Perigo
Mais de 3 milhões de animais estão abandonados nas ruas do Rio
Especialista explica os riscos para a saúde pública
No estado do Rio de Janeiro, a situação dos animais abandonados atingiu proporções alarmantes, com cerca de 3,4 milhões de cães e gatos estimados nas ruas, conforme levantamento do IBGE. Se analisado o Brasil, os números são ainda mais assustadores: mais de 30 milhões de animais enfrentam o abandono, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Segundo a presidente da ONG carioca Ajuda Patas, Bruna Saraiva, o número de cães abandonados em vias públicas é preocupante. Desde 2020, a média de resgates é de 110 cachorros por ano. Em 2024, já foram 45. Entre os animais desamparados nas ruas cariocas, cerca de 2,2 milhões são cães e 1,2 milhão são gatos.
Raças mais abandonadas
Entre as raças de cães abandonados, quem lidera a estatística são os SRD, conhecidos popularmente como vira-latas. "No Estado, o abandono cresceu cerca de 60% da pandemia pra cá. Depois dos vira-latas, os mais abandonados são os Pitbull, Shih Tzu e Chow Chow", informou Bruna.
Segundo a protetora dos animais, entre todos, o recordista é o vira-lata preto. A pelagem do animal também ajuda a identificar os abandonos.
A cada cachorro deixado na rua, o sentimento é de desespero.
"Só na nossa ONG, gastamos 100kg de ração por dia, sem contar os cuidados que um animal recém-chegado necessita, como veterinário e remédios. E contamos apenas com doações", completou Bruna informando ainda que a ONG abriga atualmente 400 animais.
Preconceito de cor e raça
A veterinária Fernanda Campista confirma a tendência que aponta os vira-latas em geral como os mais abandonados, sendo os de pelagem preta os mais afetados, devido ao preconceito de raça e cor, respectivamente.
"Diversos fatores contribuem para essa situação, como a associação da cor preta com maldade ou azar, além da falsa percepção de que estes cães são mais agressivos e menos comunicativos. Esses estigmas resultam em uma taxa de adoção mais baixa para os cães de pelagem preta, aumentando sua propensão a serem abandonados. Esses preconceitos são completamente infudados", explicou Fernanda.
Castração é a solução
Uma gata não castrada pode gerar um número estimado de 12 filhotes por ano, considerando duas crias em 12 meses com uma média de dois a seis filhotes por gestação. Ao longo de três anos, por exemplo, esse número cresceria para 1.728 gatos nas ruas.
Já no caso das cadelas, é possível estimar um número de oito filhotes por ano, considerando que a fêmea entra no cio a cada seis meses.
A cada cachorro deixado na rua, o sentimento é de desespero.
"No caso das fêmeas (cadelas e gatas), evitamos infecção do útero (piometra), gravidez psicológica, tumores de mama, estresse durante o cio. Já nos machos, diminuímos as possibilidades de apresentarem tumores de testículos e próstata, doenças sexualmente transmissíveis, fugas, agressividade e marcação de território”, esclareceu o veterinário Samuel Lima.
Alto custo para castrar
Muitos tutores e protetores acabam não castrando, segundo eles, por conta dos altos valores dos procedimentos. A protetora Bruna Aranha, moradora do Complexo da Penha, Zona Norte do Rio, ajuda a cuidar dos gatos da comunidade e dos que tem em casa, um total de aproximadamente 30 animais, hoje todos castrados. Mas segundo ela, demorou anos para conseguir fazer todos os procedimentos.
"A castração não é realizada por valor alto. Fui em algumas clínicas populares nas quais a cirurgia custava entre R$ 80 e R$ 100, mas o total final sempre girava em torno de R$ 800 a R$ 900, por conta de uma série de exames que eram muito caros”, contou Bruna.
É o mesmo caso de Beatriz Vieira, moradora da Pavuna, também na Zona Norte carioca. Ela é tutora de 15 gatos, todos resgatados, que acabaram procriando dentro da própria casa por não serem castrados.
Castrei algumas fêmeas nas clínicas, mas no fim a gente acaba pagando um valor altíssimo.
"Depois que meus gatos procriaram, tomei conhecimeto de alguns programas de castração gratuitos. Só assim consegui castrar todos sem pagar nada. Mas não foi tão rápido porque a procura, por ser de graça, é maior que a demanda", revelou Beatriz.
Problema de saúde pública
De acordo com o médico veterinário Flávio Moutinho, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), os animais em situação de rua representam uma ameaça significativa tanto para o ambiente quanto para a saúde da população.
Se estiverem infectados ou parasitados, também podem ser uma fonte de infecção de doenças para os seres humanos.
"Há vários problemas ambientais associados ao abandono de animais, pois eles podem tanto transmitir quanto contrair doenças de outros animais. Além disso, se estiverem infectados ou parasitados, também podem ser uma fonte de infecção de doenças para os seres humanos, o que é conhecido como zoonose", explicou o especialista.
Atualmente, o Ministério da Saúde não considera os animais em situação de rua como um problema de saúde pública. No entanto, Moutinho alerta que se essa situação persistir, poderá evoluir para uma questão grave a ser combatida.
"Quando a quantidade de animais em situação de rua aumenta, além do risco de sofrerem maus-tratos pela população, é importante considerar não apenas a qualidade de vida desses animais, mas também o potencial para se tornarem um problema de saúde pública. Cabe destacar que os animais precisam estar doentes para transmitirem doenças às pessoas", alertou o professor.
Castrações gratuitas
Em Niterói, o Castramóvel oferece castração gratuita para cães e gatos, sujeitos a certos critérios de idade, peso e raça. O serviço acontece de forma itinerante por toda a cidade. Já em São Gonçalo, a castração gratuita é oferecida para cães e gatos em parceria com o projeto Ellos CastraPet. As unidades estão localizadas na Praça da Trindade e na Praça do Barro Vermelho.
No Rio de Janeiro, as unidades de atendimento veterinário do IVISA-Rio realizam castrações gratuitas para cães e gatos mediante agendamento mensal, com chipagem e cadastro no Registro Geral de Animais (RGA) inclusos.
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