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    Lagoa de Piratininga já sofre efeitos do isolamento

    Publicado 19/09/2019 às 16:30 | Autor: Eduarda Hillebrandt
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    Túnel do Tibau está obstruído por pedras. Foto: Ibici Silva

    Seis meses após a obstrução do canal que liga a Lagoa de Piratininga ao mar sob a ponte do Tibau, em Niterói, moradores alertam para o agravamento da degradação no sistema lagunar. Com a interrupção do fluxo hídrico com o mar, os peixes se tornaram escassos na laguna e a opacidade do espelho d'água aumentou.

    Desde abril, o desmoronamento de pedras no canal subterrâneo bloqueou a troca de água entre os sistemas. Uma equipe técnica da Prefeitura analisa o caso, mas ainda não apresentou soluções viáveis para a manobra de remoção. A pressão por providências aumenta na região.

    "Como ainda há um espaço acima das pedras para transitar para o mar, consegui remover algumas pedras com as mãos. Sem ressaca, o mar não tem força para entrar na lagoa", afirma o ativista ambiental Paulo Oberlander, que monitora o espaço diariamente.

    De acordo com o gestor do sistema lagunar da Região Oceânica, Luciano Paez, a desobstrução do canal é considerada prioritária, mas envolve riscos.

    "A Prefeitura está com bastante cautela para resolver por conta da complexidade da solução. Nossos técnicos estão empenhamos nesta solução. É fundamental que volte o fluxo hídrico mar-laguna", afirmou o gestor.

    Uma empresa especializada em mergulho vistoriou o local e há uma equipe técnica estudando soluções. Será preciso ainda escolher a empresa que ficará responsável pela remoção das pedras, considerando que não há previsão para a abertura da licitação.

    Impactos

    Vicente pesca na lagoa há vinte anos e notou escassez de espécies. Foto: Ibici Silva

    O túnel foi concluído em abril de 2008 com cerca de um quilômetro de extensão e 4,5 metros de altura. A abertura do canal visava conter o quadro de degradação da Lagoa de Piratininga, que sofria com despejo irregular de esgoto e assoreamento.

    Uma análise de impacto contratada pela Prefeitura de Niterói apontou que, dez anos após as obras, o túnel era responsável por manter regular o nível trófico e a renovação hídrica da lagoa.

    Com o fechamento do canal, atividades econômicas ligadas à lagoa foram impactadas, como a pesca e esportes aquáticos.

    "Antes era possível encontrar peixes de qualidade, como piraúnas, carapebas e paratis. Não está mais assim. Os peixes não conseguem chegar" relatou o pescador Vicente Paulo, de 59 anos. Durante uma manhã lançando a tarrafa, tirou uma dezena de tilápias.

    O advogado Ricardo de Almeida, de 60 anos, chama atenção para a coloração atípica da água. Residindo em Piratininga há 20 anos, conta que chegou a presenciar a lagoa límpida, com banhistas.

    "Não é incomum ver peixes mortos acumulados na superfície. O odor se torna insuportável. Para quem vive aqui, essa obra é emergencial" afirma.

    Qualidade das águas

    Ativista satiriza situação da lagoa: 'Na merda!'. Foto: Paulo Oberlander / Rede Social

    A preocupação com a qualidade das águas aumenta com a chegada do verão.

    "A tendência é que o calor altere a oxigenação da água, e que a temporada aumente o despejo de esgoto na lagoa e afluentes. É preciso se preocupar. É um ambiente com potencial incrível para a pesca, o turismo e lazer" pontua Oberlander.

    Segundo o gestor do sistema lagunar, Luciano Paez, a coloração atípica das águas notada pelos moradores tem relação com o clima.

    "As temperaturas nos últimos dias aumentou. A atividade biológica também é afetada. Assim a coloração mais escura também se deve a maior proliferação de algas" afirmou.

    Ao longo da semana, os termômetros podem marcar 41ºC, segundo previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).

    A Prefeitura de Niterói garantiu, em nota, que faz monitoramento periódico da lagoa e que o município contratou estudos ambientais que verificam os parâmetros físico-químicos do sistema lagunar da Região Oceânica, inclusive na saída do túnel do Tibau, para checar a concentração de oxigênio dissolvido.

    A Prefeitura afirma ainda que mantém parceria com a concessionária Águas de Niterói para vistorias ligações irregulares de esgoto.

    A recuperação do sistema lagunar é uma das ações prioritárias na Região Oceânica. A Prefeitura tem planos para tornar a área um centro de lazer com o Parque Orla de Piratininga: uma ciclovia de 9,5 km de em torno da lagoa, com jardins filtrantes e equipamentos para esporte e lazer.

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