Cidades
Lagoa de Piratininga com os dias contados
Obra essencial para a recuperação da Lagoa de Piratininga, em Niterói, a renaturalização do rio Jacaré pode ter impacto limitado se as comunidades do entorno não receberem saneamento básico. Sem interrupção do despejo de esgoto nos afluentes, como é o caso do Jacaré, o assoreamento do sistema lagunar da Região Oceânica tende a prosseguir.
Este foi o principal alerta de pesquisadores e ambientalistas presentes no seminário que o Instituto de Geociências da Universidade Federal Fluminense (UFF) recebeu nesta quinta-feira (1º). O evento termina nesta sexta no auditório Milton Santos.
O seminário foi convocado pela Prefeitura de Niterói, que busca soluções para reverter a poluição da Lagoa de Piratininga — cuja orla deve ser transformada em um espaço de convivência.
“O maior problema enfrentado hoje na Lagoa é a presença elevada de minerais, o que cria a possibilidade de eutrofização do sistema”, afirmou secretário municipal de Planejamento (Seplag) Axel Grael durante a mesa de abertura do evento.
O fenômeno resultante do processo químico a partir do despejo irregular de esgoto foi responsável pela morte de peixes registrada na lagoa em dezembro.
Grael gerencia o projeto Pró-Sustentável, que consiste em uma série de intervenções na Região Oceânica de Niterói, entre as quais a despoluição do rio Jacaré, o parque-orla de Piratininga e a urbanização do bairro Boa Vista.
Rio Jacaré
Com cerca de cinco quilômetros de extensão, o rio Jacaré é parcialmente canalizado até desembocar na Lagoa de Piratininga.
“Esse afluente é um dos pontos de mais assoreados da Lagoa” explicou Gilberto Dias, professor titular de Geologia na UFF.
A Prefeitura pretende dar início à renaturalização do rio Jacaré ainda este ano. Em suma, o projeto consiste em recuperar o curso natural das águas e recuperar as margens.
"O sonho certamente seria recuperar toda a bacia hidrográfica da região, mas por enquanto o projeto do Jacaré serve de laboratório. É um projeto pioneiro de renaturalização em zona urbana" destacou Axel Grael,
Comunidades
O entorno do rio Jacaré abriga as comunidades Vale Verde e Cabrito, e, na outra margem, cerca de dez residências abaixo do tronco coletor de esgoto. Embora a região tenha rede de esgoto fornecida pela concessionária Águas de Niterói, as residências não são ligadas à tubulação.
Especialista em Saneamento Básico e professor Universidade de Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Adacto Benedicto Ottoni arguiu sobre a situação do esgoto nas comunidades.
“A interrupção do despejo de esgoto por si só permitia que a Lagoa passasse por um processo natural de recuperação. É preciso que o saneamento básico se estenda às regiões informais” pontuou o pesquisador.
Projetos da Prefeitura
O gestor municipal do sistema lagunar da Região Oceânica, Luciano Paez afirmou que a Prefeitura conseguiu no Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FUNDRHI) recursos para ligar as comunidades o tronco coletor.
“Os editais de licitação devem ser lançados nos próximos meses. As obras de ligação com a rede coletora vão contemplar Vale Verde e Cabritos”, explica Paez. “Além disso, as comunidades passarão por regularização fundiária de forma concomitante”.
A preocupação é compartilhada por Kátia Vallado, representante do Comitê de Bacia das Lagunas de Itaipu e Piratininga (CLIP).
"Acreditamos que a Vale Verde e o Cabrito serão contemplados nas licitações, mas a nossa dúvida é quanto à outra localidade que está abaixo da rede de esgoto e precisaria de bombeamento", afirmou.
A coordenadora geral do Pró-Sustentável Diône Marinho Castro afirmou que a Prefeitura estuda custear estações elevatórias individuais para as residências.
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