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Manifestação em Niterói contra o feminicídio

Publicada às 19h51. Atualizada às 21h54.

Imagem ilustrativa da imagem Manifestação em Niterói contra o feminicídio
Centenas de pessoas participaram da manifestação no Centro de Niterói. Foto: Vitor Soares

Sentimentos de indignação e revolta tomaram a Rua XV de Novembro, no Centro de Niterói, no início da noite desta segunda-feira (7). A manifestação em combate ao crime de feminicídio — assassinatos de mulheres cometidos em razão do gênero — reuniu centenas de pessoas, entre movimentos representantes da sociedade civil e vereadores.

Com faixas e cartazes, o protesto teve início às 18h30, em frente ao shopping onde Vitórya Melissa Mota, de 22 anos, foi morta por um colega do curso para técnicos de enfermagem.

O protesto aconteceu na altura do Teatro Municipal e contou com a participação de familiares da vítima, entre eles a mãe da Vitórya.

O ato foi organizado pelo Fórum Levante Feminista contra o feminicídio, que reúne vários movimentos e organizações, sendo a União da Juventude Socialista de Niterói (UJS) uma das entidades. O fórum une mulheres para tratar o tema de forma ampla.

Logo no início, um homem precisou ser retirado por jogar um saco em direção ao ato. Uma pessoa ligada à vítima também foi afastada do protesto porque estava inconsolável e passando mal.

Para Rachel Simas, professora de Educação Básica e militante do Sindicato dos Servidores do Colégio Pedro II, é preciso acabar o extermínio de mulheres pelo simples fato de existirem.

"A todo momento recebemos notícias de mulheres que perdem a vida. Não somos propriedades de ninguém. Estamos morrendo. Na pandemia a violência doméstica aumentou"

Entre as centenas de pessoas presentes estavam os vereadores Verônica Lima (PT), professora Walkiria (PC do B), Paulo Eduardo Gomes do Psol, e Fernanda Sixel, esposa do ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves. Ela atua na Coordenadoria de Políticas e Direitos das Mulheres (Codim), órgão ligado à prefeitura.

Feminicídio

O caso bárbaro envolvendo Vitórya ocorreu na última quarta-feira (2) na praça de alimentação dentro do centro comercial. Segundo a Polícia Civil, o acusado, de 21 anos, tirou a vida da jovem a facadas, em frente à cafeteria onde trabalhava. O rapaz foi preso em flagrante e vai responder por feminicídio.

Ainda de acordo com a polícia, os dois frequentavam o mesmo curso técnico de enfermagem. O acusado teria comprado a arma do crime, no mesmo shopping, minutos antes de cometer do assassinato.

No último sábado (5), a UJS e o coletivo Elza Monnerat realizaram um ato pela vida das mulheres. Uma faixa com a frase: É feminicídio, amor não mata foi estendida na ponte da Boa Viagem, no bairro de mesmo nome, na Zona Sul de Niterói.

Prisão

Após audiência de custódia realizada na última sexta-feira (4), o acusado de ter matado a facadas Vitórya Melissa Motta teve a prisão em flagrante convertida em preventiva. O crime foi cometido na quarta-feira (2), na praça de alimentação do Plaza Shopping, onde foi detido por seguranças ao tentar fugir. A decisão é da juíza Rachel Assad da Cunha.

Testemunhas afirmaram que os dois, que eram colegas em um curso de enfermagem, estavam sentados na praça de alimentação quando Vitórya gritou “não”, tentando se afastar do agressor. Ele impediu que ela se levantasse, colocando a mão em seu ombro e a golpeou com a faca. Mesmo com Vitórya já no chão, ele seguiu a agredindo, e só foi parado por uma testemunha, que o imobilizou até a chegada dos seguranças do estabelecimento e da polícia.

“A gravidade da conduta é extremamente acentuada, já que o custodiado tirou a vida da própria amiga por quem, segundo informações dos autos, nutria sentimentos não correspondidos. Diversos são os casos de violência doméstica e feminicídio em que há a mesma motivação e, nos presentes autos, novamente, uma mulher teve a sua vida interrompida pelo comportamento do ora custodiado, que não aceitava a suposta rejeição”, destacou a magistrada na decisão.

De acordo com a juíza Rachel Assad, a crueldade e a ousadia do crime demonstram a inadequação do agressor ao convívio social. Ela destaca que nem o intenso movimento no shopping no horário do assassinato impediu que o jovem agredisse Vitórya diversas vezes.

“Assim, evidente a necessidade da conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva do custodiado como medida de garantia da ordem pública, sobretudo porque crimes como esse comprometem a segurança de moradores da cidade de Niterói, em especial do sexo feminino, que podem estar sujeitas ao comportamento violento do ora custodiado, impondo-se atuação do Poder Judiciário, ainda que de natureza cautelar, com vistas ao restabelecimento da paz social concretamente violada por sua ação”, concluiu.

Dados

Entre janeiro e abril deste ano, o Instituto de Segurança Pública (ISP) registrou assustadores 30 casos de feminicídio no estado do Rio. No mesmo período do ano passado, foram contabilizadas 86 tentativas de feminicídio, segundo revelam gráficos fornecidos ao Plantão Enfoco.

O ISP publica desde outubro de 2016, com periodicidade mensal, dados estatísticos relativos à incidência de feminicídio e de tentativa de feminicídio, cumprindo a lei nº 7.448 de 13 de outubro daquele ano. Veja:

Elaborado pelo ISP com base em informações da Secretaria de Estado de Polícia Civil
Elaborado pelo ISP com base em informações da Secretaria de Estado de Polícia Civil

Conforme ressalta o instituto, as vítimas contabilizadas nos índices feminicídio e tentativa de feminicídio também são contabilizadas nos títulos homicídio doloso e tentativa de homicídio, respectivamente, presentes nos dados oficiais divulgados mensalmente pelo órgão.

'Sendo assim, não se deve operar a soma de vítimas de feminicídio (ou de tentativa de feminicídio) com vítimas de homicídio (ou de tentativa de homicídio), pois se estaria incorrendo em dupla contagem de vítimas', esclarece em nota.

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