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    Niterói entre as cidades mais racistas do estado

    Publicado 19/11/2020 às 14:40 | Autor: Lislane Rottas
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    Niterói registrou 36 casos em 2019. Foto: Arquivo/ Pedro Conforte

    O Dossiê de Crimes Raciais, elaborado pelo Instituto Segurança Pública do Rio (ISP-RJ), foi divulgado, nesta quinta-feira (19), no Palácio Guanabara, na Zona Sul do Rio. Segundo Marcela Ortiz, diretora-presidente do ISP, a região central de Niterói foi uma que se destacou entre ocorrências de racismo no estado. 

    De acordo com o dossiê, em 2018 foram registrados 31 casos de discriminação racial na cidade. Já em 2019, esse número aumentou para 36, o que representa um aumento de 16%.

    A presidente do ISP atentou que esses números podem ser ainda maiores, pois o dossiê se baseou apenas em casos que tinham registro de ocorrência nas delegacias.

    "Esse é um estudo inédito e pioneiro. A elaboração é importante não só para nortear a criação de políticas públicas, mas para também aprimorar os instrumentos estatais que já existem", disse.

    De acordo com Ortiz, foram analisados três mil registros de ocorrência confeccionados entre 2018 e 2019 nas delegacias de todo o estado. 

    De acordo com o Dossiê, o município de São Gonçalo registrou 30 ocorrências em 2018 e 20 em 2019. Já em Maricá, foram 10 ocorrências no ano de 2018 e 11 no ano passado. 

    Fora da capital, dois municípios da Região Serrana chamara a atenção dos analistas. Em 2019, Teresópolis registrou 22 ocorrências, enquanto Petrópolis teve 17.

    A região que concentrou maior número de casos foi a zona oeste da cidade do Rio de Janeiro.

    Dados

    Segundo os dados divulgados pelo dossiê, 844 pessoas foram vítimas de discriminação racial no estado, um total de 70 por mês e duas por dia. 

    Um fato que chamou a atenção dos analistas do ISP foi que: quatro a cada dez vítimas de discriminação racial sofreram os crimes em ambientes públicos. Destes números, 90% eram negras com 58% de vítimas sendo mulheres.

    Segundo Márcia Noeli, titular da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), a partir das perspectivas apresentadas pelo ISP, a polícia vai conseguir trabalhar com as políticas públicas. 

    "A importância da vítima denunciar o agressor está diretamente ligada ao nosso trabalho. È preciso reforçar para a sociedade, que a polícia está comprometida em combater esse crime. A partir daí, vamos apurar, indiciar e se for o caso prender o autor", destacou. 

    No ano de 2019, a Decradi foi a delegacia com o maior número de atendimento de vítimas de discriminação racial.

    A Especializada foi procurada por 9,1% das vítimas que registraram esse tipo de crime, mostrando a importância da existência de
    uma unidade especializada para tratar de tal temática

    Perfil de das ofensas


    De acordo com Thiago Falheiros, analista do ISP, algumas palavras que constavam nos registros de ocorrências chamaram a atenção da equipe. 

    Expressões racistas mais identificadas nos registros de ocorrência. Foto Karina Cruz.

    "Palavras como macaca, macaco, negra, preto, preta, cabelo duro são as de maior destaque, devido à sua maior repetição dentro das dezenas de insultos contidos nos registros. O que se observa nas palavras em destaque é que os aspectos que constroem o fenótipo negro (cor da pele, formato do nariz, textura do cabelo), as religiões de matriz africana e a própria herança histórica de escravização foram os elementos utilizados para a depreciação das vítimas.", apontou. 

    Segundo o analista do ISP, Jonas Pacheco, dos três mil registros analisados, foram considerados crimes de discriminação racial aqueles cuja motivação do crime foi entendida como preconceito racial. 

    "A identificação da motivação do crime se deu após a leitura das dinâmicas dos fatos feita por policial civil da equipe do ISP. A vítima e as testemunhas estavam no banheiro do hostel. Enquanto a vítima tomava banho, foi surpreendida por um funcionário do estabelecimento que proferiu as seguintes palavras: ‘ESTÁ TOMANDO BANHO PRA QUÊ?… NÃO VAI DESCER SUJEIRA MESMO… VOCÊ É PRETO!’”.

    Analista do ISP, Jonas Pacheco contando relato de uma vítima.

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