'Pesou o bolso'
Tá salgado! Ceia de Natal dispara em Niterói e clientela dá jeitinho brasileiro
Substituição de produtos tem sido comum em mercados da cidade
A alta de quase 10% nos preços dos produtos típicos da ceia de Natal em todo o Brasil, neste ano, na comparação com 2023, conforme mostra o levantamento da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), tem doído no bolso da clientela.
Em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, moradores já relatam os impactos nos custos ao planejarem as celebrações de fim de ano, e têm adotado o típico 'jeitinho brasileiro' para driblar o encarecimento do menu natalino.
A dona de casa Elisângela Silva, de 42 anos, por exemplo, afirma que não conseguiu escapar dos preços mais altos neste ano. Moradora do Fonseca, na Zona Norte da cidade, e mãe de dois filhos, ela desabafa sobre a dificuldade de realizar as compras para a ceia.
Substituição de produtos
Tive que cortar o chocotone
“Eu sempre faço questão de preparar uma ceia bonita, mas este ano está difícil. O bacalhau, que minha família adora, está muito caro. Além disso, as frutas secas, que são tradição na mesa, estão absurdas. Tive que cortar o chocotone porque é um luxo que não cabe mais no meu orçamento”, contou Elisângela.
Troquei o peru por frango
Ela também precisou substituir alguns produtos. “Troquei o peru por frango, que também subiu de preço. Parece que não podemos nem mais comemorar em família”, lamentou.
'Difícil manter a tradição'
O bancário Rafael Moreira, de 37 anos, morador de Santa Rosa, na Zona Sul, também enfrenta dificuldades para fazer as compras. Ele, que costuma reunir a família para a ceia em sua casa todos os anos, afirma que, neste Natal, está difícil manter a tradição.
Nem o espumante escapou!
“Eu gosto de reunir a família na ceia, mas tudo encareceu. O pernil e o lombo, que são os alimentos que mais consumimos, estão muito mais caros que no ano passado. Nem o espumante escapou! E com os salários que não acompanham esses aumentos, fica difícil manter a tradição”, explicou.
Aumento nos preços
A Abras projeta que os preços continuarão subindo até o Natal, com um aumento acumulado de até 12% em todo o país. Já a Associação dos Supermercados do Estado do Rio (Asserj) também aponta um crescimento de 10% nos preços, mas concentrado na Região Fluminense.
A cesta de produtos típicos de fim de ano, como aves, panetones, pernil e espumantes, atingiu um preço médio de R$ 345,83 no Brasil, representando um aumento de R$ 24,70 em relação a 2023. Os itens com os maiores reajustes foram o bacalhau (18,8%) e as nozes e castanhas (16,3%).
A Asserj destaca que os produtos importados foram os mais impactados pelos reajustes neste Natal devido à alta do dólar. Itens como bacalhau, castanhas, vinhos e azeite, que dependem da variação cambial, tiveram aumentos significativos.
“Em caso de aumentos expressivos, a Asserj recomenda que os consumidores optem por substituições, escolhendo produtos mais acessíveis que se adequem ao seu orçamento”, orienta a entidade.
Outros aumentos
Outros produtos também tiveram reajustes significativos, como o pernil (15,3%), chocolates (13,6%) e carne bovina (13,5%). Proteínas como peixes (12,5%), lombo (12,9%), chester (11,7%), tender (11,5%), frango (10%), peru (10%) e ovos (7,5%) também registraram aumento.
Nos itens doces, além dos chocolates, os biscoitos subiram 12%, enquanto o panetone e o chocotone tiveram reajustes de 9,8% e 8,4%, respectivamente. Entre as bebidas, destacam-se os aumentos no vinho, destilados (11,1%), refrigerantes (10,9%) e espumantes (10,7%).
Pesquisa de preços em Niterói
Após relatos de leitores, ENFOCO reuniu pesquisa de preços dos sete principais alimentos típicos da ceia natalina em Niterói: Chester, Peru, Fiesta, Panetone, Rabanada, Maionese e Leite Condensado.
Em três grandes supermercados da cidade e, com base nos valores encontrados pelos próprios consumidores, foi calculada a média geral dos preços de cada item. Confira o balanço completo abaixo.
Média de preços em Niterói
Chester: R$ 128,33
Peru: R$ 187,80
Frango Fiesta: R$ 102,00
Panetone: R$ 23,33
Rabanada: R$ 8,67
Maionese: R$ 12,50
Leite Condensado: R$ 7,80
Especialistas explicam o aumento
Para Gilberto Braga, economista e professor da IBMEC, o aumento nos preços dos alimentos para a ceia de Natal de 2024 é reflexo de fatores tanto globais quanto locais.
O consumidor vai pagar mais por itens mais sofisticados
"O dólar aumentou aproximadamente 24% entre dezembro do ano passado e dezembro deste ano, e o câmbio sozinho provoca um aumento dessa magnitude quando repassado para o preço final desses produtos. O consumidor vai pagar mais por itens mais sofisticados", afirma Braga.
Além disso, o estudioso aponta que questões climáticas internas, como enchentes e queimadas, prejudicaram a produção de vários itens típicos da ceia, como frutas, que estão "bem mais caras do que nos anos anteriores".
Essas questões serão cada vez mais frequentes
"As cheias, enchentes e queimadas atrasaram e encareceram vários itens natalinos. Essas questões serão cada vez mais frequentes e, embora não possamos prever a continuidade exata de cada produto, o efeito geral do descaso com a sustentabilidade impacta diretamente o bolso do brasileiro", explica Braga.
Sazonal ou tendência?
Já Roberto Luís Troster, doutor em Economia pela USP, observa que a alta dos preços neste Natal é impulsionada principalmente por dois fatores: "o crescimento da demanda" e "o dólar alto".
Quanto mais alto o dólar, mais altos os preços desses produtos
"A economia brasileira está crescendo, o emprego está em nível histórico, o que aumenta a renda para consumo e, com isso, pressiona os preços. O segundo fator é o dólar: muitos alimentos são influenciados pelo mercado internacional. Quanto mais alto o dólar, mais altos os preços desses produtos", explica Troster ao ENFOCO.
Embora o aumento de preços possa ser sazonal (temporário), devido a variações na safra e no clima, ele reforça que a questão também depende da condução da política econômica.
O governo tem o poder de corrigir isso a tempo
"A alta sazonal de alguns produtos, devido à safra e ao clima, provoca flutuações de preços que geralmente retornam à média rapidamente. Se essa alta será duradoura ou não, depende da política econômica e cambial. O governo tem o poder de corrigir isso a tempo", finaliza Troster.
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