Cidades

Niterói faz 447 anos ansiosa para voltar a sorrir sem máscara

Cidade vive o 'novo normal', estratégia para tentar frear a velocidade de contaminação do novo coronavírus. Foto: Douglas Macedo / Ascom Niterói

Por Cícero Borges


Niterói celebra neste dia 22 de novembro (domingo) 447 anos de emancipação em meio à pandemia imposta pelo novo coronavírus. A cidade, exigente por desenvolvimento e retomada econômica responsável, definiu em primeiro turno das eleições o prefeito para o exercício a partir de 2021. No lugar de bolo e festa, o niteroiense celebra cauteloso e atento os próprios passos, rumo a um futuro de incertezas, diante de uma pandemia em que a responsabilidade de cada um, aliada as estratégias do poder público, pode definir o destino da Cidade Sorriso, atualmente encoberta pela máscara.

Diferente de anos anteriores quando a cidade celebrava o 22 de novembro com festas de entregas de projetos, desta o próprio feriado foi antecipado. A decisão aprovada pela Câmara Municipal, em junho deste ano, determinou o fim do feriado esse ano.

Representante do setor comercial da cidade, o Sindicato dos Lojistas de Niterói (Sindilojas), informou que, em média, 15% dos estabelecimentos comerciais e de serviços no município fecharam de vez durante o período de isolamento social. O movimento chegou a ser de 60% a 70% menor, mas aos poucos, a situação apresenta melhora.

É o que mostra os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e compilados pela Federação das Indústrias do Estado do Rio (Firjan). O levantamento aponta que no mês de setembro deste ano já houve crescimento de 614 empregos gerados na cidade.

Segundo o levantamento a alta foi puxada principalmente pelo setor de serviços, com 376 contratações. No comparativo total entre agosto e setembro a alta foi de 62%, já que no mês anterior foram 379 empregos gerados com carteira assinada.

Gestão

Rodrigo Neves, Mercado Municipal de Niterói
De máscara, o prefeito Rodrigo Neves afirma que a pandemia foi um dos seus maiores desafios. Foto: Pedro Conforte

Pronto para passar o bastão ao próximo chefe na condução dos trabalhos à frente da prefeitura, Rodrigo Neves (PDT) explica que a pandemia foi um dos seus maiores desafios no comando do município, mas que com respostas rápidas e a adesão da população, a cidade se destacou no combate à doença.

"Criamos um grupo de resposta rápida ao coronavírus. Desde o início Niterói se destacou por tomar decisões rápidas com base na ciência e nas experiências internacionais. Fomos a primeira cidade do Brasil a fazer sanitização das comunidades e instalar um hospital exclusivo para o tratamento de Covid-19, além de testarmos massivamente a população. Conseguimos poupar mais de 1.500 vidas"

O prefeito também falou sobre como os setores econômicos da cidade vão estar na projeção da agenda do novo gestor e faz um balanço dos dois mandatos à frente do executivo municipal.

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Mercado Municipal, a grande aposta para a retomada econômica. Foto: Pedro Conforte

"Precisamos enfrentar os desafios da pandemia e da economia ao mesmo tempo. Trabalhamos muito no contexto da pandemia e por isso estamos tendo uma retomada mais forte e rápida que outras cidades do entorno. Entregamos neste dia 22 de novembro as obras de restauração do Mercado Municipal, projeto âncora da retomada econômica de Niterói. Em 2010, a cidade estava com o orgulho ferido e sem capacidade de investimentos. Depois de oito anos, deixo a administração da cidade com o sentimento de dever cumprido"

Axel assume prefeitura no ano que vem em um cenário de incertezas e desafios. Foto: Pedro Conforte

Assumindo o controle da cidade em meio à pandemia, Axel Grael diz que o problema de saúde mundial é um dos maiores desafios e que, mesmo assim, Niterói ainda tem motivos para comemorar.

"Quando as pessoas mais precisaram da gestão competente a prefeitura deu a resposta. Niterói foi premiada por uma instituição da ONU como destaque mundial no enfrentamento. Foi o maior desafio da nossa geração", comenta o prefeito eleito.

Axel afirma ainda vê no passado, através da gestão de Rodrigo Neves, referências para ajudá-lo a seguir o mesmo caminho.

"Dificuldades aconteceram, não temos dúvidas, mas a capacidade de retomada será mais fácil. O mundo todo passou por dificuldades nesse período. Os principais aprendizados foram sobre uma gestão que olha para a cidade como um todo, sem privilégios. Foi uma gestão baseada no planejamento, na ciência, com políticas mensuráveis e transparentes. Tivemos todo esses cuidados e seguiremos"

Histórico de vitórias

Ex-prefeito de Niterói na década 80, o médico, advogado e professor, Waldenir Bragança, passou por um dos seus maiores desafios quando era o responsável por gerir a cidade, em 1984. Então prefeito, Bragança explica que Niterói foi uma das primeiras cidades a sofrer um surto de dengue e que, mesmo com poucos recursos, conseguiu reverter a situação. O ex-chefe do executivo municipal também deu dicas ao novo gestor quando assumir o próximo mandato e faz uma análise com a perspectiva do futuro do município.

waldenir bragança - rede social

"A cidade já mostrou que soube lidar com esse período difícil e espero que o Axel consiga trabalhar com condições para que a pandemia não avance ainda mais. Eu era prefeito quando começaram os primeiros casos de dengue em 1984. Não tivemos um caso de óbito na cidade. Buscamos ajuda e demos o tratamento certo, com as pessoas certas. Nunca passamos por um problema como esse [da pandemia]. Está sendo um desafio!", comenta do alto dos seus 89 anos de idade.

Waldenir Bragança

Segurança ajustada

Ajustes foram necessários para garantir a segurança frente à pandemia. Foto: 12º BPM / Divulgação

O desafio de enfrentar a pandemia também esbarra na segurança da cidade. À frente do 12º Batalhão de Polícia Militar de Niterói, desde 2019, o coronel Sylvio Guerra, explica que em 2019 foi responsável por unificar algumas frentes de trabalho em relação à segurança na cidade. Segundo ele, a unificação de forças, com programas com RAS, Proeis e Niterói Presente, fizeram a diferença no combate à criminalidade.

"Essas forças não se comunicavam entre si e fiz questão de trazer pra dentro do batalhão. Houve um marco dessa iniciativa onde iniciamos uma parceria com a prefeitura focada na segurança da cidade. Tivemos ações também na aproximação do batalhão com a sociedade de Niterói, onde fui muito bem acolhido, já que sou morador há 50 anos da cidade", revela o comandante.

Para esses 447 anos, o responsável pelo 12º BPM explica que precisou ajustar o ponteiro do relógio para que as marcas alcançadas no ano anterior não se transformassem em meros dados estatísticos.

"Infelizmente esse aniversário não será comemorado como antes, com festas e aglomerações. Começamos a fazer uma adaptação porque tudo é muito novo e foi preciso uma modificação diária de policiamento e procedimentos junto aos policiais para não brigarmos com os números que conseguimos, já que foram muito positivos em 2019. Estamos perto do final do ano, um ano diferente no mundo, mas com muita determinação"

Sylvio Guerra, coronel e comandante do 12º BPM

Desejo ao soprar as velas

Nos 447 anos da cidade o cenário ainda é de incertezas. Foto: Pedro Conforte.

Estudante de nutrição, Ana Clara Medeiros, 19, faz aniversário junto com a cidade e conta que não vê a hora da retomada do ritmo. Segundo ela, voltar à rotina significa, em sua visão, fazer com que a cidade sorria sem máscaras.

“Niterói foi uma das cidades que melhor se preparou para a pandemia. Espero que isso aconteça da melhor forma possível e que as coisas voltem à normalidade, que os alunos voltem a ter aulas de forma presencial, que os empresários voltem a ter sua renda como antes e que Niterói volte a ser a Cidade Sorriso, sem a máscara!”

Ana Clara Medeiros, 19, estudante de Nutrição, moradora de Icaraí.

Marcelo Pinto, de 61 anos, não acredita que a solução definitiva para conter o coronavírus venha em 2021, mas há esperança.

"Não acredito que a solução de todos os problemas apareça em 2021, creio que isso seja descoberto ao longo dos anos. Mas temos que ter esperança que nós juntos iremos superar esse momento difícil e voltar a sorrir. A máscara é um item obrigatório, mas tira a alegria dos moradores da Cidade Sorriso”

Marcelo Pinto, 61, aposentado, morador do Jardim Icaraí

Apesar do face-shield cobrir o rosto e esconder a expressão, Joana Monteiro, de 21 anos, é otimista.

“Acreditamos em uma Niterói mais feliz em 2021. O que dificulta mesmo é que as pessoas acabaram relaxando um pouco e andam tranquilamente pelas ruas sem máscara. Sou uma pessoa muito otimista e creio que a vacina sairá logo e poderemos ter um ano de mais tranquilidade e com melhorias na condição de vida dos moradores de Niterói”

Joana Monteiro, 21, auxiliar administrativ,a moradora do bairro Maria Paula.

Colaborou Ezequiel Manhães

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