Luta diária
Mais de 5 mil pessoas aguardam na fila para transplante no Rio
Carioca de 40 anos está há mais de dois anos na espera
Mais de cinco mil pacientes aguardam na fila para transplante de órgãos no estado do Rio. Essa é a estimativa da Secretaria Estadual de Saúde, que destaca um tempo médio de 3 a 27 meses de espera, dependendo do órgão esperado.
Recentemente, o caso do Faustão, que conseguiu um transplante de coração após 20 dias na fila, reacendeu a estimativa em que o receptor, como é chamado quem está na lista, leva para conseguir a doação. No caso do apresentador, o estipulado pelo estado de São Paulo foi de 12 a 18 meses de espera.
Mas, nem sempre os dados coincidem com a realidade. Como é o caso do Everson Alexandre, de 40 anos. Morador de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, o paciente está na fila há mais de dois anos aguardando um transplante de rins. Diagnosticado com falência renal por inflamação nas membranas do órgão, em estado terminal, ele conta que tudo começou após contrair chikungunya, em 2017.
"A médica veio conversar comigo que eu estava perdendo a função renal por conta de uma célula que desenvolveu no meu sangue, devido a chikungunya. Ao passar nos rins, na hora de fazer filtração, essa célula provocou uma inflamação nas membranas. Fui diagnosticado com glomerulonefrite membranosa, que faz com que os rins percam a sua função", explica.
Everson, que atualmente está aposentado por invalidez devido a enfermidade, conta que foi encaminhado para o Hospital Universitário Pedro Ernesto, na Zona Norte do Rio, onde deu início ao tratamento semanal regado a exames e uma dieta rígida.
"Não fiquei muito tempo no tratamento conservador porque os médicos perceberam que a minha enfermidade era muito agressiva, eu estava perdendo a função renal muito rápido", destaca.
Em meados de 2018, após longas passagens por médicos, Everson foi chamado no hospital e lá, os profissionais informaram que ele precisaria entrar em tratamento de hemodiálise.
Eu fiquei sabendo que precisaria de transplante no mesmo dia em que eu fiquei sabendo que precisaria de hemodiálise para me manter vivo
"Eles me falaram que também era para me inscrever logo para a fila de transplante. Porque a hemodiálise é como se fosse uma roleta russa, a gente não sabe como nosso corpo vai se comportar e nem quanto tempo o nosso organismo vai aguentar nesse processo", relembra.
Casado e pai de dois filhos, um de 22 anos e outro de 10, Everson destaca que nunca sofreu nenhuma enfermidade, e que, tirando o problema nas rins, ele é saudável
Relutando acreditar na nova realidade, o Everson disse que, de princípio, rejeitou a ideia de que precisaria ingressar na fila.
"Eu não aceitava, não queria o transplante, mas os médicos me orientaram por ser um tratamento menos agressivo. Eu não tinha essa pretensão, fiquei revoltado, não queria transplante. Somente depois de um tempo, quando a minha esposa conversou comigo, foi que eu fui assimilando a ideia e fiz os exames", conta.
Montanha-russa
Para Everson, os dias de espera são repletos de angústias e incertezas. Fazendo hemodiálise três vezes por semana, 4h por sessão, ele conta que ainda precisa fazer uso de diversos medicamentos.
"Tem dias que é angustiante, tem dias que você acredita que não vai acontecer, que sua hora não vai chegar, que a qualquer momento você pode morrer naquela máquina. Tem dias que a esperança tá ativa e tem dias que ela está lá em baixo", lamenta.
Como funciona a fila
Segundo a Secretaria de Saúde do Rio, cada estado tem a sua lista de espera para transplantes, que é submetida ao cadastro nacional do Ministério da Saúde através de um sistema informatizado, este cadastro é chamado 'Cadastro técnico Único' (CTU).
"Desta forma, quando um órgão é doado, as informações são inseridas neste sistema informatizado de abrangência nacional, mas o transplante atende preferencialmente a lista de espera do estado onde houve a doação, ou seja, se o doador é do Rio de Janeiro, os órgãos doados atenderão preferencialmente aos pacientes inscritos no Rio de Janeiro", diz a pasta.
Se não for encontrado receptor compatível no estado, o órgão é disponibilizado nacionalmente.
A fila funciona por ordem cronológica de inscrição, mas a secretaria salienta que é balizada por outros fatores, como gravidade e compatibilidade sanguínea e genética entre doador e receptor.
Dados por órgão
Coração
Tempo médio 2022: 3,6 meses
Corações transplantados até 23/08: 21
Pacientes em lista ativa: 19
Fígado
Tempo médio 2022: 3,5 meses
Fígados transplantados até 23/08: 184
Pacientes em lista ativa: 117
Pulmão
Tempo médio 2022: 1,7 meses
Pulmões transplantados até 23/08: 4
Pacientes em lista ativa: 2
Rim
Tempo médio 2022: 17,0
Rins transplantados até 23/08: 294
Pacientes em lista ativa: 1316
Pâncreas + Rim
Tempo médio 2022: 7,9
Pâncreas/Rim transplantados até 23/08: 2
Pacientes em lista ativa: 8
Córnea
Tempo médio 2022: 27,9
Córneas transplantados até 23/08: 327
Pacientes em lista ativa: 4110
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