Sem aula, alunos do Pedro II de Niterói temem não se formar

Há quase dois meses sem aula, os estudantes do Colégio Pedro II, na Região Metropolitana do Rio, enfrentam um cenário de incerteza acerca do seu futuro acadêmico. A greve, mobilizada pelos servidores de boa parte das instituições federais do Brasil, iniciou-se no dia 3 de maio e, até o momento, não há previsão de retorno das atividades escolares.

A rede do Colégio Pedro II possui cerca de 12 mil estudantes que estão sendo afetados pela paralisação. Uma delas é Maria Clara Linhares, aluna do 3º ano do ensino médio do campus do Barreto, na Zona Norte de Niterói. A jovem de 17 anos, moradora de Itaboraí, também na Região Metropolitana, relata o desespero de não ter nenhum posicionamento oficial da instituição sobre um possível retorno.

Muitos alunos estão bem abalados e tristes com a falta das aulas.

"Estou procurando não me abalar tanto com essa situação toda, mesmo sendo muito difícil o momento em que estamos passando. E percebo também muitos alunos que estão bem abalados e tristes com a falta das aulas. Não houve nenhuma comunicação oficial sobre uma possível data de retorno e isso é algo que mais nos preocupa", desabafa ela.

O tempo passa, e para os estudantes prestes a realizar o Enem, como Maria Clara, o medo de não conseguir se formar este ano também é algo presente. 

Temo por não conseguir o meu diploma nesse ano e ter que 'refazer' o terceiro ano no ano que vem.

"Sempre me lembro que podemos ter um impacto muito grande no término da nossa vida acadêmica, e sim, temo por não conseguir o meu diploma nesse ano e ter que 'refazer' o terceiro ano no ano que vem, assim como todos os alunos do Pedro II, infelizmente", acrescenta.

Sem saber quando as aulas vão retornar, os estudantes estão tendo que arrumar estratégias para se preparar para a prova do Enem, prevista para acontecer nos dias 3 e 10 de novembro. Este é o caso de Anna Vitória Silva, também do 3º ano do campus Barreto e residente em São Gonçalo, cidade vizinha.

Eu pensei até mesmo em mudar de escola, para não me prejudicar, mas e se elas voltarem?

"Ninguém sabe o que fazer por não ter previsão de voltar às aulas. Eu pensei até mesmo em mudar de escola, para não me prejudicar, mas e se elas voltarem? Você fica sem escolhas. Consegui um pré-vestibular online, mas sem as aulas presenciais, é um desafio conseguir estudar com constância. Não sei nem se vou conseguir me formar esse ano", afirmou ela.

 O que dizem os professores

De acordo com a direção do Sindicato dos Servidores do Colégio Pedro II (Sindscope), "a greve foi aprovada por tempo indeterminado". Eles destacam, ainda, que embora entendam as dificuldades dos alunos, a paralisação tem apoio dos grêmios e coletivos dos responsáveis. 

Todos os comandos locais de greve, organizados em todos os campi do Colégio, se reúnem com pais e responsáveis.

"É normal que alguns estudantes e suas famílias tenham dificuldades de entender o movimento grevistas dos trabalhadores da educação. Mas é importante destacar que temos o apoio dos grêmios estudantis do Colégio Pedro II e de coletivos de pais e responsáveis. Todos os comandos locais de greve, organizados em todos os campi do Colégio, se reúnem com pais e responsáveis como também realizaram diversas atividades de greve com caráter acadêmico-pedagógico, esportivas, culturais e artísticas", destacou a diretoria em nota ao ENFOCO. 

Reivindicações

Os professores estão em greve devido às suas reivindicações por reposição das perdas salariais, que foram apresentadas no início deste ano. Os técnicos administrativos (TAEs) afirmam que suas perdas salariais resultaram em uma redução do poder de compra em 53%, enquanto os docentes argumentam uma redução de 38,9%.

Diante disso, o governo propôs aumentos graduais nos próximos anos, com um reajuste de 0% em 2024 para os TAEs e docentes, 9% em 2025 para os TAEs e 3,5% para os docentes, seguido por 5% em 2026 para os TAEs e 3,5% para os docentes. No entanto, considerando que o IPCA de 2023 foi de 4,62%, os professores argumentam que a reposição mínima da inflação deveria ocorrer já em 2024.

Revogação do Novo Ensino Médio

Além disso, suas demandas incluem a revogação do Novo Ensino Médio, da Portaria 983, a realização de novos concursos públicos e a ampliação das verbas para os institutos federais.

Procurado, o Ministério da Educação não havia se pronunciado sobre as paralisações nem sobre o possível retorno das atividades até a postagem desta matéria.