Comportamento
Jovens de Niterói e São Gonçalo viram a chave e lideram negócios
Geração Z representa 6% dos empreendedores no estado

De óticas a doces artesanais, de produtos de beleza a vidraçaria, jovens de Niterói e São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, vêm ocupando espaço no mercado com ousadia, criatividade e velocidade na conquista de clientes, muitas vezes usando apenas o celular como vitrine e a própria casa como sede do negócio.
Flexibilidade, independência e impacto social estão entre os motores da geração Z. Atualmente, 6% dos empreendedores do estado do Rio têm até 29 anos, segundo levantamento do Sebrae Rio com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad-C/IBGE), divulgado em julho deste ano. O estudo mostra ainda que seis em cada dez donos de pequenos negócios dessa faixa etária são homens.
A maioria atua no setor de serviços (69%) e no comércio (17%), seguida por construção (6%), indústria (5%) e agropecuária (2%). Mas o início não é fácil: 84% são informais, têm renda média de pouco mais de R$ 2 mil e apenas 3% empregam outras pessoas, ainda conforme a pesquisa.

Para alguns, como o empresário Carlos Vinicius Severo Maciel, de 34 anos, a presença digital virou questão de sobrevivência. Dono de uma vidraçaria em Icaraí, ele afirma que a tecnologia foi decisiva para o crescimento do negócio.
"A implantação de ferramentas de IA agilizou nossos atendimentos, melhorou a comunicação com os clientes e trouxe mais precisão para cada orçamento”, observa.
Ele diz que construiu a empresa com uma visão ampliada, e tem dado certo.
"Começamos com pouco capital, mas com muita coragem, determinação e vontade de vencer. Foi na fé, no trabalho duro e na persistência que transformamos um início simples em uma trajetória de crescimento e conquista", pontuou.
Rotina que não para

Outro exemplo é o publicitário Rafael Lourenço de Sousa, de 29 anos, morador de São Gonçalo. Ele divide a rotina entre o emprego formal, treinos e a administração de uma loja virtual de doces criada com a tia. E lembra que tudo começou em 2023.
“Decidi começar a empreender com o intuito de ajudar minha tia, que é a produtora dos doces e na época estava desempregada. Hoje é a minha segunda fonte de renda, mas quero trabalhar para ser a principal”, conta.
A familiar do jovem sempre fez doces de forma recreativa, só para reuniões de família e festas de final de ano. Mas Rafael, o sobrinho, viu potencial comercial e investe pesado nas ações de marketing e entregas dos produtos.
“Pensei, ‘por que não propagar algo bom em forma de venda?’... eu sabia que o produto era de extrema qualidade e por si só. E só com a apresentação, ele já se venderia sozinho. Depois da primeira mordida, a fidelização dos clientes era quase que 100% garantida”, revelou de forma bem-humorada.
A aposta deu certo: primeiro dia, 20 vendas. No segundo, cerca de 30. Hoje, a marca entrega cerca de 200 doces por semana, além de encomendas para empresas, festas e comércios, e reúne centenas de seguidores.

A trajetória de Roberta Ferreira de Lemos, de 32 anos, também começou de forma simples. Moradora de Itaipuaçu, ela mantém uma ótica em São Gonçalo há dois anos e está prestes a abrir a segunda loja mais perto de casa.
"Com 18 anos trabalhei como recepcionista numa ótica, e ali fui convidada a fazer um curso técnico de optometria. Na época, eu também fazia faculdade de Pedagogia pela UFF... comecei na garagem da casa dos meus pais... Quando finalizei a faculdade e ganhei mais conhecimento atendendo um público mais elitizado, eu abri minha loja", revela.
Roberta também diz que usa as redes sociais para trabalhar, e que a humanização dos seus conteúdos faz a diferença:
"Eu falo dos óculos, de tendências, mas utilizo muito contando a minha história e o meu dia a dia para criar essa conexão com o cliente", diz.
Negócios
De acordo com o Sebrae Rio, o Brasil tem 66,4% dos empreendedores na informalidade; no estado, são 68,9%. Mas a formalização faz diferença, como aponta Antonio Alvarenga, diretor-superintendente da instituição: ela pode triplicar a renda e ampliar acesso a crédito, benefícios fiscais e novos mercados.
A renda média dos donos de negócios formais fluminenses é quase 3x maior do que a renda das atividades informais. O empreendedor formal adquire benefícios fiscais, acessa novos mercados, negocia melhores contratos com fornecedores, tem acesso a crédito diferenciado e garantias previdenciárias
Criatividade

A maioria dos jovens empreendedores começa com pouco capital e depende da própria comunicação para atrair clientes. Tatiana Cupti, de 39 anos, tem a própria loja de roupas e começou a empreender após ser demitida de uma empresa de telecomunicações.
"Sempre gostei de moda... Em 2013, eu passei em frente à Feira de Petrópolis, no Centro de Niterói, e olhei pro local com olhar empreendedor... Ali nasceu a minha empresa, que completa 13 anos em breve."
Em seu negócio, ela observa que quando usa e divulga um produto, a saída aumenta muito.
"Levo isso como a maior divulgação atualmente. Minha meta é uma loja mais ampla, para aumentar a experiência de compras das minhas clientes", enfatiza.

Já Amanda Carter de Paula, 36 anos, virou maquiadora em Niterói após identificar, na faculdade de Administração, que o mercado da beleza tinha alto potencial.
"Eu já gostava muito da área de maquiagem, então comecei a me especializar... e comecei a fazer meus primeiros trabalhos", explica.
Ela conta que o carro-chefe do negócio é produção de noivas.
"No dia de noiva faço maquiagem, penteado na noiva, enquanto outra profissional faz as acompanhantes e tenho na minha equipe uma massoterapeuta/esteticista, justamente uma estratégia para deixar o dia de noiva comigo mais atrativo. As redes sociais influenciam muito, pois pelo tempo que tenho de profissão, se transformou em uma grande vitrine do meu trabalho", argumenta.
O que explica esse crescimento?
Especialistas apontam que a digitalização, o aumento de cursos de capacitação e o desejo de autonomia financeira têm papel central nessa onda de novos empreendedores.
“A geração Z pensa na construção do seu futuro com atitude, consciência e propósito. Para o negócio expandir é preciso buscar capacitações que possam fazer essa diferença. A educação transforma e é um projeto de vida. Por isso apostamos em um aprendizado contínuo além das salas de aula, impulsionando o crescimento empreendedor e pessoal”, pontua Antônio Kronemberger, gerente de Educação do Sebrae Rio.

Ezequiel Manhães
Redator
Jornalista com experiência em hard news e produção audiovisual, tendo como foco reportagens factuais, especiais e conteúdos multimídia. Atua com rapidez, comprometimento e precisão na apuração, tendo como destaques coberturas de temas como política, economia, cidades, segurança pública e comportamento.

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