves procurem uma das 230 unidades de Atenção Primária (clínicas da família e centros municipais de saúde) distribuídas por toda a cidade para obter o primeiro atendimento, ou os centros de atendimento já em funcionamento na Vila Olímpica do Alemão e no Parque Olímpico, na Barra.

Apenas casos de sintomas graves devem buscar atendimento em UPAs, CERs ou hospitais, orienta a prefeitura.

Centros de Atendimento

Nestas quarta (8) e quinta-feira (9), a SMS-Rio inaugurou dois centros de atendimento à gripe, no Alemão e no Parque Olímpico da Barra, respectivamente para apoiar o aumento da demanda de pacientes com sintomas gripais.

O polo da Vila Olímpica do Alemão realizou, no seu primeiro dia de funcionamento, 496 atendimentos. Desse total, 403 pacientes com indicação clínica foram testados para covid-19, com apenas dois casos positivos. Outros polos serão abertos nos próximos dias, os locais serão informados em breve.

As prefeituras de São Gonçalo e Itaboraí, questionadas, ainda não se pronunciaram sobre o andamento da vacinação.

< São Gonçalo retoma na próxima segunda a distribuição do Kit Alimentação Escolar Niterói e Maringa fazem parceria de políticas públicas <