Qualificação
Quilombo de Niterói receberá apoio para atrair turistas; entenda
Suporte será oferecido em parceria pela Embratur e o Sebrae
Um dos mais tradicionais espaços de cultura negra do Rio de Janeiro, o Quilombo do Grotão, no Engenho do Mato, Região Oceânica de Niterói, participará de um processo de qualificação do território, com foco na ampliação da presença digital, numa ação promovida pela Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur) em parceria com o Sebrae. O objetivo é atrair um número cada vez maior de turistas estrangeiros.
O Quilombo do Grotão promove uma série de atividades, desde oficinas com ervas medicinais para a produção de sabonetes a aulas de percussão, capoeira e artesanato, e desde 2003 se tornou um espaço de referência para o samba e a gastronomia.
"A ação faz parte do nosso projeto de aumentar a performance comercial de micro e pequenas empresas do setor de turismo com o uso de ferramentas digitais gratuitas ou de baixo custo, como Google e TikTok. A meta é ampliar o alcance de produtos e serviços, qualificar ofertas e aumentar a receita dessas pequenas empresas. Essas plataformas digitais são fundamentais porque impactam diretamente o turista estrangeiro", explicou o presidente da Embratur, Marcelo Freixo.
A iniciativa do EmbraturLAB, braço de inovação e tecnologia da Agência, visa capacitar iniciativas de turismo de base comunitária que ofereçam experiências essencialmente ligadas à cultura brasileira e sua relevância para o setor internacional. E o Quilombo do Grotão foi escolhido justamente por esta importância, ao lado de destinos como Lençóis Maranhenses, Belém do Pará, Pantanal, Cânions de Santa Catarina e Foz do Iguaçu, o segundo destino brasileiro mais procurado pelos turistas estrangeiros depois do Rio de Janeiro.
“É um troféu que nossa comunidade está ganhando. É um reconhecimento do nosso trabalho, da nossa história e da nossa importância para este território e para toda a região de Niterói. Atrair mais turistas é fundamental para a nossa subsistência, mas também para que as pessoas conheçam cada vez mais o nosso trabalho, a nossa jornada e levem consigo para os seus destinos e reproduzam estes saberes pelo mundo afora”, explica José Renato Gomes da Costa, o Renatão do Quilombo, neto de Manoel Bonfim e Maria Vicência, que há 100 anos chegaram ao Grotão para ocupar aquele território.
O QUILOMBO DO GROTÃO
A história do Quilombo do Grotão remonta ao início do século passado. No início dos anos 20, Manoel Bonfim e Maria Vicência, descendentes de negros escravizados em Sergipe, deixaram o Nordeste para trabalhar na Fazenda Engenho do Mato, de Irene Lopes Sodré, que produzia farinha, banana prata e hortifrutigranjeiros em larga escala.
Na década de 50, o negócio faliu, e Manoel e Maria ganharam cerca de dois alqueires e meio de terra, além de duas mil mudas de banana para recomeçar a vida, a título de indenização da família Sodré.
Nos anos de 1960, o Estado interveio para redividir as terras e assegurar que a família de Manoel e Maria permanecesse na terra que produzia três toneladas de bananas para niteroienses e gonçalenses. No início dos anos 2000, a família travou mais uma batalha pela terra, evitando que a comunidade fosse extinta após nova delimitação da área para a proteção ambiental, exigida após a criação do Parque Estadual da Serra da Tiririca.
Depois de resistir por 55 anos, o Quilombo do Grotão precisou travar a sua mais dura batalha pela permanência em 2003. Os moradores precisaram se organizar após a criação do Parque Estadual da Serra da Tiririca, em 1991, para evitar que a comunidade fosse extinta com a nova delimitação de área para a proteção ambiental.
Foi então que Renatão decidiu criar a hoje famosa roda de samba com a tradicional feijoada que há 20 anos garante a permanência da família no território, que em 2016 foi oficialmente certificado como quilombo pela Fundação Palmares, do Ministério da Cultura, que atua na preservação da cultura afrodescendente.
O Quilombo do Grotão, atualmente, é também Ponto de Cultura certificado pela Rede Cultura Viva de Niterói, que faz o mapeamento de toda a produção cultural da periferia do município, com o objetivo de aumentar a interlocução entre a prefeitura e as ações realizadas em nível local.
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